Muito antes dos primeiros dentinhos

O acompanhamento da gestante por um odontopediatra garante problemas de má-formação dentária

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Por Ciça Vallerio
Atualização:

A saúde bucal de uma criança começa já na barriga da mãe. Para evitar má formação facial no bebê, incluindo os dentes, a gestante deve estar saudável - e sua boca também. Mas muita gente não sabe disso. Acredita-se até que, durante essa fase, a mulher não pode tratar dos dentes. Erro crasso, segundo a odontopediatra Adriana Mazzoni, que lançou o Guia Prático de Odontologia para Gestante & Bebê (Editora Videomed, R$ 15). "A gengiva da mulher pode ficar mais sensível por causa das mudanças hormonais que ocorrem durante a gestação e, dessa forma, fica também mais vulnerável a sangramentos e inflamações", alerta Adriana. "Alguns estudos sugerem que problemas sérios na gengiva, como periodontite, podem antecipar o parto, porque a inflamação aumenta a produção de prostaglandina, que é uma substância do organismo que induz a contração. E bebês prematuros são mais suscetíveis a cáries." Há outras lições passadas por um odontopediatra especializado também no atendimento a gestantes. Por exemplo, como amamentar de maneira correta para não prejudicar o desenvolvimento da arcada dentária e o maxilar do bebê; qual a mamadeira mais indicada para cada situação; como administrar a chupeta para que a fala não seja prejudicada posteriormente; quando e como fazer a primeira higienização na boquinha antes mesmo de os dentes nascerem, etc. Muito comum nos Estados Unidos, a odontopediatria no Brasil é ainda procurada por poucas mulheres que têm acesso a informação e podem pagar pelo serviço. "Costuma-se levar a criança ao dentista quando ela tem entre 2 e 3 anos, geralmente, quando apresenta algum problema", diz Adriana. "Em vários casos ela chega ao consultório com os dentinhos bem mais comprometidos do que uma simples cárie." A prevenção é o grande diferencial. Parece impossível, mas as mães que foram bem orientadas desde a gestação conseguem ter filhos sem cáries. São crianças como Helena, de 8 anos, e Sofia, de 2, que exibem dentinhos perfeitos. Carolina Novak, a mãe, contou com os préstimos de um odontopediatra, durante os períodos de gravidez. "No consultório, aprendi a importância da amamentação para o desenvolvimento dos músculos orais e das arcadas", conta Carolina, de 29 anos. "É fundamental, por exemplo, mudar o lado da mamada para a face do bebê se formar com simetria." Quando as meninas ainda eram bebês, nem tinham dente de leite ainda, a mãe começou a limpar suas gengivas com o dedo enrolado numa gaze embebida em água morna. "Isso ajudou a amaciar a gengiva e a amenizar os desconfortos da erupção dos primeiros dentinhos." CUIDADOS Com a gengiva saudável, o bebê fica mais protegido de doenças como sapinho (infecção causada por fungo). Além disso, esse cuidado condiciona a criança para a higiene bucal, facilitando muito o hábito da escovação no futuro. "A prevenção reverte em economia, uma vez que não há necessidade de tratamentos caros e demorados depois. Deve-se fazer apenas a manutenção", lembra Adriana, que dá cursos para gestantes e profissionais da área, em instituições de odontologia. "Não basta apenas prevenir cáries, mas também problemas musculares, faciais, de fala, ortodônticos e estéticos." A primeira visita ao odontopediatra pode ocorrer no segundo trimestre de gestação, época em que a mulher está mais confortável, pois já passou pelos incômodos dos três primeiros meses iniciais. A próxima visita deve ocorrer por volta dos 6 meses de idade do bebê, quando nascem os primeiros dentinhos. Esse acompanhamento evita que hábitos nocivos da mãe prejudiquem a saúde do bebê e se perpetuem na infância, adolescência e fase adulta. A começar pela amamentação. Estima-se que durante a sucção do peito, o bebê faça em média 3.500 movimentos. Assim, os músculos orais e as arcadas se desenvolvem, preparando-os para a mastigação e fala. Por outro lado, o número das sucções em mamadeiras de modelos convencionais cai para cerca de 1.200. Uma diferença que justifica a função imprescindível da amamentação. A especialista alerta para outro problema: existem mães mal-informadas que cortam o bico da mamadeira para acelerar a alimentação da criança. "Isso pode causar sérios danos à formação dentária, facial e fala", explica Adriana. "Hoje existem modelos de mamadeiras com válvulas internas e furos no bico milimetricamente estudados para aproximar ao máximo das mamadas do peito. Por isso que a orientação do profissional é essencial ao bebê."

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