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Pais não foram informados do problema no pré-natal

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Por Redação
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Cento e vinte quilômetros de estradas esburacadas separam Sueny, moradora de Cuité, a 240 km de João Pessoa, e Maria Rita, de Campina Grande, segunda maior cidade da Paraíba. A professora e a dona de casa são mães dos dois bebês que nasceram nos últimos dois anos no Estado com malformações suspeitas da síndrome da talidomida, que resulta em redução de membros. Sueny Lopes dos Santos, de 31 anos, não tem certeza sobre quais medicamentos tomou na gravidez e diz não ter pessoas doentes na família que usem a droga. Maria Rita também não acredita ter ingerido talidomida e diz não ter parentes que podem ter usado o remédio.A professora soube da gravidez só no fim do terceiro mês. Decidiu pagar consultas particulares do pré-natal, por acreditar que assim seria mais bem atendida. Nem mesmo foi informada das malformações no braços de Ana Clara, hoje com 2 anos, detectáveis via ultrassom. A preocupação com o pré-natal também fez a dona de casa Maria Rita Alves, de 36 anos, que planejou a gravidez, pagar pelos exames em Campina Grande. A obstetra até cochilava em algumas consultas, recorda, mas ela foi informada da ausência de membros de Helinton, também de 2 anos."Até no fim, diziam: mulher tu vai ter, tu vai sofrer, vão criticar. Que critiquem, o filho é meu", conta. Maria Rita relata ter tomado remédio para enjoos, vitaminas, tudo indicado pela médica. "Não sei nem responder, é tanta coisa na cabeça da pessoa. Uns dizem que é coisa de Deus, outro de remédio. Não adianta dizer que foi o remédio sem saber", afirma a mãe, que resolveu pagar um plano de saúde para cuidar melhor do filho e buscar respostas em um especialista. Ainda não recebeu nenhuma visita de uma autoridade.Também Sueny ainda aguarda investigações em um hospital filantrópico de Recife. "Quando a Ana Clara nasceu, acordei no quarto e a psicóloga me deu um susto. Ela disse "não tem mão", só que ela tem alguns dedinhos. Depois do primeiro impacto, veio a vontade de criar direito, fazer bem", recorda a mãe. "Ela me surpreende. Conhece as letrinhas, conhece cor", completa Sueny.O pai de Ana Clara, Ítalo, professor de jiu-jítsu, afirma que depois da "pancada", a descoberta da malformação, passou a defender mais ainda o respeito às pessoas com deficiências. "Quando falam aleijado do meu lado, não deixo." Tatuou bem grande nas costas: "Ana Clara, presente de Deus."

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