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Opinião de Lula sobre fumo gera críticas no governo

?Eu defendo o uso do fumo em qualquer lugar, só fuma quem é viciado?, afirmou o presidente a repórteres

Por Fabiane Leite
Atualização:

Militantes antitabagistas e integrantes do Ministério da Saúde classificaram ontem como "individualistas" e "autoritárias" as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a favor do fumo em locais fechados, e cobraram que o chefe do Executivo dê um "bom exemplo" à população, abolindo o hábito de fumar sua cigarrilha no Palácio do Planalto. Anteontem, durante entrevista a jornais populares, Lula foi questionado sobre projeto do governo federal que proíbe o fumo em locais fechados, e fez defesa direta do seu hábito: "Eu defendo, na verdade, o uso do fumo em qualquer lugar. Só fuma quem é viciado", declarou o presidente. Segundo relatos de repórteres, o presidente fumava uma cigarrilha. A assessoria de imprensa do Planalto confirmou as declarações na tarde de ontem e informou que o presidente não comentaria as críticas. "Ele já expressou sua opinião, não há o que agregar", informou a assessoria. "Me parece que será muito bom se todos os ambientes governamentais forem livres de fumo", afirmou a oncologista Nise Yamaguchi, representante do Ministério da Saúde em São Paulo. Ela destacou, no entanto, que sua posição condiz com sua história de luta contra o tabagismo. "Existe a necessidade de coibir o fumo para proteger a pessoa e as famílias. Eu não sei se ele desconhece isso, mas o presidente vai se beneficiar se passar um bom exemplo à nação", continuou Nise, que já aconselhou diretamente o presidente a parar com o fumo. Segundo ela, nos momentos em que fez a sugestão, o presidente estava cercado de outras pessoas, riu e desconversou. "A população vai se beneficiar se o presidente buscar ajuda para parar de fumar, o Brasil ganharia muito. É bom para ele e para o povo brasileiro", disse. "A proibição total do fumo em ambientes fechados é um passo que tem de ser dado. O projeto de lei vai ser encaminhado e vamos dar esse passo importante para a saúde pública brasileira, tenho certeza disso", afirmou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ontem. Ele disse considerar que o comentário do presidente foi feito em um contexto totalmente diferente. "Estamos rindo para não chorar. Esperamos que ele reveja essa posição. Não faz sentido falar algo autoritário e individualista sendo que é presidente de um país signatário de convenção internacional que defende o fim do fumo em locais fechados", afirmou Paula Johns, socióloga e diretora-executiva da Aliança de Controle do Tabagismo. "Ficamos pensando se de repente o presidente não pensa nas pessoas que entram e saem de seu gabinete. É um absurdo que ele defenda a sua necessidade contra os direitos dos outros", continuou. A ONG solicitou ontem mesmo audiência de um grupo de entidades antitabagistas com o presidente, para esclarecê-lo sobre os males do fumo passivo. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o fumo passivo mata sete pessoas por dia.

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