Mulher diz que sensação é de alívio

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Por Mariângela Gallucci e BRASÍLIA
Atualização:

A apresentação do ministro José Gomes Temporão na audiência pública sobre anencefalia acabou sendo ofuscada ontem pelo depoimento emocionado do casal Michele e Ailton de Almeida, de Recife. Em 2004, eles receberam o diagnóstico de que o primeiro filho que esperavam tinha anencefalia e optaram pelo aborto. Na primeira audiência do Supremo Tribunal Federal (STF), realizada em 26 de agosto, o caso que chamou a atenção foi da bebê Marcela de Jesus Ferreira. Diagnosticada inicialmente como anencéfala, ela viveu 1 ano e 8 meses. Mas os médicos anunciaram depois que o bebê era portador de merocrania (outro tipo de malformação do sistema nervoso central). Ontem, acompanhado das filhas Nicole, de 3 anos, e Vitória, de 2 meses, o casal Michele e Ailton foi à Brasília para falar sobre sua experiência. Michele interrompeu a gestação em um hospital do Sistema Único de Saúde (SUS) no quarto mês de gestação. Ela não teve de pedir autorização da Justiça para ser submetida ao procedimento, pois na época, vigorava uma liminar, concedida pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello, que liberava a interrupção da gestação em casos de anencefalia. Posteriormente, a liminar foi cassada pelo plenário do Supremo. "Se eu não estivesse amparada pela Justiça e pelos médicos, acho que talvez não tivesse construído uma nova família", afirmou Michele. Michele, que é evangélica, disse que teve uma sensação de "paz e alívio" após a antecipação do parto. Seu marido contou que o casal queria muito o filho, concebido após tratamento para engravidar. "Quase desabei, não sabia o que fazer (quando recebeu o diagnóstico).", contou. Michele é personagem de um filme sobre anencefalia apresentado na audiência pela representante da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, Lia Zanotta Machado. No filme, também é contada a história da jovem Érica Souza do Nascimento, de São Paulo, cujo primeiro filho também tinha anencefalia. Ela interrompeu a gestação no período em que vigorava a liminar. Érica disse que na época uma pessoa religiosa chegou a aconselhá-la a manter a gestação "porque Deus providenciaria um cérebro para o bebê". Hoje, a jovem tem uma filha e disse que, após seu nascimento, conseguiu esquecer o drama vivido na primeira gestação. "Foi como (a dor) se apagasse da minha memória depois que ela nasceu", afirmou.

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