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''Sempre tive esse pensamento: vou conseguir''

João Vitor percorreu todas as etapas do ensino regular e já pensa no mestrado e doutorado

Por Evandro Fadel
Atualização:

Os 22 anos de vida de João Vitor Mancini Silvério podem ser resumidos em uma palavra: determinação. Com síndrome de Down, ele percorreu todas as etapas do ensino regular, recentemente terminou o bacharelado em Educação Física, está cursando a licenciatura e já pensa no mestrado e doutorado. "Sempre tive esse pensamento: vou conseguir, vou chegar lá", diz o jovem. "Nunca me senti diferente de ninguém."João Vitor enfrentou preconceitos e críticas desde o início da vida escolar. Foi xingado e humilhado por colegas e chegou a apanhar na escola.Mas, por orientação da família, optou por não reagir à época. "Se eu combatesse da maneira como me tratavam estaria sendo igual, por isso, procurava a diretora para que ela cuidasse da questão da maneira dela", conta.Na Universidade Tuiuti, em Curitiba (PR), onde fez o curso superior, a maior dificuldade foi provar a todo instante que era tão capaz quanto qualquer outro estudante. "Ainda não há preparo suficiente para receber pessoas com necessidades especiais", diz.Estudioso e aplicado, tinha aulas de reforço e procurava cumprir todos os prazos com os trabalhos de casa - colegas e professores duvidavam que era ele quem os fazia. "Isso me magoava muito", diz.Hoje, João Vitor é estagiário em uma empresa, elabora programas de treinamentos individualizados e tem grandes chances de ser efetivado - a companhia está montando um projeto de corrida com a primeira equipe de pessoas com a síndrome.Muitas de suas conquistas, acredita, estão relacionadas com o estímulo que recebeu desde a infância e a atitude dos pais em não segregá-lo ou protegê-lo em excesso. "Nunca tivemos medo de expô-lo", afirma a mãe, Roseli. "Nós não tínhamos dó dele. Fomos muito exigentes, às vezes um pouco demais", completa o pai, Gonçalo. O pai conta que sempre incentivou a prática de esportes e acredita que isso facilitou o desenvolvimento cognitivo do filho. João Vitor já teve várias namoradas, embora atualmente não esteja comprometido. A ideia de se tornar padre, que o acompanhou por algum tempo, não existe mais. "Quero construir uma família."Para a presidente da Comissão de Educação Inclusiva da Tuiuti, Ana Luíza Bender Moreira, o preconceito contra as pessoas com algum tipo de deficiência existe e ainda há professores despreparados. "Mas, para a reitoria, não interessa mais professores que não queiram abraçar essa causa", afirma Ana Luíza. "É fácil fazer arranjos arquitetônicos que permitam a inclusão. O mais difícil é mudar as atitudes, os paradigmas, a mentalidade", diz.

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