Valorização de aterros ofusca avanço da reciclagem no Brasil

Maioria dos resíduos no País ainda é enterrada; falta de legislação impede outras formas de tratamento

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Por Andrea Vialli
Atualização:

O Brasil continua enterrando seu lixo. Seja nos (poucos) aterros sanitários controlados ou nos inúmeros lixões a céu aberto, que recebem mais de 60% dos 6 milhões de toneladas de resíduos domésticos produzidos por ano no País. Na prática, a falta de uma lei nacional de resíduos não dá margem para que outras formas de tratamento e aproveitamento dos detritos avancem. Mas há mudanças em curso. Mesmo sem muitos programas governamentais de coleta seletiva, o Brasil se tornou um grande reciclador, movido pelo valor de mercado de alguns materiais - latas de alumínio, papelão, plástico. Também já começam a aparecer projetos de recuperação energética dos resíduos - a incineração com produção de energia. Na Europa, há mais de 300 usinas que queimam os resíduos com controle da poluição. "Estamos atrasados pelo menos 25 anos nessa questão. O Brasil ainda considera os aterros uma solução definitiva, embora eles tenham vida útil limitada", diz Luiz Carlos Malta, diretor da Usinaverde, um projeto piloto de incineração de resíduos localizado no câmpus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Rio. A Usinaverde trata, em caráter experimental, 30 toneladas de resíduo por dia, com potencial para produzir 440 kw/h de eletricidade. Boa parte desses resíduos é "fisgada" por pescadores na Baía de Guanabara, em um projeto de despoluição das águas. "Todo tipo de resíduo vai parar na baía. (Como) Garrafas, fraldas descartáveis. O que pode ser reciclado passa por triagem. O resto, transformamos em energia", diz Malta. Os resíduos são submetidos a altas temperaturas, acima de 950°C, em sistema fechado. O gás carbônico do processo alimenta as caldeiras, gerando vapor e energia. Malta diz que a emissão de poluentes perigosos, como dioxinas e furanos, é mínima e está dentro dos limites da legislação brasileira. A tecnologia está disponível no mercado e há três projetos em andamento. A maioria é para tratamento de resíduos industriais. LOGÍSTICA A rede varejista Casas Bahia começou, no ano passado, a recolher embalagens nas casas dos clientes. O mesmo caminhão que entrega o televisor ou a geladeira traz de volta o papelão e o plástico das embalagens. Para acomodar esse material, somado ao lixo gerado nas lojas da rede, foi construída uma central de triagem de resíduos dentro do seu Centro de Distribuição, em Jundiaí (SP). Em um espaço que prima pela limpeza e organização, os resíduos são separados, limpos, enfardados e voltam à indústria como matéria-prima. Segundo o diretor das Casas Bahia, Michael Klein, o próximo passo do programa será recolher também eletroeletrônicos antigos e encaminhá-los à reciclagem.

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