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Valores ajudam nipo-brasileiros

Estudo mostra que fama de japonês como aluno aplicado é justificada porque ele busca ascensão social pelo ensino

Por Simone Iwasso
Atualização:

Pelo senso comum, descendentes de japoneses são estudiosos, disciplinados, vão bem na escola, passam no vestibular com mais facilidade e, em boa parte dos casos, têm afinidades com as carreiras de exatas. De acordo com pesquisa feita com dados da USP e Unesp, o imaginário popular não está distante da realidade - de 1,2% da população da cidade de São Paulo, os descendentes de japoneses são menos de 4% nos inscritos no vestibular, mas representam cerca de 15% nos aprovados. Nas carreiras mais concorridas, como Medicina e Engenharia, eles chegam a representar, em média, 15% e 20% dos estudantes matriculados, respectivamente. A explicação para esse rendimento, ainda segundo a pesquisa, está relacionada com fatores culturais e motivacionais, como a alta valorização do conhecimento e do ensino formal entre essas famílias. "O levantamento nos dados dos vestibulares confirma a sensação que todo mundo tem, mas nunca comprova, que é a de que esses estudantes têm um desempenho diferenciado", explica a autora da pesquisa feita na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Cristina Canto. "E nosso trabalho relaciona esse desempenho com a valorização do ensino, característica dos imigrantes japoneses, e com a busca de ascensão social e econômica por meio da educação", diz. Desse modo, ao ainda carregarem alguns valores transmitidos pela primeira geração de imigrantes japoneses, como disciplina, respeito à hierarquia, esforço e dedicação, as famílias atuais também mantêm o sentimento de que a melhor maneira de ascender economicamente é por meio da educação. "Isso faz com que esses alunos atuem com empenho em prol desse projeto de vida", avalia Cristina. A grande contribuição de uma avaliação como essa, para ela, é mostrar que o mais importante para um bom desempenho escolar é a vivência em um ambiente que valoriza essa atividade. "É a importância que se dá ao ensino e o esforço desprendido para isso que geram os bons resultados. É isso que precisa ser transmitido para toda a população para que os níveis educacionais do País avancem", conclui a pesquisadora. HERANÇA Para Mauro Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais da cidade e um dos preferidos dos japonesas, as famílias nipo-brasileiras sentem que o melhor que podem deixar para seus filhos é a educação. "Muitas famílias fazem grandes esforços para pagar a mensalidade. Cortam outros gastos, reduzem o lazer, tudo para poderem dar uma educação boa para os filhos", afirma. Ele diz que o colégio, por colocar o mérito em primeiro lugar, costuma ser escolhido por essas famílias. "Não é exclusivo das famílias com ascendência oriental, mas é característico delas." Como resultado, segundo dados do IBGE, 28% dos nipo-brasileiros completaram o curso superior, enquanto a média nacional está em aproximadamente 8%. A média de escolaridade da população brasileira total é de 4,7 anos; a das pessoas brancas é de 5,6; e a dos descendentes de orientais, de 8,1 anos. Entre os estudantes, o que mais aparece são os sentimentos de obrigação e gratidão, que geram a necessidade de retribuir o investimento das famílias. "Meus pais se formaram na USP, sempre acharam importante fazer uma faculdade boa, estudar para isso. Eles nunca cobraram diretamente, mas sempre ficou implícito", conta Plínio Kenzo, de 18 anos, do 2º ano de Mecatrônica da Escola Politécnica da USP (Poli). Ele estuda hoje com pelo menos outros seis alunos nipo-brasileiros que cursaram a mesma escola no ensino médio e passaram no vestibular na primeira tentativa. William Konishi, de 20 anos, aluno do 3º ano de Engenharia Civil da Poli, conta que a mãe trabalhou como enfermeira em um bom colégio para que os três filhos pudessem estudar lá. "Sempre estudei sozinho e me sinto retribuindo o esforço dela." Na análise do professor do Instituto de Matemática e Estatística da USP Sergio Oliva a disciplina ajuda a superarem o medo da matemática provocado por maus professores. "A disciplina talvez ajude a superar os medos que os professores fracos de matemática impõem", diz. Novamente, como defende Cristina, é o esforço que supera as dificuldades.

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