Mudança em bolsa de soro demora

Proibição da embalagem aberta, prevista há 5 anos, sai em fevereiro

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Por Mariana Barbosa
Atualização:

O Brasil deve proibir a comercialização de frascos e bolsas de soro hospitalar produzidos no sistema aberto no final do próximo mês. Fonte de infecções, esses frascos são raridade em outros países: até na África usa-se o sistema fechado - embalagem cujo bico permite a introdução de agulhas sem contato com o ar e sem a necessidade de cortar com tesoura. E também permite esterilizar o soro depois de embalado. A produção deveria ter sido interrompida em março de 2008, e a comercialização, em setembro. Por pressão da indústria, o prazo foi adiado duas vezes. E ainda que essa produção tenha sido proibida em 30 de novembro - com a comercialização prevista para acabar em 28 de fevereiro deste ano -, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a Farmace, no Ceará, a produzir até abril. A fábrica pertence ao médico e deputado Manoel Salviano (PSDB-CE). Outra indústria, a Texon, no Rio Grande do Sul, busca autorização para seguir produzindo no sistema aberto. A Associação Brasileira dos Produtores de Soluções Parenterais (Abrasp) diz que há estoques e nega risco de desabastecimento. "Não tinha razão para adiar o prazo", diz seu presidente, Luiz Moreira de Castro. A transição do sistema aberto para o fechado faz parte de uma política para melhorar a qualidade do soro hospitalar brasileiro. Mas, como a mudança da embalagem exigia investimentos pesados - seria preciso construir fábricas novas -, em 2003 a Anvisa estabeleceu prazo de cinco anos para o setor se adaptar. "Estávamos propondo um salto de qualidade e isso iria exigir investimentos e importação de máquinas", lembra o então diretor-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina. "Mas a pressão do Parlamento sobre os órgãos regulatórios às vezes é muito pesada, ainda mais quando se trata de assuntos distantes da agenda da mídia." Na sua avaliação, as fábricas que não se adaptaram deveriam ser fechadas. "Aqueles que fizeram o dever de casa conseguiram se adaptar", diz o presidente da Segmenta, Omilton Juniro, que investiu R$ 60 milhões com financiamento do BNDES. "Quando se permitem exceções, você enfraquece quem investiu e quer fazer direito." A produção anual de soluções parenterais de grandes volumes é de 450 milhões de unidades ao ano. De 2003 até o final de 2007, apenas 15% a 20% era produzido no sistema fechado, pelas multinacionais Baxter e B. Braun. "Iniciamos a produção no Brasil no sistema fechado em 1996 e desde então vínhamos tentando convencer o mercado e o governo a mudar de sistema", conta o diretor-geral da Baxter no Brasil, Pablo Toledo. A mudança mudou o mercado. O setor já teve quase 30 empresas, mas em novembro só 15 operavam. Destas, duas não se adaptaram e devem sair do mercado. Segundo a Abrasp, as indústrias investiram R$ 250 milhões para se adaptar. "Saímos de um mercado de baixíssimo valor agregado, que movimentava R$ 550 milhões e que em 2009 movimentará R$ 1 bilhão", afirma Castro. O frasco de 100 ml no sistema aberto custava R$ 1,20 e no sistema fechado custa de R$ 2 a R$ 2,20.

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