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RJ investe R$ 200 mi em tecnologia

Projeto do governo vai unir escolas estaduais online e dar cartão eletrônico, com notas e frequência, aos alunos

Por Alexandre Rodrigues e Marcia Vieira
Atualização:

Os índices medidos pelo Ministério da Educação não são dos mais animadores. A rede de ensino comandada pelo governo estadual no Rio acumula resultados pífios nas últimas décadas. Nos rankings do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) as escolas particulares cariocas brilham nos primeiros lugares, mas a rede estadual ocupa a sexta colocação no País. Está atrás de Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. "O Rio está muito mal", admite a secretária de Estado de Educação, Tereza Porto. A partir de 1º de setembro, Tereza dá a largada num projeto que, acredita ela, vai sacudir as escolas públicas do Rio. O Conexão Educação é grandioso. A começar pelo orçamento. Vai consumir R$ 200 milhões para unir toda rede estadual online. As 19.380 salas de aula de 92 municípios vão ter um computador conectado à internet banda larga e uma leitora ótica acoplada. Mais de milhão de alunos terão um cartão eletrônico com foto e um chip onde estarão acumuladas todas as suas informações. Da idade até o seu comportamento durante as aulas, passando por histórico familiar e notas escolares. Todos os dias, quando o aluno entrar na sala e passar o cartão pela leitora ótica, o professor terá acesso ao seu histórico. Se ele não for à aula, os pais vão receber um torpedo via celular. "O professor vai alimentar diariamente essas informações sobre os alunos", diz Tereza. O professor de matemática, por exemplo, vai poder checar se um determinado aluno tem o mesmo desempenho em todas as matérias. O orientador pedagógico poderá acompanhar online os conteúdos que os professores ensinaram diariamente. "Os professores só discutiam as dificuldades da turma a cada três meses, no conselho de classe. E nem sempre dava tempo de impedir que o aluno largasse a escola." O Rio mantém a média nacional de evasão: 40% dos meninos que entram na primeira série do ensino médio abandonam a escola. Até o fim do ano, garante Tereza, todas as escolas estarão conectadas. "Nenhuma rede de escolas públicas do País tem um sistema como esse. Soube de um projeto piloto na Espanha, mas com um número de escolas muito menor", orgulha-se Tereza, que durante oito anos comandou o Proderj, o centro de processamento de dados do governo estadual. O Conexão Educação é o ponto alto de um projeto hi-tech da Secretaria de Educação. Começou com a distribuição de 53 mil notebooks com acesso em banda larga para os professores estaduais. Toda gestão escolar também é feita online. Além disso, em parceria com o Ministério da Educação (MEC), foram instalados computadores para os alunos em todas as escolas. Para receber tanta tecnologia, os colégios foram reformados. A tecnologia também serve para controlar os gastos. O aluno terá que usar o cartão para andar de graça nos ônibus e ganhar a merenda na escola. Os estudantes estão divididos sobre a novidade. Incomodam o controle da frequência e a comunicação com os pais. "Computador na escola é ótimo, mas esse negócio de avisar os pais quando a gente mata aula não é legal", afirma Mayara de Oliveira Jales, 18 anos, aluna da Monteiro de Carvalho. "Metade aqui acha que a escola vai virar presídio com tanto controle", diz Jean Gilbert de Oliveira, 22 anos, colega de sala de Mayara. "Mas eu gostei. A escola está ficando mais moderna", defende. CRÍTICAS As maiores críticas que o projeto de Tereza Porto recebe é se tanto investimento em tecnologia vai melhorar a qualidade do ensino. Paulo Maurício, professor de História da rede pública, acredita que sim. "A escola é o lugar onde tudo chegava atrasado. Agora parece que está mudando", diz. O presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio, deputado Comte Bittencourt (PPS), defende mais investimento em treinamento e valorização salarial dos professores. "A tecnologia deve estar a serviço da educação e não o inverso. Não adianta esperar que a tecnologia sozinha melhore a qualidade da educação", diz Comte. Gilda Bernardino de Campos, professora da PUC-Rio, concorda. "Muitos Estados investem em tecnologia na educação, mas é preciso capacitar os professores", diz. Tereza Porto garante que essa é a política do Rio. Os professores da rede estão inscritos no curso Tecnologias em Educação que Gilda comanda, em parceria com o MEC, para mais de 6.300 professores em todo o País. "A ideia é ensinar um modo eficaz para o uso destas mídias digitais. O professor tem que aprender a fazer uso pedagógico da tecnologia. Assim ele motiva o aluno." Uma das ideias é ensinar aos professores, por exemplo, como dar aula de química usando uma radionovela digital.

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