Rede estadual voltará a ter boletim

Há dez anos, com a progressão continuada, apenas algumas escolas repassavam informalmente as notas

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Por Renata Cafardo
Atualização:

A partir do mês que vem todos os alunos das escolas estaduais terão boletins com suas notas, que serão entregues por bimestre. Hoje, as escolas optam entre elaborar ou não cadernetas com a avaliação dos estudantes; algumas apenas comunicam verbalmente o desempenho aos responsáveis. Agora, o Estado vai fornecer impressoras a laser para unificar a forma do boletim e torná-lo obrigatório. Eles serão entregues aos pais dos alunos - apenas os que forem maiores de idade receberão suas notas. O custo da iniciativa será de R$ 1 milhão por ano. A intenção da Secretaria de Estado da Educação é de que os pais possam acompanhar o desempenho de seus filhos nas escolas. Também ficará mais fácil para o governo ter mais informações sobre as avaliações feitas com os alunos. Além das notas de 0 a 10, haverá ainda no boletim um comentário feito pelo professor sobre o estudante. "Vamos recuperar o boletim, que é um instrumento de acompanhamento da vida escolar que existe em todas as boas escolas particulares", disse a secretária Maria Helena Guimarães de Castro. Nos últimos dez anos, o sistema de progressão continuada - que pressupõe avaliação constante e repetência somente ao fim dos ciclos - fez com que o boletim perdesse importância nas escolas da rede estadual. A progressão não funcionou na prática e acabou sendo considerada uma aprovação automática de alunos, sem avaliações ou sistema de notas objetivo. Até o início deste ano, escolas poderiam optar pelo conceito que dariam aos alunos: números, letras ou qualquer outra opção. "Havia escolas que avaliavam os alunos com ?epa?, ?oba?, ?eba?, algo assim", conta a secretária. Em maio, a então responsável pela pasta, Maria Lúcia Vasconcelos, determinou que as notas passariam a ser expressadas apenas entre 0 e 10. Além disso, os arredondamentos deveriam ser feitos para cima, o que causou polêmica porque poderia ajudar os maus alunos. Agora, segundo Maria Helena, os professores já terão de expressar suas notas apenas com números inteiros para que não haja necessidade de arredondamento. A ajudante geral Cosma de Lima Araújo, de 35 anos, têm quatro filhos em escola pública e diz que nunca recebeu um boletim. "Se o governo for mesmo mandar o documento para gente vai ser bom." A arrumadeira Maria da Piedade da Silva, de 33 anos, mãe de três filhos, acredita que se recebesse em casa uma avaliação do desempenho das crianças poderia ajudá-las mais. "Meu menino está na 2ª série e não sabe ler direito, gostaria de poder fazer mais por ele." De acordo com a secretaria, os boletins agora serão impressos nas diretorias de ensino e enviados às escolas. Os pais terão de assinar o documento. A doméstica Vera Lúcia Maria de Jesus conta que só sabe das notas da filha de 12 anos quando vai à reunião de pais. "Acho que ele está indo bem quando faz as tarefas", explica o porteiro João Pereira da Silva, de 36 anos, que é pai de um aluno da 7ª série e diz que avalia o desempenho do menino ao checar suas lições. "Às vezes ,as pessoas se preocupam mais com avaliações do que com a aprendizagem", diz o educador da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Artur Costa Neto. Segundo ele, os conceitos de 0 a 10 ou em letras são irrelevantes. "O importante é o professor saber se o aluno está aprendendo ou não." O especialista também discorda de uma unificação das notas na rede porque acredita que esse é um elemento que deveria ser definido em cada escola de acordo com seu projeto pedagógico. "O professor não pode ficar restrito a uma ou duas avaliações para colocar a nota no boletim", diz o presidente do sindicato dos professores (Apeoesp), Carlos Ramiro. Ele também acredita que apenas os boletins não farão com que aumente a participação dos pais na vida escolar. "A educação não é feita só pelas escolas, eles precisam ir lá e conversar com os professores de seus filhos." COLABOROU ELISANGELA ROXO

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