Análise: Qual é o papel de uma semana de moda na era das redes sociais?

Desfiles formatados para o Instagram e celebridades na fila A marcaram a Semana de Moda de Nova York

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Por Jorge Grimberg
Atualização:
Nos desfiles, os espectadores registram tudo com seus celulares Foto: REUTERS/Amr Alfiky

A crise no mundo da moda não acontece apenas no Brasil. Nos EUA, com o governo Trump, a fragilidade do varejo e a emigração de grandes nomes da semana de moda para Paris – como Laura e Kate Mulleavy, da Rodarte, e Jack McCollough e Lazaro Hernandez, da Proenza Schouler, além de Tom Browne e Joseph Altuzarra – criaram uma relevante discussão na imprensa sobre a importância da semana de moda local, assim como ocorreu entre os insiders da indústria em São Paulo. 

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Nova York sempre foi mais comercial que Paris, onde desfilam as grandes maisons. O ar sofisticado da cidade, além do fato de haver desfiles menores e mais disputados, encantam o público ligado à moda. Além disso, Paris é sede dos dois maiores grupos de luxo do mundo, LVMH e Kering, donos de marcas como Louis Vuitton, Balenciaga, Dior e Saint Laurent. 

Interessante notar que, num movimento inverso, os príncipes da moda novaiorquina, Marc Jacobs e Alexander Wang, que até pouco tempo atrás ocupavam papel de destaque na França – Jacobs foi diretor criativo da Vuitton e Wang da Balenciaga –, deixaram seus cargos para focar em suas marcas homônimas, justamente no período tão sensível da moda norte-americana. 

Após mais de 130 desfiles, ocorridos ao longo de 7 dias, a questão que mais pairou no ar foi: qual é o real papel da semana de moda e para onde estamos indo? Os desfiles hoje são formatados para o Instagram, e a presença de celebridades, como, por exemplo, Selena Gomez na Coach – com quem assina uma bolsa – e Nicole Kidman e Naomi Watts na Michael Kors, geram mais repercussão do que a moda em si. 

A moda mudou. A marca mais relevante hoje de Nova York talvez seja a Supreme, que comunica com o jovem, não tem desfile e criou um culto em volta de produtos em edição limitada, que chegam semanalmente à sua loja no SoHo, causando filas e revendas na internet por valores muito mais altos do que os praticados no varejo. Enquanto isso, grandes grifes fecharam suas lojas emblemáticas, como é o caso da Ralph Lauren da Madison Avenue e do império de Marc Jacobs na Bleecker Street, ambos perdendo espaço para essa nova moda, mais inclusiva e digital. 

Assim como em São Paulo, Nova York precisa de uma semana de moda. Ela pode ter perdido um tanto de seu status, mas ainda é uma enorme geradora de emprego, fomentadora cultura e, é claro, uma plataforma poderosa para novos estilistas. O desfile está se transformando, mas não perde a relevância. A discussão é válida e continuará importante nas próximas temporadas. 

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