Pará não consegue impedir avanço do desmatamento

Altamira e Novo Progresso têm grande nº de focos de incêndio; dados mostram aumento da devastação

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Por Afra Balazina
Atualização:

Mato Grosso, Estado que era considerado campeão em desmatamento da floresta amazônica, saiu dos holofotes. Agora, as atenções se voltam para o Pará. Os municípios de Novo Progresso e Altamira, principalmente, estão pegando fogo - os inúmeros focos de incêndio têm levado apreensão ao governo federal. "O desmatamento se concentrou próximo à BR-163, que sempre foi complicada. O Inpe mostrou em seus dois últimos levantamentos que a região tem o maior desmatamento da Amazônia", afirma o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente). Dados obtidos pelo Estado corroboram a preocupação. Em agosto (até sexta-feira passada), foram registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) 2.410 focos em Altamira e 1.820 em Novo Progresso. Só em julho, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Altamira teve 131 km² de desflorestamento e Novo Progresso, 59 km² - são, respectivamente, campeão e vice na lista de desmatadores da Amazônia do mês. As áreas equivalem aos territórios de Americana e Águas de Lindoia (SP). Os números mostram ainda que, em um só mês, Altamira ultrapassou o desmatamento acumulado entre agosto de 2008 e junho de 2009, quando foram ceifados 94 km² de floresta. Para Novo Progresso, o dado também é alarmante, se for levado em conta que, entre agosto de 2008 e junho deste ano, o município perdeu 146 km² de matas. Gilberto Câmara, diretor do Inpe, explica que nesta época do ano os dados de queimadas da Amazônia têm uma boa correlação com os de desmatamento. "Estão queimando o que foi desmatado", conclui. O Inpe mostra em tempo real, pela internet, os focos de incêndio pelo País. As imagens também ajudam o Ibama a atuar em campo. "Teoricamente, como é possível saber na hora o que está acontecendo, pode ser tomada uma medida imediatamente", afirma Alberto Setzer, pesquisador do Inpe responsável pelo monitoramento das queimadas via satélite. PERFIL O Imazon monitora o desmatamento de forma independente do governo. Mas tanto Inpe quanto Imazon concordam que o Pará merece atenção e que está havendo uma alteração no perfil do desmate. As análises indicam que o corte de floresta está mais relacionado com a luta pela posse da terra do que com as commodities. "Não se trata de terra para o setor produtivo", diz Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon. Para Câmara, o problema pode estar relacionado à medida provisória 458, que trata da regularização fundiária da Amazônia e foi apelidada de "MP da Grilagem" por ambientalistas. Sancionada em junho, ela abre a possibilidade para que posseiros formalizem juridicamente seu direito às propriedades e prevê, por exemplo, a doação das terras quem possua até 100 hectares e uma cobrança simbólica para propriedades de até 400 hectares. A justificativa para a medida é que, com a regularização, será mais fácil fiscalizar e punir quem desmatar. MUDANÇA DE RUMO A Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Pará (Sema) tem consciência do desafio que precisa enfrentar. "A frente do desmatamento se deslocou de Mato Grosso em direção ao Pará. Aqui se diz que, se o Pará fracassar nesse combate, os criminosos seguirão para o Estado do Amazonas. É o perigo que ronda a floresta", informa a secretaria por meio de nota. A pasta afirma que o Estado tem investido em seu reaparelhamento. "O dinheiro obtido com leilões públicos de madeiras ilegais apreendidas pelo Ibama e pela Sema nos dois últimos anos e meio tem se destinado a reconstruir a secretaria para as atuações em campo em um Estado continental."

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