Nova safra de designers traz moda diferenciada para São Paulo

Ele começam sorrateiros, criando poucas peças e vendendo-as para amigos, até surgir a ideia da loja própria

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Por Ciça Vallerio
Atualização:

“A oferta de empregos pode estar sendo reduzida, mas o trabalho, não”, costuma dizer a coordenadora Jung Ro para os alunos do curso de Design de Moda e Habilitação em Estilismo do Centro Universitário Senac. Muitos começam sorrateiros, criando poucas peças e vendendo-as para os amigos. O boca a boca vai se intensificando e, quando se dão conta, a produção cresceu e a ideia de abrir uma empresa torna-se real – e aí não importa a idade.

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Millena Nunes tem só 22 anos e acabou de inaugurar sua loja de roupas femininas nos Jardins. Logo que se formou em Moda pela Faculdade Santa Marcelina, uma das peças desenvolvidas para o seu trabalho de conclusão de curso virou capa de revista. Foi o impulso para desenvolver sua marca. “Aproveitei a estrutura da loja multimarcas dos meus pais para confeccionar uma pequena coleção, e vendi superbem”, diz a garota, cuja grife leva seu nome.

Com a cara e a coragem, tentou uma vaga em um evento que expõe novas marcas para lojistas do Brasil inteiro. Conseguiu 10 pontos de venda. Hoje, já são 25 e Millena comemora com o endereço próprio: desde o início do mês, sua loja está funcionando em um casarão da Rua Peixoto Gomide.

 

Do hobby ao negócio

Camila Machado, de 28 anos, inaugurou no começo deste ano – em plena crise econômica – sua segunda loja, a Lascivité (luxúria, em francês), na Vila Madalena. Tinha 23 quando abriu sua primeira loja no Brooklin. “Sempre procurei me informar ao máximo para correr o mínimo de risco possível”, conta Camila (foto da capa), grávida de seis meses do primeiro filho. Em seu currículo, há vários cursos sobre empreendedorismo no Sebrae (Serviço Brasileiro às Micro e Pequenas Empresas), incluindo um específico sobre moda.

Precavida, depois que abriu seu negócio, ela continuou trabalhando em uma empresa de consultoria em Recursos Humanos, área na qual se formou antes de assumir a profissão de estilista. Colocou sua mãe, uma ex-costureira, para cuidar da loja enquanto dava expediente no emprego formal. Em um determinado momento, porém, sua presença tornou-se indispensável. Foi quando largou o emprego fixo para investir com tudo no seu sonho.

“As pessoas acham que é só abrir uma loja, decorar e colocar roupa bonita à venda”, observa. “Mas é fundamental saber como manter a clientela, fazer o marketing, ouvir os desejos das consumidoras, aprender a vender e até contratar, fora os muitos outros processos que envolvem um negócio de moda.”

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Daphne Dias, de 26 anos, lançou a Pipperia (fala-se “pipéria”, que significa pimenta em grego) em 2004, quando começou a confeccionar roupas femininas para bazares. Esse foi seu laboratório, logo que se formou em Moda pelo Senac. Antes de inaugurar um endereço fixo, direcionou sua produção para o atacado e passou a vender para lojistas. O negócio cresceu e a estilista investiu no próprio espaço. Deixou o apartamento da mãe, onde funcionava seu bunker de moda, para abrir sua loja, com área reservada para o escritório.

Por não se tratar de um ponto de venda de grande visibilidade, Daphne desenvolveu uma maneira diferente de vender as peças. “Mando entregar na casa das clientes antigas os lançamentos. Já enviei modelos pelo correio para pessoas de fora de São Paulo, que veem as novidades no site.” Se não fosse assim, poucas se arriscariam a entrar no prédio de dois andares onde ela se encontra, cuja fachada é forrada de heras, sem cartazes nem letreiros.

Confraria fashion

O tal “prédio das heras”, como é conhecido, está localizado no começo da Rua Joaquim Floriano, no bairro Itaim Bibi, e concentra outras jovens empreendedoras da moda, além de Daphne.

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Antes das irmãs Viviana e Corina Ximenes – de 30 e 28 anos, respectivamente – chegarem com a sua grife de roupas femininas Vi and Co, só havia médico, dentista e arquiteto por lá. “Abraçamos a causa e decidimos chamar as amigas que também trabalhavam com moda”, diz a estilista Corina, que é formada em Administração e tem MBA em Gestão de Moda. Hoje, o segundo andar inteiro tem lojinhas de moda, todas com as portas abertas. No maior tititi, elas chegam a organizar vários eventos.

O último, chamado TPM, aconteceu no fim de outubro e causou frisson entre a clientela. Com taças de espumante e docinhos à vontade, as irmãs Ximenes – com apoio de outras lojas – chamaram um profissional para maquiar as convidadas, e uma “adivinhadora do futuro” lia a borra de café para aquelas que aguardavam a vez.

Hoje o prédio das heras tem 11 lojas de moda, que reúnem cerca de 30 mulheres, entre vendedoras e proprietárias. De lá, Priscilla Whitaker, de 26 anos, e sua sócia Regina Nogueira, de 29, não saem tão cedo. Elas são as donas da loja de sapatos femininos Les Copines (“as amigas”, em francês).

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Talentos diversos

Priscilla está no ramo de calçados desde os 17 anos. Primeiro, como atendente de uma loja do shopping Iguatemi. Depois, foi trabalhar com Francesca Giobbi, designer respeitada. Aos 23, lançou sua marca e passou a produzir sandálias para lojas de São Paulo. Os pedidos foram aumentando, mas ela tinha uma certeza: só abriria seu espaço após um ano de labuta.

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“Não inaugurei a loja no impulso”, diz Priscilla, que é formada em Arquitetura e Desenho de Moda. “Já conhecia bem o processo. Meu pai não acreditava muito no meu negócio quando me emprestou R$ 14 mil para eu fazer minha primeira coleção. Hoje tem orgulho e só ajuda a esclarecer minhas dúvidas na parte administrativa.”

Vizinha da Les Copines, está Amanda Senna, de 25 anos, que inaugurou uma loja de biquínis e roupas casuais, a C’est la Vie. Formada em Publicidade, ela se juntou à amiga Elaine Kotowicz. “Começamos adaptando os biquínis que comprávamos, deixando-os adequados aos nossos tipos físicos. Quando íamos à praia, todo mundo encomendava modelos iguais”, conta Amanda. Foi assim que tudo começou. Após um ano, a marca está também nas prateleiras de lojas como a Pelu, em São Paulo, e em dois endereços no Rio de Janeiro.

Em meio a muita roupa, está a Makat, loja de acessórios semipreciosos. Nas gavetas, dispostas ao centro da pequena sala bem decorada, estão colares, anéis, brincos e muitos outros adornos desenhados por Natasha Kayat, de 25 anos, e Virginia Macul, de 30. Elas se conheceram no curso de joias do IED Brasil – Istituto Europeo Di Design. Cada uma já fazia (e vendia) as suas peças quando resolveram abrir um negócio formal.

Começaram a vender em bazares, até que chegou a hora de inaugurar uma loja própria. “Durante muito tempo, atuamos como sacoleiras”, diverte-se Natasha. “Esse foi um importante caminho de aprendizado.”

Após um ano no prédio das heras, a dupla fez os dividendos crescerem. “Tivemos um considerável aumento na produção”, comemora Natasha, que se tornou professora do curso pelo qual se formou, no IED. “Mas queremos ir muito mais longe”, avisam.

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