PUBLICIDADE

Rosas, jasmins e bons negócios

Especialista em perfumaria, Renata Aschar batalha para criar um museu-escola de perfumes

Por Vera Fiori
Atualização:

.Sedução, feitiços, romance, glamour, luxo e negócios astronômicos entremeiam a história do perfume, assunto tão envolvente que fisgou Renata Aschcar. Em seu apartamento, o objeto de trabalho disputa espaço com roupas e móveis, afinal, são cem livros e 600 frascos de perfumes.

 

PUBLICIDADE

Há mais de 20 anos anos na área de cosméticos, Renata atua como consultora de marketing e estratégias, e é autora dos livros Brasilessência: A Cultura do Perfume (Editora Best Seller), Banho: História e Rituais (Grifo) e Guia de Perfumes (Duetto). Formada em Publicidade, seu primeiro emprego foi em meados de 80, na empresa de embalagens do avô, o empresário Abílio Aschcar. Nessa época, o mercado de cosméticos no Brasil estava engatinhando. Marcas como Água de Cheiro, L’Acqua di Fiori, entre outras, disputavam espaço, ao lado de grandes empresas, como Natura, O Boticário e Avon. "O mercado era fechado e o IPI (imposto sobre produtos industrializados) inibia investimentos."

 

No início de 1990, a economia do País foi aberta mais amplamente para o mercado externo, o que incentivou as importações. Na época, Renata abriu a agência Cosmetics Marketing & Design, com foco em consultoria e design. "Foi quando as grandes marcas nacionais firmaram parcerias com designers e fornecedores franceses." Aproveitando a maré, viajou rumo a Paris, decidida a fazer contato com os principais designers, levando a ideia de ser agente deles no Brasil:

– Disparei faxes para uns 20 profissionais e quem me retornou foi nada menos do que Pierre Dinand, maior especialista em design de perfume na Europa, criador de 500 frascos, como Armani, Eternity for Men e Obsession, de Calvin Klein, e Opium, de Yves Saint-Laurent. Durante a entrevista, bem petulante, disse que seria a melhor agente dele! Ele riu e, um mês depois, fechamos contrato.

 

Uma de suas intermediações como representante de Dinand foi o lançamento do perfume Kaiak, da Natura, além de outros de O Boticário e L’Acqua di Fiori. Três anos depois, recebeu um convite inesperado do designer, para organizar uma exposição sobre a evolução da perfumaria brasileira em Oita, Japão, no Musée Parfum. "Fui a Paris para fazer um levantamento sobre o tema, já que aqui eram raros os registros: não achei uma linha sequer a respeito. A má notícia acenou uma excelente oportunidade, a de escrever um livro brasileiro especializado no assunto."

 

PIONEIRA

Assim, em 2001, com o patrocínio da Natura, O Boticário e copatrocínio de outras empresas do setor, lançou Brasilessência, obra ricamente ilustrada, que faz um passeio pela história dos aromas desde a Antiguidade. A consultora vasculhou livros, revistas e jornais de época. Porém, muitos dados e curiosidades foram obtidos a partir dos depoimentos de profissionais pioneiros:

Publicidade

 

– Tive a sorte de ouvir funcionários idosos, que trabalharam nos laboratórios das primeiras empresas de cosméticos. Entre um chá aqui e um uisquinho acolá, eles relembravam passagens preciosas. Um exemplo foi o encontro com a mulher de um dos fundadores da Phebo, quando tive acesso aos primeiros rótulos dos produtos e documentos raros da época da fundação, em 1924.

 

O livro lhe exigiu três anos de dedicação exclusiva. "Quando, finalmente, terminei, tive uma espécie de depressão pós-livro. Agora, o que fazer? Pensei com meus botões", brinca. Passou-se um ano quando, durante uma conversa com Miguel Krigsner, então presidente de O Boticário e colecionador de frascos raríssimos, surgiu a ideia de criar um museu do perfume: "Entendia do assunto, mas era preciso ir além e estudar a origem dos frascos que fariam parte do acervo, e conhecer os materiais com os quais eram feitos. Krigsner me deu total autonomia. Passei um período na Europa, fazendo pesquisas, colhendo informações e visitando fábricas tradicionais, como Lalique, Baccarat. Na volta, já tinha um pré-projeto e a maquete eletrônica do museu."

 

Inaugurado há cinco anos, em Curitiba, com o nome O Espaço Perfume Arte & História, o museu teve consultoria e conteúdo de Renata, e projeto do arquiteto Nivaldo Vitorino. Logo depois, ela lançou mais duas publicações: Banho – Histórias e Rituais (em parceria com a marca de sabonetes Lux) e o Guia de Perfumes, um manual prático com dicas, informações e um teste que ajuda a identificar as famílias olfativas que mais se adaptam a cada pessoa.

 

Atualmente, o foco do seu trabalho é a consultoria de perfumes, da concepção da fragrância, de acordo com o perfil do público-alvo, aos contatos com os distribuidores. "Moda e perfume têm tudo a ver e acredito que, a exemplo dos estilistas franceses, os designers brasileiros vão investir nesse campo, ainda pouco explorado." Nessa linha, o primeiro passo foi dado pela Grendene. Em comemoração aos 30 anos da marca Melissa, a empresa fez uma parceria com Renata para lançar o seu perfume. A novidade foi anunciada durante o último São Paulo Fashion Week, e agitou os fashionistas.

 

Meta futura? A criação de um museu-escola em São Paulo: "O mercado movimenta milhões e não há cursos de formação acadêmica no País", justifica. Sua ideia é fazer uma parceria com a escola ISIPCA – Institut Supérieur International du Parfum, de la Cosmétique et de L’Aromatique Alimentaire, instituição fundada em 1970 por Jean-Jacques Guerlain e gerenciada a partir dos anos 80 pela Câmara do Comércio e Indústria de Versailles. "Lembrando que o Brasil ocupa lugar de destaque no ranking de consumo de perfumes, os alunos seriam absorvidos pelo mercado."

 

VIDE BULA

 

 

 

 

 

 

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.