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USP tem a menor procura de aluno da rede pública desde 99

Mesmo com ampliação do Inclusp, interesse caiu; ProUni é apontado como um dos motivos

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Por Renata Cafardo
Atualização:

Mesmo com a ampliação de seu programa de inclusão, a Universidade de São Paulo (USP) teve no vestibular de 2009 a menor procura em dez anos de jovens que estudaram em escolas públicas. Segundo dados da Fuvest, 31,3% dos candidatos deste ano cursaram a rede municipal, estadual ou federal. Um índice menor - 30,8% - só tinha sido registrado em 1999. Apesar disso, a quantidade de estudantes desse grupo que passou para a segunda fase do exame atual foi a mais alta no período. A lista de aprovados da Fuvest para as 10.657 vagas sai na próxima quarta-feira. Entre os 36 mil que participaram da segunda etapa, 10.992 (28,7%) eram estudantes da rede pública. O segundo maior porcentual havia sido em 2008, com 27,2%, mas foram apenas 776 alunos a menos. Esse aumento, segundo especialistas, pode ter sido motivado pelo programa de inclusão da USP, o Inclusp, criado em 2006. Em 2009, as notas desse grupo puderam ser até 12% mais altas que as do restante dos candidatos (foram dados 3% para todos os estudantes de escola pública, 6% para os que, dentre eles, fizeram o Enem e outros 3% pelo desempenho em uma avaliação no fim do ensino médio, feita pela primeira vez em 2008). "Isso ajuda, mas não resolve. A baixa autoestima e atrativos como o ProUni (Programa Universidade para Todos) fazem com que eles nem tentem a Fuvest", diz a coordenadora do Cursinho da Poli - que tem 80% de seus alunos oriundos de escolas públicas - Alessandra Venturi. Ela se refere ao programa do governo federal que dá bolsas a alunos carentes em universidades privadas e, desde sua criação em 2005, vem sendo apontado como o motivo pela falta de interesse desse grupo em instituições públicas. Cerca de 430 mil estudantes já receberam bolsas do ProUni, 70% delas integrais (mais informações nesta página). Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi também registrado neste ano o índice mais baixo, desde 2002, de candidatos vindos de escolas públicas (26,3%). A instituição também tem um programa de inclusão, com bônus para carentes. "Até o ProUni ser criado, a única opção de ensino gratuito eram as universidades públicas", diz o coordenador do vestibular da Unicamp, Leandro Tessler. "O importante para esses alunos é entrar em uma faculdade de graça, poder estudar perto de casa, não precisar deixar o emprego e ter um título", completa a vice-diretora da Fuvest, Maria Thereza Fraga Rocco. Em entrevista ao Estado há uma semana, a reitora da USP, Suely Vilela, anunciou um programa, que começa em fevereiro, para levar alunos do ensino fundamental (1ª a 8ª série) para conviver no ambiente da universidade. Segundo ela, os resultados do Inclusp mostram que não adianta apenas fazer programas para alunos do ensino médio. Entre 2008 e 2009, a Fuvest teve quase 3 mil candidatos a menos oriundos de escolas públicas. Em 2006, o vestibular chegou a ter 72 mil estudantes com esse perfil; em 2009 foram 43 mil. Neste ano também, a Fuvest registrou o número total mais baixo de inscritos em 11 anos - vindos de particulares ou públicas. O aumento de cerca de 200% no número de vagas nos últimos anos no ensino superior, inclusive em instituições públicas, também é apontado como razão para a menor procura nas instituições paulistas. A quantidade de estudantes que cursam e concluem o ensino médio no País também tem diminuído. Atualmente, só cerca de 50% dos adolescentes de 15 a 17 anos estão no ensino médio.

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