Nasce bebê sem gene de câncer

Em Londres, médicos conseguiram selecionar embrião sem fator que aumenta em até 80% risco de tumor na mama

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Por Alexandre Gonçalves
Atualização:

O primeiro bebê britânico selecionado geneticamente para não ter um gene causador do câncer de mama nasceu em Londres, informou ontem o Hospital do University College (UCL, na sigla em inglês). Leia mais sobre seleção genética Em junho, a mãe, de 27 anos, decidiu recorrer à escolha genética. A equipe médica do UCL obteve vários embriões com o uso da técnica de fertilização in vitro e selecionou para implantação somente os que estavam livres do gene BRCA1, que predispõe ao tumor. Mulheres que carregam essa variação genética têm 80% de chance de desenvolver câncer de mama. Também há uma probabilidade alta de sofrer câncer de ovário - cerca de 60%. A técnica adotada não elimina, porém, a possibilidade de a criança desenvolver no futuro outro tipo de câncer ou mesmo o de mama, motivado por outros fatores genéticos ou ambientais. O embrião foi escolhido com a utilização da técnica de Diagnóstico Genético Pré-Implantação (PGD, na sigla em inglês), que envolve a remoção de uma ou duas células para identificar o gene defeituoso. A Autoridade de Embriologia e Fertilização Humana (HFEA, na sigla em inglês), órgão regulador responsável pelo procedimento, afirma que não houve manipulação ou reprogramação genética, apenas seleção de embriões. O PGD é proibido na Alemanha, Áustria, Itália e Suíça, mas permitido na Bélgica, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos e Grã-Bretanha. Na França, só se permite o diagnóstico de doenças genéticas incuráveis. Cerca de mil bebês no mundo inteiro já passaram pelo processo de seleção na fase de pré-implantação para detectar doenças como fibrose cística - que causa funcionamento anormal de várias glândulas do corpo - e doença de Huntington - que afeta o sistema nervoso central. SEM LEGISLAÇÃO Tanto a mãe como a menina passam bem, segundo informação do centro responsável pelo tratamento. A identidade dos pais não foi revelada, mas o hospital informou que o marido é portador do gene e que três gerações de mulheres da sua família - entre elas sua avó, mãe, irmã e uma prima - tiveram o tumor diagnosticado. A geneticista da Universidade de São Paulo (USP) Mayana Zatz explica que é preciso investigar primeiro o histórico e os genes dos pais para saber quais anomalias procurar no DNA dos embriões. "O tiro tem de ser certeiro", afirma Mayana. "Só podemos testar uma ou duas células." O Brasil não tem uma legislação para regular o diagnóstico pré-implantação e as universidades ainda estudam a técnica. "Em parceria com uma clínica (que cuida de pessoas com doença) de Huntington queremos descobrir como diagnosticar a síndrome em embriões", afirma Mayana. Filhos de pais com Huntington têm 50% de chance de desenvolver a doença. "Por enquanto, pretendemos mandar os embriões para serem testados nos Estados Unidos e, com o tempo, traremos a tecnologia para o Brasil." O advogado especialista em biotecnologia Reginaldo Minaré prevê uma grande discussão sobre a moralidade da seleção de embriões tão logo os cientistas brasileiros dominem a técnica.

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