O amor no divã

Livros mostram como as ferramentas da psicanálise ajudam na terapia de casais

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Por Agencia Estado
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Ele levou a terapia para as areias de Ipanema, desempoeirou a psicanálise e traduziu para os leigos conceitos como o Complexo de Édipo, o narcisismo, o sadismo, o masoquismo. Foi também um dos primeiros a alertar para a falência do modelo tradicional de casamento. No ano e no mês em que se completa uma década da morte de Eduardo Mascarenhas, a Editora Guarda-chuva lança Faces do Amor - Escolhas, Desejos e Outras Inquietudes, uma coletânea de 35 artigos do psicanalista, com seleção realizada pelas filhas dele, Manuela, Luisa e Antônia. ´Mais difícil do que escolher os textos foi a expectativa de realizar esse trabalho, de mexer com algumas emoções que não estávamos preparadas para viver´, lembra Luisa. O resultado, para elas, e para os leitores, não poderia ser melhor. ´Ele escrevia como falava. Ler seus artigos é como conversar com ele em pessoa, deu uma saudade boa, que traz mais a presença do que a falta. A gente viu o quanto ganhou tendo ele como pai´, revela. Quem se coloca em contato com os textos de Mascarenhas percebe a facilidade que ele tinha de simplificar, para o consumo de massa, temas que antes eram restritos aos consultórios dos psicanalistas. Não foi à toa que se tornou pioneiro na popularização da psicanálise no Brasil, com colunas em diversos jornais e participações na TV. Os textos selecionados focalizam o mais popular e inquietante de seus temas: o relacionamento amoroso. E ele vai do homossexualismo ao incesto, do mulherengo ao marido avarento, do ciúme à frigidez. ´Não é achismo, não é intuição. Ele tinha consistência intelectual e apelo popular. Alguns exemplos que ele cita ficaram datados, mas o assunto não perde a atualidade´, acredita Luisa. Mascarenhas, lembra a filha, era a favor da liberdade plena. Sempre estimulava o ´liberou geral´, expressão muito usada por ele para dar fim às restrições, censuras e regras. ´Tem muita gente que fica no discurso e não vive segundo suas idéias. Ele era coerente nas coisas que falava e vivia.´ Ele viveu pouco, mas deu tempo de realizar muitas coisas. Como relata a apresentação, Mascarenhas ´amou muito, estudou muito, produziu muito, ensinou muito, conheceu muita gente, teve três filhas, três casamentos e, além da psicanálise, teve tempo de descobrir uma outra paixão: a política (foi deputado federal por sete anos)´. E foi polêmico a vida toda. Quando o senso comum ainda questionava o divórcio, Mascarenhas não hesitou em afirmar que o casamento, assim entendido como pacto puritano de conveniências, estava falido. ´Ao dizer que o casamento tradicional está, senão falido, em vias de pedir concordata, longe de mim dizer que o casamento em si esteja falido´, ressalvou. ´Discordo profundamente dessa frase tão repetida de que a rotina corrói a poesia do amor, que viver debaixo do mesmo teto representa a morte da paixão. O convívio prolongado e cotidiano, pelo contrário, pode representar justo o oposto.´ O que corrói a poesia, esfria a sexualidade e mata a paixão, segundo Mascarenhas, é o convívio cotidiano realizado com baixo grau de mútua inspiração. ´São as mágoas acumuladas num dia-a-dia mal vivido. As mágoas dos desencontros é que envenenam a poesia do relacionamento e acabam se convertendo em apatia, frieza, ódio ou indiferença.´ Como ele dizia, o amor é um sentimento estranho. Só lendo Mascarenhas para entender.

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