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Por que explorar o espaço ainda vale a pena

Com orçamento limitado, agência espacial dos EUA faz meio século

Por Joel Achenbach
Atualização:

Há muitas pessoas expondo o plausível argumento de que não podemos nos dar ao luxo de gastar dinheiro com o espaço quando temos tantos problemas para resolver aqui na Terra. Encontrar água em outro planeta pode soar como esoterismo para terráqueos que não dispõem de água potável em suas casas. Mas nós já somos, à nossa própria maneira, uma civilização exploradora do espaço. Conhecemos os princípios básicos do vôo aeroespacial. A grande pergunta é: para onde vamos? Era mais fácil de responder isso há meio século, no dia 1º de outubro de 1958, quando a Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, iniciou suas operações. Naquele momento, tudo o que precisávamos era chegar até o espaço, para além da atmosfera. Também tínhamos bom entendimento de como fazê-lo: colocaríamos pessoas a bordo de foguetes. Os foguetes estavam conosco há poucas décadas e tiveram seu primeiro impacto dramático quando os nazistas os utilizaram para bombardear a Inglaterra durante a 2ª Guerra. O que ainda não se sabia ao certo em 1958 era se uma pessoa poderia sobreviver num ambiente sem gravidade. Os nossos primeiros foguetes tinham também o desagradável hábito de explodir na plataforma de lançamento. O porquê do vôo aeroespacial era óbvio: estávamos envolvidos numa disputa acirradíssima contra a União Soviética, que estava na dianteira em termos de espaço. Meio século depois, a Nasa enfrenta um cenário político, orçamentário e tecnológico mais complicado, e suas ambições não se limitam ao vôo tripulado. A busca por telescópios espaciais maiores, pela vida extraterrestre e por sistemas solares distantes segue a todo vapor, e sondas espaciais robotizadas têm produzido descobertas dramáticas com regularidade. Mas o olhar do público tende a se concentrar nos grandiosos planos da agência de enviar astronautas para além da órbita terrestre - e ninguém sabe se eles se concretizarão. A Nasa está no processo de concluir a estação espacial internacional, aposentar o ônibus espacial e construir nova arquitetura para levar o ser humano ao espaço. A Visão Para a Exploração Espacial, adotada em 2005, prevê o retorno de astronautas à Lua e o estabelecimento de uma base permanente no satélite para fazer experimentos e servir como ponto de partida de missões que algum dia podem incluir a chegada do homem a Marte. Mas sem a corrida espacial, essa visão tem de progredir a despeito da burocracia, mantendo-se dentro do apertado orçamento da Nasa. Isso significa que a maior parte do dinheiro para a construção do novo sistema só estará disponível quando o ônibus espacial for aposentado em 2010. Significa também que os Estados Unidos serão incapazes de mandar astronautas ao espaço durante cerca de 5 anos. O plano previa que pegássemos carona nos vôos russos. Mas o relacionamento entre EUA e Rússia deteriorou. Isso faz dos próximos anos uma época escorregadia para a Nasa. A qualquer momento o Congresso americano ou a Casa Branca podem decidir que as prioridades não incluem o envio de pessoas de volta à Lua. Joseph Alexander, do Conselho de Estudos Espaciais da Academia Nacional de Ciências, disse temer que a Nasa esteja sendo "preparada para fracassar". "Neste momento, o programa corre o risco de despencar completamente", diz . "Dentro dos limites que essa administração impôs ao orçamento da Nasa, não se pode chegar lá a partir daqui." Por que ir até o espaço? Em parte é uma questão de prestígio, diz o administrador da Nasa, Michael Griffin. Trata-se, sem dúvida, de estratégia. A história tende a ser escrita por países que exploram. Griffin enfatiza que não saberemos com antecedência como o espaço pode ser útil. "Fundamentalmente, é uma questão de sobrevivência humana", diz. "Se acreditamos que vale a pena preservar a vida humana, então temos de encarar o fato de que a história da vida na Terra é a história de eventos de extinção. No longo prazo, é bom diversificarmos nosso portfólio."

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