Prazeres da carne

Livro propõe uma reflexão sobre a sexualidade e lança novos conceitos sobre o tema

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Por Cristiana Vieira
Atualização:

Em seu 30º livro, o psiquiatra Flávio Gikovate reafirma que a humanidade continua insistindo que sexo é uma manifestação de amor. Ele mostra como os pensamentos equivocados têm produzido consequências negativas, a exemplo dos casos de depressão. Aos leitores, propõe uma revisão dos conceitos e sugere que se pense com seriedade sobre sexualidade. Para isso, é preciso deixar o conservadorismo de lado.

Gikovate diz que o sexo é motivo de enormes preocupações. Seja em relação à competência sexual, ao desejo de corresponder a padrões de beleza e até à preocupação em relação ao tamanho do pênis e ao orgasmo feminino. Discorre sobre a vaidade, que classifica como prazer erótico de se exibir e despertar algum sinal de admiração, e sobre as diferenças entre desejo e excitação.

 

 

Ainda não se aprendeu a separar sexo de amor?

 

Não. É preciso entender que fazemos sexo e sentimos amor. Mas a humanidade continua insistindo que o sexo é uma manifestação do amor.

 

 

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O caminho para a evolução sexual parece ser longo, mas quais foram as mudanças mais marcantes?

 

Começou com a chegada da pílula, a revolução sexual, quando acompanhei o aumento brutal do exibicionismo feminino, quando elas diminuíram o tamanho do maiô e, consequentemente, acenderam a disputa entre os homens. O avanço mesmo foi fazer sexo oral e sair do "papai e mamãe". Mas a preocupação do homem continua sendo o tamanho do pênis e a da mulher, a chegada ao orgasmo.

 

 

O senhor diz que a revolução sexual é um tanto medíocre, por quê?

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Porque foi um movimento que reforçou o que as mulheres queriam combater, enfraqueceu as relações de amizade e aumentou o consumismo. Confundiram o que é liberar sexo com o que é amor.

 

 

Como se livrar das ideias pré-concebidas sobre sexo?

 

Hoje voltaram a usar o termo "servidão voluntária". As pessoas estão acostumadas a simplesmente obedecer. Nunca tiveram a chance de serem livres, mas continuam obedecendo. O legal mesmo é desobedecer para descobrir coisas novas. É aí que está a liberdade.

 

 

A valorização do sexo casual é sinal de imaturidade emocional?

 

Sim, pois ela só privilegia o cafajeste, que é imaturo, mentiroso, egoísta, capaz de envolver sem qualquer culpa ou preocupação com o sofrimento que pode causar. Mas se dá bem porque fala tudo o que a mulher quer ouvir. Desse ponto de vista, os homens mais maduros, mais preocupados em não magoar e mais competentes para amar, sentem profunda inveja dos cafajestes. Devido à delicadeza e cuidado em não serem invasivos, são vistos como menos sensuais.

 

 

Qual a relação entre sexualidade e agressividade?

 

Os primitivos mais agressivos foram os que fecundaram mais. Do ponto de vista biológico, me parece claro que existe forte associação entre a sexualidade, especialmente a masculina, e a agressividade. O que se justifica do ponto de vista da psicologia evolutiva, pois os mais fortes e mais violentos tiveram maiores chances de se reproduzirem numa selva primitiva, onde havia escassez de mulheres.

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O livro também fala sobre o individualismo. Quais as consequências que ele traz?

 

Começou com o rock, quando os casais se desgrudaram para dançarem separados. E o individualista cresceu graças ao avanço tecnológico. As pessoas sozinhas, antes vistas com preconceito (como as "solteironas"), são invejadas por serem independentes, o que virou um problema para o casamento, pois quem vive sozinho parece ter menos problema. Mas tudo isso acabou determinando uma crescente competitividade entre homem e mulher.

 

 

Por que a prática sexual hoje é definida pela indústria pornô?

 

Isso é fato. As mulheres detestavam sexo anal, hoje gostam por causa dos filmes pornôs. Ao mesmo tempo, essa indústria trouxe aflições antigas, como o tamanho do pênis. É um produto que estimula a fantasia.

 

 

Como enxerga o futuro?

 

O sexo casual vai ser substituído pelo sexo virtual, que é mais próximo da masturbação. Apesar da libertinagem parecer uma coisa boa, não funciona, pois as pessoas se apaixonam.

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