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Uma européia de alma carioca

As pedras rolam e, no ritmo delas, a designer italiana Francesca Romana festeja nova fase de sua carreira

Por Vera Fiori
Atualização:

Francesca Romana curte a nova etapa da sua faiscante carreira de designer. Além de ter rejuvenescido a coleção - mais jovem, colorida, divertida -, ela repaginou a loja do Shopping Iguatemi, abusando da iluminação e de cores claras, e se estabeleceu em mais dois endereços em São Paulo, nos shoppings Market Place e Cidade Jardim. Tantas mudanças têm um porquê. Ela e o ex-marido, o designer e gemólogo Fabrizio Giannone, travam uma batalha judicial pelo uso da marca e disputam pelo comando da rede de lojas, motivo que a afastou por um ano e meio da empresa. Por esta razão, passou a assinar as coleções com seu nome completo, Francesca Romana Diana. "Praticamente recomecei do zero", afirma. Alta e elegantíssima, Francesca é de uma tradicional família italiana (o pai, fazendeiro, foi ministro da Agricultura naquele país) e conta que herdou o gosto por jóias e bijuterias finas de um antigo costume das mulheres da família. "Joalheiros de Firenze vinham até a nossa casa e reciclavam as jóias antigas, derretendo o ouro e aproveitando pedras como pérolas, diamantes, águas marinhas, topázio", conta. Formada em Biologia, seus primeiros passos na profissão se deram na cidade de Roma, onde abriu um ateliê. No Brasil há 20 anos, causou o maior rebuliço na sua família quando anunciou aos pais a decisão de morar aqui definitivamente. "Vim com uma amiga para passar férias no Rio, fiquei três meses e me apaixonei." Em 1986, passou uma temporada de um mês em Minas Gerais, acompanhada por um gemólogo italiano e por colecionadores de pedras. No ano seguinte, novo retorno ao País, desta vez para conhecer o trabalho de lapidadores de pedras. ADIO ITALIA Mesmo sem a retaguarda da família, no final de 1980, abriu uma oficina em São Paulo, na Vila Mariana, e durante sete anos, confeccionou peças para a H. Stern. "Cheguei ao Brasil cheia de idéias e com excesso de bagagem! Trouxe 75 quilos de materiais que não encontrava aqui, como moldes de cera e fios de náilon com metal, bem mais resistentes." Outro obstáculo na época, além da dificuldade de encontrar sortimento de matéria-prima, era o maquinário disponível. "Por sorte, conheci o dono de uma metalúrgica que tinha uma máquina italiana moderna, mas que não sabia manusear. Chamaram, então, um engenheiro da fábrica. Auxiliei a comunicação, como tradutora, e assim surgiram as primeiras peças." Em meados dos anos 80, é bom lembrar, o mercado de jóias e semijóias com pedras brasileiras não só era pouco explorado como, em termos de estilo, deixava a desejar, com peças mais para a linha souvenir do que para a moda. Como uma bandeirante fashion, Francesca abriu caminho para outros designers e deu início a uma trajetória internacional. Atualmente, suas peças são vendidas na Europa e Estados Unidos e centros que vão de Paris a Miami, de Bruxelas a Buenos Aires. Hoje, morando no Rio com o filho de 16 anos, comanda uma equipe composta por dez pessoas, a maioria mulheres. "Somos mais detalhistas. Só tive problema uma vez com uma funcionária. Eu explicava as cores que queria e ela sempre trocava, criando um acessório completamente diferente do que o que tinha imaginado. Falei uma, duas, três vezes e nada. Já estava achando que era de propósito, quando descobri que ?a minha concorrente? , na verdade, era daltônica", brinca. E é esse senso de humor mais carioca do que europeu que Francesca está imprimindo em suas criações, conquistando fiéis clientes e as filhas destas. As pulseiras tipo bracelete são o carro-chefe da coleção e já viraram um hit entre as mais descoladas. Até a atriz Cameron Diaz se rendeu à moda. "As pulseiras são de metal esmaltado pintado à mão, com acabamento banhado a prata e detalhe da pedra brasileira semipreciosa. As da linha Pensieri vêm com frases de Oscar Wilde, Baudelaire, Fernando Pessoa ou ditados italianos populares." Outras, bem coloridas, são inspiradas nos desenhos de Burle Marx para os calçadões de Ipanema e Copacabana. Mais luxo? Só mesmo tendo o consagrado Oscar Niemeyer como stylist. A guerreira Diana bateu na porta do arquiteto e mostrou a sua idéia: pulseiras com a silhueta de suas obras em Brasília. "Pensei em fazer os desenhos vazados. Ele olhou, pensou um pouco e disse que ficaria melhor se fizesse o contrário, e realmente ficou mais bonito." FONTES DE INSPIRAÇÃO Além da arquitetura e de cartões-postais do Rio e de São Paulo, como o Pão de Açúcar e o prédio do Banespa, Francesca busca idéias nas exposições de arte mundo afora, em gravuras e pontos históricos. No catálogo da coleção outono/inverno, chama atenção os anéis e brincos rendilhados, cujas formas reproduzem a Piazza del Campidoglio, de Michelangelo. "O desenho foi feito a partir de uma foto aérea da praça, e a escolhi para abrir o meu site, misturando passado e tecnologia." Outro destaque é o colar Catarina, com pérolas em duas cores, metal e pedras, inspirado numa peça usada por Catarina de Médici, rainha francesa de origem italiana. "Os Médicis foram uma poderosa família de Florença durante a Renascença, cuja riqueza e influência se originaram do comércio de têxteis. Com certeza, joalheiros renomados, como Bulgari, se inspiraram nos Médicis." Da nobreza ao pop, a designer também assina uma linha de pulseiras que mesclam ráfia colorida e pedras. Francesca anuncia mais novidades, como uma coleção de pulseiras, anéis e pingentes, feita em parceria com a artista plástica de sangue azul, Lelli de Orleans e Bragança. "Suas pinturas remetem aos desenhos do holandês Frans Post, famoso cronista da flora, fauna e paisagens brasileiras." Apaixonada pelo seu ofício, em 2004, fez a curadoria do livro Pedras Brasileiras, lançado pela editora Reler, que conta a história da mineração no Brasil.

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