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Secretaria deve devolver duas obras do programa de leitura de SP

Secretário diz que nem todos os livros foram lidos na íntegra e coordenadora admite ''pressa''; mostra traz 812 títulos

Por Fabio Mazzitelli e Carolina Freitas
Atualização:

A Secretaria de Estado da Educação deve devolver ou sugerir trocas às editoras de duas das seis obras excluídas do programa Ler e Escrever por considerá-las "completamente inadequadas" para uso escolar. Ontem, o secretário Paulo Renato Souza admitiu que nem todas as obras foram lidas na íntegra antes de serem enviadas às escolas. O programa é voltado para o reforço da alfabetização de crianças de 6 a 10 anos. Considerada a "mãe" do Ler e Escrever, a professora Iara Prado disse que os erros na seleção ocorreram porque o governo teve "pressa" para colocar os livros nas escolas. A rede estadual tem mais de 5 mil colégios e cerca de 5 milhões de alunos. As duas obras devolvidas são Um Campeonato de Piadas, que teve o conteúdo considerado pela pasta como "preconceituoso", e Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol, tiras dirigidas a adultos, com palavrões, conotação sexual e alusão ao crime organizado. Os outros quatro títulos serão encaminhados para salas de leitura de escolas de ensino médio e de Educação de Jovens e Adultos (antigo supletivo). Foram gastos R$ 149 mil com as seis obras retiradas, dos quais R$ 53 mil com as devolvidas. No total, o programa previa 818 títulos comprados para crianças da 1ª a 4ª séries do fundamental. Ontem, a secretaria abriu uma mostra com os outros 812 títulos. A exposição ficará por 15 dias, das 9 às 18 horas, na Praça da República, sede da secretaria. Em entrevista, o secretário irritou-se ao ser questionado sobre o problema. "Quero falar dos (livros) bons. Não quero voltar a falar dos ruins." Paulo Renato disse que os livros "não foram lidos na íntegra". Uma sindicância deve apontar os responsáveis pela aprovação dos títulos, que podem ser demitidos. Iara Prado afirma que a aquisição e a distribuição dos livros paradidáticos do Ler e Escrever, de apoio ao trabalho pedagógico, duraram cerca de um ano, tempo que deve saltar para "dois anos a dois anos e meio" com a mudança no processo de seleção que será adotada depois das falhas. Antes de ser adquirido, o livro passará pelo crivo de um especialista responsável por ler a obra. "Existe uma coisa que é dramática para quem está no Executivo: o tempo da duração do mandato. Você está dentro disso e tem que cumprir para implantar um programa. Erramos nesses seis pela pressa de ter os livros na sala de aula", disse Iara. Após a sindicância, o secretário promete punir os responsáveis. Ele defende que as duas obras consideradas inadequadas para uso escolar sejam devolvidas às editoras para troca por outras. As editoras não se manifestaram. Os 818 livros do programa custaram R$ 16,7 milhões. OBRAS EXCLUÍDAS Um Campeonato de Piadas, de Laert Sarrumor e Guca Domenico Poesia do Dia - Poetas de Hoje para Leitores de Agora, de Joca Reiners Terron e outros O Triste Fim do Menino Ostra e Outras Histórias, de Tim Burton Memórias Inventadas - A Infância, de Manoel de Barros Manual de Desculpas Esfarrapadas: Casos de Humor, de Leo Cunha Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol, vários autores

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