Vacinar aluno é mais eficaz para evitar gripe

Estudo avalia a melhor estratégia de imunização para os EUA

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Por Alexandre Gonçalves
Atualização:

Vacinar estudantes e seus pais é a forma mais eficaz, do ponto de vista médico e econômico, de limitar o contágio das gripes sazonal e suína, segundo um modelo matemático desenvolvido por pesquisadores americanos. O trabalho, publicado ontem na versão digital da revista Science, avalia a melhor estratégia de imunização para os Estados Unidos, onde ocorrem 36 mil mortes anuais causadas pela doença. Antes de aplicar o mesmo modelo a outros países, entre eles o Brasil, seria necessário incluir variáveis locais. Atualmente, crianças com menos de 5 anos e adultos com mais de 50 têm prioridade para receber a vacina sazonal nos Estados Unidos. "As imunizações deveriam impedir o contágio da gripe nas escolas e a transmissão para os pais, que depois propagam o vírus para o resto da população", sublinha Jan Medlock, da Universidade de Clemson, na Carolina do Sul, coautor do trabalho. Os pesquisadores compararam uma epidemia teórica simulada por computador com as pandemias de 1918 - cerca de 60 milhões de mortes - e 1957 - 4 milhões de mortes. A gripe espanhola de 1918 era muito perigosa para adultos jovens, enquanto a gripe asiática, de 1957, afetava principalmente crianças pequenas e idosos. Concluíram que o alastramento de uma epidemia de gripe poderia ser contido pela distribuição de apenas 63 milhões de doses de vacinas. Os Estados Unidos utilizam anualmente cerca de 85 milhões de doses de vacina contra a gripe sazonal. Na nova estratégia, teriam prioridade crianças e jovens em idade escolar - de 5 a 19 anos -, responsáveis pela maior parte do contágio, e os adultos de 30 a 39 anos, com frequência infectados pelos filhos. Para os autores, a estratégia de vacinação proposta permitiria proteger melhor o resto da população, inclusive os grupos mais vulneráveis - grávidas, idosos e crianças pequenas. A economia de doses é particularmente oportuna no momento atual. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta a possibilidade de que neste ano não sejam fabricadas vacinas suficientes contra o vírus A(H1N1) por causa da lentidão no cultivo das cepas do vírus usadas na produção. Por isso é tão importante decidir quem deve receber a vacina em primeiro lugar. Os Estados Unidos pretendem obter 195 milhões de imunizações para aplicá-las em ao menos 165 milhões de pessoas. Mas, até outubro, o país deverá receber apenas 45 milhões de doses. BRASIL A infectologista Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), considera a estratégia uma "hipótese interessante". Mas pondera que não seria possível aplicar de forma acrítica os resultados do trabalho à realidade brasileira. Nancy discorda da proposta dos autores de utilizar a estratégia para a gripe sazonal. "Ao vacinar prioritariamente crianças pequenas e idosos, não queremos diminuir as taxas de infecção", pondera a pesquisadora. "Desejamos diminuir a letalidade da doença. São os grupos em que aparecem complicações mais sérias." Contudo, ela considera que as conclusões podem ajudar a delinear uma estratégia para a imunização contra o A(H1N1). Mesmo assim, sublinha as diferenças da realidade brasileira. "Durante o período mais crítico para a gripe no País (o mês de julho), as crianças estão em casa, de férias", exemplifica Nancy. "No inverno do Hemisfério Norte, com exceção das semanas do Natal e do ano-novo, as crianças vão à escola, onde ocorre o contágio." COM AFP e EFE

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