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Pode faltar verba contra febre amarela, diz OMS

Crise econômica levou fundo global a reduzir em 10% o orçamento de projetos; dívida é de US$ 186 milhões

Por Jamil Chade e GENEBRA
Atualização:

A crise econômica mundial e os surtos no Brasil colocam em risco programas internacionais de combate à febre amarela. A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez ontem um alerta inédito: o programa internacional contra a doença pode simplesmente acabar em 2010 diante da falta de recursos, deixando milhões de pessoas desprotegidas, principalmente na África. Entenda a doença, seus sintomas e veja a situação no Brasil O estoque emergencial de vacinas deve terminar no ano que vem e, por enquanto, a OMS não tem dinheiro para comprar mais nem para saldar uma dívida milionária. Há um mês, o Fundo Global contra Aids, Tuberculose e Malária anunciou que estava reduzindo em 10% todo o orçamento de novos projetos. Ontem, a OMS concluiu dois dias de reunião sobre a situação da febre amarela. Entre os participantes estavam representantes da Fiocruz, que é um dos três maiores fornecedores de vacina contra a doença. Sem dinheiro da OMS para comprar as vacinas, esses laboratórios não têm como investir em uma ampliação da produção. "Sabemos que, se chegássemos com ordens de médio prazo e em volumes grandes para as empresas, esses laboratórios estariam mais do que dispostos a ampliar sua produção", diz Rosamund Lewis, líder da Iniciativa contra a Febre Amarela da OMS. Se parte da solução está no Brasil, parte do problema se deve à volta de surtos da febre amarela no País. Com o aumento no número de casos no Brasil e na África, a OMS ficou sem parte de seu estoque de 6 milhões de doses da vacina. O Ministério da Saúde brasileiro compra estoques da vacina e não há risco de falta no País. Para 2009, foram adquiridos 28,5 milhões de doses. RECURSOS A constatação da OMS é de que os doadores abandonaram os programas nos últimos meses por causa da crise e, hoje, a entidade tem um rombo de US$ 186 milhões. Sem dinheiro e com dívidas, a OMS não tem como avançar seus projetos de imunização de populações na Nigéria e em Gana. Para a OMS, a crise financeira terá impacto direto sobre o combate contra o vírus da febre amarela. "Se olharmos para além de 2009, já vemos restrições sérias de financiamento", disse William Perea, coordenador de intervenção e prontidão epidêmica da entidade. Para ele, não há dúvidas de que, com a crise, governos que costumavam fazer doações suspenderam os pagamentos. "Apesar de a produção da vacina ter triplicado desde 2001, a manutenção do programa agora está limitada por falta de recursos para comprar esses produtos e distribuí-los já em 2009", disse. Na avaliação de Fenella Avokey, representante do escritório regional da OMS na África, sem os recursos, milhões de crianças ficarão expostas à doença. Há ainda o risco de que o aquecimento global espalhe o vírus ainda mais. Por ano, 52 mil pessoas morrem de febre amarela no planeta. A doença, transmitida por mosquitos, infecta 206 mil por ano. "Para 2011, o Programa da OMS contra a Febre Amarela não tem recursos nem para os estoques emergenciais nem para as campanhas contínuas de prevenção", afirmou Rosamund Lewis. Segundo ela, os programas de vacinação, prevenção e resposta a surtos terão de ser interrompidos. Isso só mudaria se a OMS recebesse novos recursos. O que mais preocupa é que a população mais vulnerável está nos países mais pobres. Na África, 508 milhões de pessoas vivem em zonas de risco. Na América do Sul, nove países têm a doença como endêmica, entre eles o Brasil. NÚMEROS 43 casos de febre amarela foram registrados no Rio Grande do Sul e em São Paulo entre novembro de 2008 e abril deste ano, segundo dados do Ministério da Saúde 16 mortes foram confirmadas no mesmo período por causa da doença 2,2 milhões de doses da vacina contra a febre amarela foram aplicadas no Rio Grande do Sul. Em São Paulo, 1,5 milhão de pessoas foram imunizadas 28,5 milhões de doses de vacina foram adquiridas pelo País para este ano. A previsão para 2010 é de que haja um aumento na compra

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