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Rio tem surto de infecção hospitalar

Micobactéria já causou mais de mil contaminações em vários Estados

Por Ligia Formenti
Atualização:

Um surto de infecção hospitalar sem precedentes na história já contabilizou 946 casos suspeitos no Rio. Os primeiros registros foram feitos no início deste ano, já envolveram 52 hospitais e são provocadas por um agente conhecido como micobactéria - tipo comum de bactéria, mas com resistência a antibióticos e presente até mesmo em piscinas. Mas as contaminações não estão restritas ao Rio. Focos da infecção provocados pelos mesmos agentes foram registrados em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio Grande do Sul , Goiás e Minas. Ao todo, são 1.097 registros. Apesar do expressivo número de casos, nenhuma pessoa morreu. Em todos os casos relatados, a infecção afeta pacientes submetidos a cirurgias com técnicas de laparoscopia, lipoaspiração, artroscopia e até mesmo num procedimento estético, conhecido como mesoterapia. Entre duas semanas e até um ano depois da operação, pacientes passam a apresentar lesões nas áreas próximas da área da cirurgia ou na cicatriz. No Rio, o problema é provocado pela infecção de dois tipos de micobactérias: a Mycobacterium abscessus e a Mycobacterium massilense. "Esta última, resultado da mutação genética da M.abscessus, foi descrita há pouco tempo, somente em 2004", afirmou a pneumologista do Centro Hélio Fraga, do Ministério da Saúde, Margareth DalColno. Desde que os primeiros casos foram registrados, em março, uma equipe de investigação de surtos do Ministério da Saúde foi chamada e analisa, ao lado de técnicos do Rio, as causas do surto. "É uma investigação cara, complicada, que mobiliza atualmente cinco laboratórios", afirmou Margareth. Os centros ficam encarregados de examinar o agente causador da doença e, o mais difícil, como tal contaminação ocorreu. MATERIAIS CONTAMINADOS Embora o trabalho não esteja concluído, Margareth está convicta de que a infecção está relacionada ao uso de materiais hospitalares contaminados. Não se sabe, ainda, se isso ocorreu por inobservância das instituições às regras básicas de desinfecção, pela reutilização exagerada dos instrumentos ou por resistência da micobactéria aos produtos e técnicas hoje usadas para desinfecção. "Há grande suspeita de que material batizado, fora dos padrões, tenha sido usado para fazer a desinfecção", afirma. " O fato de terem sido encontradas amostras de M. massilense, no entanto, também chama a atenção. "Talvez essa variação seja resistente a todos os métodos hoje recomendados", afirmou. Justamente por isso, técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também trabalham na investigação. O coordenador-geral do Programa de Doenças Transmissíveis, do Ministério da Saúde, Ricardo Marins, afirma que se estudos mostrarem que os padrões hoje usados para reutilização de materiais não estão mais adequados, eles terão de ser revistos. Margareth garante que no Rio a situação está praticamente controlada. CASOS LATENTES O que preocupa especialistas é a possibilidade de que, como a incubação do agente pode durar até um ano, ainda haja pacientes contaminados pela micobactéria que não apresentaram os sintomas ainda. No entanto, afirma Margareth, a maioria dos casos foi diagnosticada em até 21 dias após a infecção ocorrer. Além do risco de terem de se submeter a novas cirurgias, os pacientes com a infecção precisam fazer um tratamento com antibióticos que dura entre seis e nove meses. "É um tratamento caro, de R$ 4,6 mil por paciente", afirmou a pesquisadora. Os custos da terapia são pagos pelo Ministério da Saúde.

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