Prepare-se para o ziriguidum

Com a proximidade do carnaval, escolas de dança oferecem cursos de samba para não deixar ninguém de fora

PUBLICIDADE

Por Ciça Vallerio
Atualização:

Está dada a largada para o carnaval. Neste mês de aquecimento para os desfiles das escolas de samba, o baticum ecoa com mais força pela cidade. Clubes preparam seus bailes. Os ensaios que acontecem nas agremiações fervem. E quem não tem samba no pé, dança. Por isso, esta é a hora de se inscrever nos vários cursos de curta duração, abertos especialmente para aqueles que estão cansados de ficar de fora da roda, admirando de longe quem domina a arte do gingado mais popular do País.

 

PUBLICIDADE

Nesta época do ano, a procura por cursos de samba aumenta muito, conforme atesta Verônica Rodrigues, administradora da Escola de Dança Jaime Arôxa, unidade Santana. "Em quase todos os lugares, só se toca samba-enredo e ninguém quer fazer feio", diz. "Até estrangeiros nos procuram para aprender e curtir mais o carnaval." Além do curso básico, há o "intensivão da folia", que inclui aulas de gafieira, pagode e samba rock.

 

No ano passado, o gerente de contas Fernando Felix, de 32 anos, matriculou-se no "intensivão", que é realizado durante todo o mês de fevereiro. "Sempre ia para as baladinhas de pagode e samba, via o pessoal dançando e sentia a maior vontade de estar no meio", lembra. "Mas como era travado, acabava ficando nos cantos com um copo na mão."

 

Incentivado pela ex-namorada, Fernando criou coragem para frequentar as aulas. Empolgado com o resultado, matriculou-se no curso de dança de salão e não saiu mais. Perdeu a inibição e até participou da apresentação de fim de ano promovida pela escola, na qual dançou a caráter samba e forró. E tem mais: agora que virou um pé-de-valsa, ganha pontos na hora da paquera. "O cavalheiro que dança é mais solicitado pelas mulheres", conta. "Saber conduzir uma dama é ter algo a mais." No mês que vem, participará novamente do curso intensivo de samba, pois quer aperfeiçoar ainda mais a técnica.

 

Grande parte das escolas de dança oferece o curso "samba no pé", para turmas mistas e, geralmente, bem iniciantes. Algumas, porém, organizam aulas separadas para homens e mulheres. "Enquanto os passos masculinos estão concentrados no calcanhar, os femininos ficam na parte frontal dos pés", explica Kátia Vieira, professora da Escola de Dança Celso Vieira, localizada no bairro Ipiranga.

 

Além da técnica dos passos, as mulheres aprendem, nessas aulas, a usar mais o quadril e a desenvolver movimentos com os braços, de forma a ganhar graça e sensualidade. Entre os homens, geralmente mais "travados", o professor Rodrigo Nolasco reforça a "ginga de malandro", para dar leveza aos movimentos, com uma pitada de malícia.

 

A estudante de Veterinária Luciana Rabelo, de 22 anos, já tinha noções de samba, mas nenhuma técnica. Apesar de ter aprendido alguns passos nas aulas de dança de salão, ela sentiu necessidade de aprimorar seu gingado num curso específico do gênero. "Nas outras modalidades, sempre precisamos de parceiro, pois é ele quem nos conduz", observa. "Mas como na turma feminina de samba não há o cavalheiro, pude improvisar mais e, com isso, ganhei maior segurança."

Publicidade

 

O soldado da Força Aérea Diego dos Santos Teixeira, de 22 anos, fez aulas de samba exclusivas para homens, na tentativa de sair do dois-pra-lá-dois-pra-cá. "Era daquele tipo que não sabia nada", confessa. "Quando me arriscava a dançar, apenas tentava não pisar no pé da menina." Ao saber que um colega frequentava um curso de dança de salão, seguiu o mesmo caminho e passou a não dar ouvidos às gozações de colegas do quartel - diziam que ele fazia balé.

 

O Espaço de Dança Andrei Udiloff acaba de abrir novas turmas. Além do básico "samba no pé", há cursos específicos para mulheres - o "fértil" - e para homens - este batizado de "ginga". O primeiro desenvolve um trabalho de resgate da feminilidade, com a valorização do gingado do samba; e o segundo foca o posicionamento corporal masculino.

 

Adriana Rocha de Barros, de 43 anos, adorou o curso "fértil": diz que, finalmente, conseguiu sambar e, de quebra, deixou aflorar sua sensualidade. "Mexe muito com a autoestima." Este ano ela vai repetir a dose, com o objetivo de lapidar mais o requebrado.

 

 

 

ESCOLAS CARNAVALESCAS

 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Outra opção para aprender a sambar é checar as ofertas de cursos nas várias agremiações espalhadas pela cidade. Uma delas, a Mocidade Alegre - que foi campeã do carnaval 2009 e está localizada no bairro do Limão - mantém aulas durante todo o ano, exceto em fevereiro, quando todos os esforços são voltados para os preparativos do desfile. O professor é o coreógrafo e dançarino Robério Theodoro, de 28 anos. Fera do samba, é conhecido por preparar passistas para desfilar na avenida e também aquelas que vão concorrer ao posto de rainha do carnaval e da bateria.

 

É com orgulho que Robério conta como conseguiu transformar uma coreana em sambista, fazendo-a ganhar o concurso de rainha do carnaval na Coreia, em 2008. "Não foi fácil, porque orientais não têm molejo no corpo", revela o dançarino, que também oferece aulas particulares. "Mas após um intensivão de dois meses e meio, com três aulas por semana, a moça levou o primeiro lugar." Para difundir a cultura do samba, ele criou, há quatro anos, o projeto Quem não Dança, Samba, no qual dá aulas gratuitas para crianças carentes da redondeza.

 

Adultos podem aprender a sambar na quadra da Mocidade, mas precisam pagar mensalidade. Curiosamente, são os homens que mais procuram as aulas. Alguns querem se preparar para o desfile de carnaval, conta Robério, mas a maioria deseja mesmo fazer bonito entre as mulheres nos ensaios e nas festas que pipocam neste começo de ano.

Publicidade

 

Aula particular também tem sido uma alternativa para quem quer arrasar nos desfiles. A festejada passista Giseli Alves, de 39 anos, já treinou famosas como Ana Maria Braga, quando morava em São Paulo e "não sabia nada". Foi sua aluna também Luciana Gimenez, que precisava aprender a fazer os breques da bateria e a cumprimentar o público, com postura impecável, graça e técnica apurada. "A maior dificuldade das pessoas é coordenar os pés com os braços", avisa a dançarina e coreógrafa, que só ensina mulheres.

 

Giseli é também professora das aspirantes a rainha, como Andréia Fernandes, de 32 anos. Indicada pelo presidente da agremiação Imperatriz do Bairro Nova Gerty, ela vai concorrer a essa vaga em São Caetano. "Só tinha desfilado em ala, mas gostei tanto da experiência que resolvi me aprimorar para competir com mais segurança."

 

Na primeira vez em que participou de um concurso como esse, Andréia entrou na disputa mais com o coração do que com a técnica. Mas de tanto ver as passistas, percebeu a diferença. Desde outubro, sai do trabalho, na região de Guarulhos, e atravessa a cidade com sua moto para chegar à zona norte, onde a professora dá as aulas. "Todo mundo enrola como eu, dando uma chacoalhada para cá e para lá. Mas para ter classe e postura adequadas só com aula especial."

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.