Os anos 90 estão de volta à cena fashion e o estilo do porta-voz do movimento grunge parece mais relevante do que nunca. Kurt Cobain, líder da banda Nirvana, conseguia expressar em suas canções a angústia que a juventude enfrentava no início da última década do século XX. Com suas camisas xadrez, suas calças destroyed e suas malhas de lã oversized, ele quebrou a estética plástica e exagerada dos artistas pop dos anos 80 e inaugurou uma nova era. O estilo e as músicas de Cobain prometem influenciar agora uma nova geração graças ao novo documentário "Kurt Cobain: Montage of Heck", de Brett Morgen, lançado no Brasil no mês passado.
Tudo o que Kurt Cobain vestia, por mais simples que fosse, gerava certo fascínio. Seu estilo era despreocupado, um símbolo da contracultura por mostrar desprezo pela opinião dos outros. Esse movimento é marcado pelo surgimento de um outro ícone, que segue firme e forte, o estilista Marc Jacobs. Vinte anos depois, ele continua quebrando as regras, como na última semana, em que postou sem querer uma foto sem roupa em seu perfil no Instagram.
A ascensão e a queda de Cobain ocorreu junto com a chegada do estilista americano, que em 1993 comandava a grife Perry Ellis e se preparava para apresentar a sua coleção de primavera-verão na Semana de Moda de Nova York. Com um casting que incluía as modelos mais caras da época, como Carla Bruni, Kate Moss e Naomi Campbell, o desfile deixou a imprensa e a indústria fashion mais perplexas do que encantadas. Na passarela, apareceram coturnos Doc Martens, longas saias xadrez, camisetas tipo pijama, cabelos despenteados e um gorro que mais parecia uma meia na cabeça. Foi uma clara homenagem à cena underground emergente de Seattle, algo totalmente fora do glamouroso circuito que representava as fashion weeks na época.
O desfile grunge de Marc Jacobs quebrou paradigmas, mas o estilista foi demitido na sequência e a coleção nunca chegou a ser produzida. Nada que atrapalhasse sua carreira promissora. Agora, duas décadas depois, Hedi Slimane resolveu trazer o estilo de volta ao centro do mundo da moda. À frente da marca francesa Saint Laurent, o estilista reproduziu itens idênticos aos usados por Kurt Cobain, com as mesmas texturas e padronagens e, o que a princípio gerou controvérsia, acabou se tornando um dos maiores cases de sucesso do grupo francês Kering, que engloba a marca e é responsável também pela operação de outras grifes como Gucci e Balenciaga.
Cobain deixou uma herança maior do que sua música. Até hoje, milhares de jovens querem expressar rebeldia e descaso como ele fazia, transformando angústia em arte e estilo. Seu legado vai além do universo underground e atualmente é reproduzido em grande escala por gigantes do fast fashion. Trata-se do anti-herói que deu certo. Um conto de tragédia que em 2015 ressurge, mantendo a chama do grunge acesa para uma nova geração, que encontra no cantor uma referência na busca por um sentido na vida na era da superexposição.