A vez dos selfies glamourosos

Fotógrafos profissionais são contratos para fazer retratos elaborados para os perfis das redes sociais

PUBLICIDADE

Por Alex Williams
Atualização:
Gina DeVee pagou a um fotógrafo 3.500 dólares para ele criar fotos de revista para os seus perfis no Facebook e Twitter Foto: The New York Times

Com uma calça de couro preta e uma capa por cima, ela se reclinou sobre uma poltrona de veludo sob um teto coberto de afrescos numa villa florentina do século 19, tendo ao seu lado um especialista em penteados e maquiagem, enquanto o fotógrafo clicava sem parar. A modelo não era uma profissional de 5 mil dólares por dia da Elite Model, mas Gina DeVee, uma coach de sucesso de 41 anos, de Montecito, Califórnia. Ela pagou a um fotógrafo 3.500 dólares para ele criar fotos de revista para os seus perfis no Facebook e Twitter e para o seu site profissional. O objetivo, afirmou, é criar “um buzz sobre sua marca pessoal”. “Este negócio não é apenas para J. Lo”, disse, “eu adoro ser uma celebridade na minha vida particular”. Parece que existem certos momentos em que um iPhone e um braço esticado não são suficientes.

PUBLICIDADE

Em uma era em que a mídia social deu a cada um de nós uma persona própria para dourar, alguns amadores digitais estão levando um pouco mais adiante a administração da própria imagem online. Para tanto, não poupam gastos para se mostrarem em fotos icônicas em seus perfis no Facebook e no Twitter que poderiam perfeitamente ser capas da Vogue - realmente selfies glamourosos. “Folheamos revistas desde os 5 anos de idade, olhando todas essas mulheres glamourosas”, disse De Vee. “Hoje, podemos criar nossas próprias revistas com a mídia social."

Evidentemente, houve um tempo em que estas fotos se destinavam exclusivamente para estadistas e aristocratas, e eram pintadas a óleo sobre tela. O resto da humanidade em geral tinha de se contentar com as fotos do colégio ou do passaporte. Agora, isto acabou. Qualquer pessoa que tenha um dinheiro extra pode encomendar a tarefa a profissionais e apresentar ao mundo uma imagem mais aprimorada.

Rachel Weinstein Petterson recorreu ao estúdio de duas fotógrafas para uma série de fotografias em que ela trocou mais roupas do que Lady Gaga em um show Foto: The New York Times

Para Rachel Weinstein Petterson, 34, engenheira de software de Los Altos, Califórnia, a sessão de retratos icônicos se transformou num espetáculo de auto reinvenção. Durante anos, ela usou um retrato do colégio, totalmente “conservador”, em seu perfil na mídia social. Mas em uma era em que a foto da mídia social é a primeira impressão que você produz para o mundo, ela disse, aquilo não servia mais. “Não quis usar instantâneos, quis algo que dissesse que eu confiava em mim e tinha noção do meu lugar no mundo." Recorreu ao estúdio de duas fotógrafas da Bay Area, Heidi Margocsy e Tara Baxter, para uma série de fotografias em que ela trocou mais roupas do que Lady Gaga em um show. Basta olhar para a modelo andando pelas colinas douradas da Califórnia varridas pelo vento num vestido de renda branca; em outra foto, ela é uma vamp urbana, agachada contra a parede de um depósito, num vestido vermelho de Catherine Malandrino que ressalta suas curvas. Para o seu perfil no Google, ela vestiu um top teatral de malha de metal, com uma maquiagem do teatro Kabuki e uma coroa dourada: a “princesa misteriosa” como ela se via no seu íntimo, explicou.

“Eu quis dar uma ideia de poder. Queria algo que fizesse as pessoas pararem e dizerem: ‘Quero dar uma olhada mais de perto’." Uma foto glamourosa profissional faz mais do que isto. Ela pode suscitar inveja e imitadores. “As pessoas veem imagens de amigos na mídia social, no Facebook e pensam: ’Quero ficar assim’”, disse Heidi, cuja empresa de Petaluma, Califórnia, In Her Image Photography, oferece às suas clientes “fotos que inspiram poder”. Nossa empresa, ela disse, realiza de quatro a cinco sessões com clientes por semana e cobra até 1.050 dólares cada sessão que exige um dia de trabalho. “A mídia social nos levou a este universo em que as pessoas querem suscitar aprovação”, acrescentou. “Eu tenho literalmente centenas de clientes que dizem que sua autoestima cresce imensamente quando postam uma das suas imagens e recebem 100 comentários. ‘Oh, meu Deus, você parece uma supermodelo’. Quem é que não quer isto?”

Wendi Koble, uma produtora de vídeos de Petaluma, foi atrás dos selfies profissionais. Depois de postar uma foto glamourosa de si mesma num vestido preto de tule, sua página do Facebook foi inundada de comentários: “Você precisa publicar fotos tão lindas?"; “Este é o selfie mais legal que eu já vi." “Estas coisas fazem valer todo o dinheiro gasto”, ela disse.

Um selfie feito por um profissional foi o presente que Amy Wall se deu em seu 44º aniversário Foto: The New York Times

Para Amy Wall, que administra um spa em Monticello, Califórnia, um selfie feito por um profissional foi o presente que ela se deu no seu 44º aniversário. Encomendou quatro sessões de pin-up, inclusive uma série de fotos em preto e branco no estilo da Época da Depressão (que faz lembrar o filme Lua de Papel) que ela carrega na sua página do Facebook, uma de cada vez. “Fui armazenando as fotos”, conta. “Publico uma a cada dois meses, para chamar um pouco de atenção em intervalos regulares." Desde que começou a postá-las, diz, pelo menos 50 amigos do Facebook mandaram fazer sessões próprias por profissionais. 

Publicidade

É um nicho interessante para fotógrafas como Wendy K. Yalom, que foi contratada por DeVee na Itália. Especializada em fotos de casamentos, Wendy criou uma carreira lucrativa na chamada fotografia de estilo pessoal. Desde 2010, seu negócio cresceu dos trabalhos ocasionais que ela fazia para as amigos a cerca de dez sessões de fotos por mês. Muitas clientes são empresárias que querem uma coisa mais sofisticada para o seu perfil. 

Genavieve Shingle buscou as melhores locações para fotos, inclusive com brilhos e buquês de balões cor de rosa Foto: The New York Times

Quando Genavieve Shingle, advogada de Nova York, deu início a um programa de assessoria legal para empresários este ano, não quis uma foto insípida de empresa para representá-la. Passou vários dias perambulando por Nova York com duas fotógrafas - Laura Volpacchio e Michelle Hayes - em busca das melhores locações para fotos, inclusive com brilhos e buquês de balões cor de rosa, para o seu próprio marketing no site profissional e na página do Facebook. “As pessoas compram muito mais sua imagem do que seus serviços ou bens”, afirmou. 

Na realidade, uma foto de impacto é mais do que apenas uma declaração de vaidade hoje em dia, porque é difícil dizer onde o “pessoal” acaba e o “profissional” começa no Facebook e no Twitter, disse Sean Behr, empresário da área de tecnologia de São Francisco. Sean contratou recentemente Wendy para uma série de fotos do tipo das revistas online que o mostram rindo, vestindo um sweater de gola V, na baia da cidade. No mundo da tecnologia, ele disse, é muito ruim as empresas divulgarem o perfil errado, mesmo numa página do Facebook. “A mídia social é um lugar onde o que negócios concretos acontecem”, afirmou Behr, 38. “Os clientes da minha empresa me seguem no Twitter e também são meus amigos no Facebook. Se virem meu perfil e acharem um cara de terno e gravata, irão pensar: ‘O que é isso, ele não é quem pensávamos'."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.