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Após a morte de seu fundador, a Oscar de la Renta começa um novo - e bom - capítulo

Crítica de moda do Washington Post e ganhadora do Prêmio Pulitzer, Robin Givhan divide suas impressões positivas sobre a estreia de Peter Copping à frente da marca na NYFW

Por Robin Givhan
Atualização:
 Foto: Jennifer S. Altman/The New York Times

À medida que os convidados chegavam para a estreia de Peter Copping como diretor de criação na Oscar de la Renta, eles notaram uma mudança no espaço tradicional de desfile na sede da companhia na 42nd Street, em Nova York. Em vez de flores formando o pano de fundo para a estreita passarela, havia espelhos em toda a extensão, dispostos em ângulos. Com isso, era possível vislumbrar as roupas antes de elas realmente surgirem do fundo do palco para a luz. E assim, a plateia recebeu uma espécie de advertência do que viria. A intenção na terça-feira à noite não era chocar, mas tranquilizar. Copping apresentou uma coleção que estava em eloquente sincronia com as tradições e estéticas da casa. Ele ofereceu blazers justos, vestidos delicados e longos exóticos. E, em tudo, expressou um compromisso inabalável e irrestrito com a beleza feminina.

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A estreia foi doce e amarga. Em outubro de 2014, de la Renta anunciou que havia contratado Copping – um estilista britânico que estava trabalhando em Paris com Nina Ricci – como seu sucessor. O plano era que o jovem trabalhasse junto com o estilista mais velho para se familiarizar com a companhia e com seus clientes fiéis. Mas de la Renta, de 82 anos, morreu antes do primeiro dia de trabalho da dupla e antes de sua tutela começar. Assim, Copping teve de encontrar o próprio caminho – e buscar compreender sozinho tanto a marca como o homem que a fundara. “Estou imensamente orgulhoso de ter sido escolhido como diretor de criação da Oscar de la Renta”, escreveu Copping, em uma nota deixada no assento de cada convidado. “Infelizmente, as coisas não saíram de acordo com nossos planos e não tive a chance de trabalhar com Oscar, algo que lamento profundamente. Nesta minha primeira coleção, espero honrar o legado de Oscar e também começar um novo capítulo para a casa.”

Como empresa, a Oscar de la Renta ocupa um espaço rarefeito. Ela continua a ser uma das últimas casas de design americanas nascida nos anos 1960, quando a Sétima Avenida estava se tornando um lugar de criatividade e não apenas um bairro encardido que produzia imitações. Oscar de la Renta – o homem – ajudou a estabelecer a moda americana como a chegamos a conhecer através de sua ambição, talento e acuidade social. Ele empregou essas três qualidades com carisma e graça até o fim. Vestiu as damas de Park Avenue e Georgetown, além de candidatas a estrelas de Hollywood e pop stars nomeadas para o Grammy. Fez vestidos de noiva para as filhas dos presidentes Bush e Clinton e para noivas de astros do cinema, entre elas, Amal Clooney. Planejou o guarda-roupa de socialites e poderosas. E suas roupas foram preferidas por uma série de primeiras-damas – incluindo, nos últimos tempos, Michelle Obama – e também por mulheres que aspiraram ao cargo. A ex-secretária de Estado Hillary Clinton falou durante o velório do estilista.

Esse legado incomparável foi oficial e publicamente transferido a Copping quando a primeira modelo entrou na passarela. Ele começou esse novo capítulo na história da companhia com um casaco de preto, de feitio simples, mas com bordado de contas. Prosseguiu com blazers de tweed quadriculados em vermelho com saias combinando, um tailleur curto azul marinho e preto, e vestidos diurnos femininos com estampa azul rosada. De bom gosto. Elegante. Bonito. O ajuste e construção das roupas eram precisos – uma ode ao ateliê Oscar de la Renta. Os homens e mulheres por trás da cena ajudaram a produzir o tipo de glamour refinado que cai bem na cena política e no circuito beneficente.

No entanto, foram os vestidos de coquetel e os longos que trouxeram mais de experimentação e ousadia. Pode-se notar a influência do tempo de Copping na Nina Ricci, uma casa com uma história em lingerie. Copping trouxe um pouco daquela sensualidade de boudoir para seu novo lar profissional. Seus longos tinham, com frequência, uma cintura tipo corset com uma inserção de pura renda traçando as vértebras. Ele realçou o ventre com corpetes de fita em vários vestidos, mas se absteve de revelar a pele nua inserindo uma fina tela de renda no torso. Seu penúltimo vestido foi um modelo de baile suntuoso, numa combinação de azul marinho, bordô e verde fosco. A peça demonstrou a disposição de Copping de adotar uma abordagem cortês da feminilidade. Mostrou também seu sofisticado senso de cor. Aliás, um de seus visuais mais marcantes foi um vestido de cetim violeta coberto por um casaco de visom com blocos de cores em tons de cobre e castanho.

As mudanças na Oscar de la Renta sob a direção de Copping são sutis, mas perceptíveis. Há um quê de mais esportivo e um pouco mais de despreocupação no estilo. Em geral, porém, Copping apresentou uma coleção que é sinceramente respeitosa ao nome de Oscar de La Renta – o que ele construiu e quem ele era. Poucos estilistas conseguem ganhar a confiança de um leque tão amplo de mulheres. Poucos ateliês de moda que vendem vestidos de US$ 5.000 e US$ 6.000 conseguem atender aos padrões de ambos os lados do espectro político, com Laura Bush e Hillary Clinton sentido-se igualmente confortáveis vestindo estas roupas caras e discutindo-as sem reservas. Oscar era legal. Seu glamour totalmente comprovado, majestoso, mas reservado. Uma espécie de moda que cortesmente recuava quando uma mulher entrava sob os holofotes.

Quando de la Renta entrava na passarela para seus agradecimentos, ele com frequência surgia acompanhado por duas modelos. O estilista tinha um jeito único de posicioná-las bem à frente dele. Queria ficar em segundo plano de suas roupas. De suas damas. E talvez seja por isso que seu trabalho foi tão bem recebido pela classe dirigente. De la Renta sabia como realçar as qualidades das mulheres; sabia que não devia brilhar mais do que elas ou envergonhá-las.

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Copping já mostrou seu talento para o terno feminino e o vestido de baile glorioso. Ele compreende claramente os desejos estéticos do cliente de Oscar de la Renta. Reconhece que a longevidade da companhia foi construída com base na sua capacidade de avançar sem perder sua natureza essencial. A questão maior é: Copping conseguirá trilhar seu caminho pelo complexo emaranhado de inseguranças, desejos e brigas internas da elite do poder – e continuar mantendo seu bom visual? Oscar de la Renta foi um criador de padrões. Ele moldou a moda americana numa indústria e um conceito que se estendeu além das meras roupas.

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