Relações: o que 'Sex and The City' revela

Mais do que entretenimento, o programa serve como espelho da mulher moderna

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Por Eduardo Diório e do Jornal da Tarde
Atualização:

Já se passaram dez anos da estréia do seriado norte-americano Sex and the City, mas as nova-iorquinas Carrie (Sarah Jessica Parker), Miranda (Cynthia Nixon), Charlotte (Kristin Davis) e Samantha (Kim Cattrall), protagonistas da atração - exibida pelo canal pago Multishow e que virou filme, com estréia marcada para o próximo dia 6 -, continuam mexendo, até hoje, com os hormônios femininos e, claro, dando sutis alfinetadas na ala masculina. Mesmo assim, durante esse tempo, as amigas quarentonas (que têm características tão distintas, já que Samantha é desprendida do amor, Charlotte sonha com o príncipe encantado, Miranda é workaholic e Carrie só tem olhos para uma pessoa e adora gastar) passaram por poucas e boas até encontrarem o parceiro ideal. E todo mundo viu tudo! Mas o que as garotas têm a ensinar? Muitos se identificam com os foras, se emocionam com a amizade entre elas, riem das piadas de duplo sentido, aprendem sobre o universo fashion.   Foto: Divulgação   "A série, que agora virou longa-metragem, captura a atenção do público, principalmente feminino, pois no mundo atual há mais mulheres do que homens e, por isso, passou a existir uma competição feroz entre eles", acredita Maria Helena Matarazzo, sexóloga e autora do livro Encontros, desencontros & reencontros (Editora Record, R$ 25). "O homem não precisa mais seduzir, já que as mulheres se oferecem, atacam, tomam a iniciativa. Eles estão aprendendo a lidar com essa troca de papéis", completa. No entanto, Ailton Amélio, que dá aulas sobre relacionamentos na USP e é autor da obra Para viver um grande amor (Editora Gente, R$ 28), pondera essa revolução feminina. "Já entrevistei garotas que tiveram diversos parceiros e que não sofrem de nenhum distúrbio. Mas elas ainda são minoria, sendo que só 10% conseguem dissociar o ato sexual da afetividade."   Provavelmente, no seriado, quem faria parte do dado citado pelo professor Amélio seria a relações-públicas Samantha. Entre as amigas, ela é a mais fogosa. Ninfomaníaca assumida, a mais madura do quarteto parece ter o coração de pedra, já que dificilmente se permite apaixonar pelos seus parceiros. Será que há algo de positivo nesse tipo de atitude? "Relacionamentos superficiais podem ser satisfatórios numa determinada fase da vida, mas o fato é que todas as pessoas buscam se sentir amadas", explica Mariuza Pregnolato, psicóloga com especialização em análise comportamental pela USP. A personagem faz com que o telespectador avalie até que ponto o exagero vale a pena. "Se alguém não consegue nunca ter um relacionamento mais profundo, é certo que falta capacidade de se entregar."   Cavalo branco   Enquanto Samantha levaria um puxão de orelha de Mariuza, a marchand Charlotte não teria com o que se preocupar. Durante as temporadas, ela sempre sonhou com o príncipe - daquele que chega montado num cavalo branco e a leva para o mundo encantado. No primeiro casamento, ela não se deu bem, já que seu marido sofria de impotência sexual e ela estava desesperada para engravidar. Meses depois, resolveram se separar e ela se viu apaixonada pelo advogado que cuidava da papelada do divórcio. Ela só não sabia que teria de atravessar obstáculos para que o final fosse feliz, já que ele é judeu e ela presbiteriana. Ela é do tipo que faz tudo por amor.   "Muitas mulheres alimentam o sonho do homem ideal. Não vejo problema quanto a isso, contanto que ela não se fixe somente na fantasia. De repente, isso não pode acontecer. As fantasias não geram problemas até o momento em que as pessoas se recusam a ver a realidade", garante Betina Serson, psicopedagoga e fã de Sex and the City. Segundo a profissional, Charlotte encarou de forma madura o segundo casamento. "Os homens e a mulheres até podem repetir os mesmos erros quando se casam novamente, mas se conseguirem trabalhar as falhas do primeiro, fica tudo bem mais fácil e pode dar muito certo."   O enlace deu tão certo, que ela (que sofre com problemas de fertilidade) conseguiu o que queria: uma filha adotiva. No filme, a menina aparece com três anos e é a alegria do casal. Toda essa felicidade, de acordo com especialistas, pode até fazer com que o casal tenha um filho biológico. "Não dá para afirmar que quem adota uma criança vai conseguir engravidar mais tarde, mas pode acontecer, sim, por conta das questões emocionais", conta Luciana Leis, psicóloga da clínica Gera, especialista em casais com dificuldade de fertilidade. Para ela, com a adoção, as mães passam a acreditar que podem ser mães, já que existe uma autorização interna inconsciente. "Onde estava escrito não, passa a escrever um sim."   Vivendo e aprendendo a jogar   Por outro lado, o alerta piscando ‘sim’ nem sempre é bem-vindo. No caso da advogada Miranda, uma surpresa fez com que a vida dela virasse de ponta-cabeça, já que é daquelas mulheres que só pensam no trabalho e não se enxergam como mãe. Uma gravidez inesperada fez com que sua rotina mudasse da noite para o dia. O pai da criança? Seu ex-namorado, que no fim da série (e também no filme) torna-se seu marido. "O fato da mulher não estar esperando o bebê toca no ponto da onipotência de decidir quando e como as coisas devem acontecer", aponta Dorli Kamkhagi, psicanalista e coordenadora de grupos do Instituto de Psiquiatria da Psicoterapia do Hospital das Clínicas.   A lição que a personagem passa não é tão difícil de captar, já que brigar com o destino é impossível. Aceitá-lo, talvez, seja a maneira mais fácil de evitar novos conflitos internos e o momento ideal para exorcizar os antigos. E foi o que ela fez. "A possibilidade de gerar uma criança pode, muitas vezes, ser um momento de reparação de antigos conflitos, inclusive da própria aceitação da mulher como guardiã da vida que está em fase de desenvolvimento dentro dela", conclui Dorli. Em relação à família e às amigas, após o nascimento do neném, Miranda resolve se dedicar ainda mais. "Depois de uma fase, essas mulheres percebem que a realização profissional é saudável, mas para que isso dê realmente certo, é necessário dedicar um bom tempo para a família e sentir que ela está por perto", justifica a psicopedagoga Betina Serson.   Com essa mudança radical na vida de Miranda, Carrie, a mais próxima da advogada, conseguiu ter mais tempo para dividir suas angústias com a amiga. Sonhadora, a queridinha dos telespectadores batalhou durante anos por um amor - aparentemente - fadado ao fracasso. No último capítulo da atração, foi fisgada por Mr. Big (Chris Noth), amado por uns e odiado pela maioria dos fãs, conhecido pelo caráter duvidoso, já que passou um bom tempo indeciso em relação ao amor que sentia pela personagem. No filme, não poderia ser diferente. Será que terão um final feliz?   "Muitas vezes, não mudarmos de amor ou não aceitarmos algo que já acabou pode ser um pouco obsessivo", opina a psicanalista Dorli. Ela acredita que, como um filme, algumas relações vivem um outro tempo e um outro espaço temporal e emocional. "Algumas vezes lutamos e acreditamos que a pessoa eleita por nós tem de ser nossa a qualquer preço e nem sempre é possível. Nunca somos iguais e isso deixa as pessoas inseguras e assustadas", conclui. Já Betina prefere deixar no ar o que Carrie, ou qualquer mulher na mesma situação, deve fazer nessa situação. "Não concordo em dizer ao outros o que fazer, pois cada um sabe sobre o próprio relacionamento. No entanto, quando uma paixão não é bilateral, fica muito difícil manter um relacionamento maduro e saudável."   Sapatos, sapatos e mais sapatos   Antes de Sex and the City, Sarah não era uma atriz do primeiro escalão. Durante e pós-Carrie, tornou-se referência no mundo da moda. Isso se deve ao sucesso de sua personagem, apaixonada por roupas de grife e por sapatos caríssimos. A consultora de moda Gloria Kalil não titubeia ao revelar o segredo da moça mais ‘comum’ entre as quatro amigas. "Ela virou referência porque tem um conjunto bonito, é inteligente, articulada, um cabelo bem tratado, sabe vestir um jeans e usa sapatos de salto e bolsas de marca que todo mundo quer ter." Será que essa é a fórmula do sucesso? O cabeleireiro Din Kobuti, do salão L'Espace, acredita que sim. E para quem quer copiar o cabelão da moça, não precisa se preocupar. Para quem já tem um fundo loiro, aposte no loiro perolado com efeito solar. "Esses cabelos são fáceis de manter em casa e dá a autoridade que a mulher Sex and the City precisa." Já é um começo.   Miranda Hobbes Cynthia Nixon A advogada não consegue conciliar o trabalho com os afazeres domésticos. No meio do seriado, a mais sarcástica de todas, teve uma surpresa: estava grávida do ex-namorado. Isso fez com que ela repensasse suas atitudes e percebesse que a família era mais importante do que o serviço. Casada com Steve (David Eigenberg), tem um filho e mora com a sogra.   Carrie Bradshaw Sarah Jessica Parker Queridinha dos telespectadores, antes do filme a escritora tinha um livro publicado e escrevia para a revista Vogue e para um jornal. Três anos se passaram e algumas coisas mudaram na vida da moça, que continua apaixonada pelo Mr. Big (Chris Noth). Será que agora eles casam?   Charlotte York Kristin Davis A mais certinha das amigas - o sonho dela é encontrar o príncipe encantado. Desde criança, já pensava em nomes para os filhos. O que ela não sabia é que teria problemas para engravidar. Na série, a moça se casa duas vezes e adota uma criança. No filme, boas surpresas a aguardam. Quem sabe um filho biológico não pinta por aí? Especialistas dizem que é possível, sim!   Samantha Jones Kim Cattrall A fogosa Samantha é uma relações públicas de sucesso e que adora aparecer. Sempre bem-vestida, não dispensa uma transa casual e odeia se comprometer com os homens. O que ela quer é farrear. A mais velha da turma, já com 50 anos no filme, engata um namoro com um rapaz bem mais novo. Mesmo assim, não perde a vontade de ter outros casos. Durante a série, ela passa por uma fase difícil, já que sofre de câncer de mama e luta para dar a volta por cima.   Mr. Big Chris Noth Tem gente que gosta. Outros não suportam. Com ar de galanteador, fisgou o coração de Carrie e fez com que ela não o esquecesse mais. Entre idas e vindas, terminaram a última temporada juntos. Mas como nada é para sempre, o filme mostra o que aconteceu depois de três anos entre o fim da série e a estréia do longa-metragem.

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