Médico faltou ao 1º depoimento

No mesmo dia, prestou queixa contra ex-funcionária

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Por Bruno Tavares
Atualização:

Roger Abdelmassih alegou "problemas cardíacos" para faltar ao primeiro depoimento que prestaria ao Ministério Público estadual, marcado para 21 de agosto do ano passado. Mas no mesmo dia foi à 1ª Delegacia de Roubos e Extorsões do Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (Deic), em São Paulo, para prestar queixa contra uma ex-funcionária - que também se diz vítima dele. A notificação ao médico foi expedida em 15 de agosto pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da capital e recebida no mesmo dia por uma funcionária da clínica. O ofício determinava que Abdelmassih comparecesse à sede do Gaeco às 13 horas do dia 21 para "prestar esclarecimentos". Na data marcada, o advogado Adriano Vanni protocolou um pedido de adiamento. Alegava que "em razão dos sérios e recentes problemas cardíacos (...), agravado sobremaneira em razão do estado terminal de sua esposa (...), não reúne condições físicas tampouco psíquicas de atender a notificação". Também se queixava das cópias dos depoimentos das supostas vítimas, fornecidos "de forma incompleta". "Não se pode evitar que o advogado tenha acesso aos dados das pretensas vítimas e das testemunhas", escreveu. O Gaeco argumentou que algumas vítimas estavam protegidas pelo provimento 32 (dispositivo legal em que as identidades de testemunhas e/ou vítimas ficam ocultas). No requerimento, Vanni anexou dois atestados. O primeiro era relativo às condições de saúde da mulher do médico, que lutava contra um câncer de mama. O outro, assinado pelo cardiologista Roberto Kalil Filho, médico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tratava sobre um procedimento cirúrgico (drenagem pericárdica) a que Abdelmassih havia sido submetido em 25 de junho. Os promotores então adiaram o depoimento para 28 de agosto. Mas o boletim de ocorrência nº 129/2008 contradiz a versão da defesa. Às 11h47 de 21 de agosto, Abdelmassih foi ao Deic registrar queixa por extorsão contra sua ex-funcionária Cristiane da Silva Oliveira, de 33 anos. O crime, segundo ele, teria ocorrido em 5 de junho de 2008, logo após ela pedir demissão. Ex-atendente do consultório do médico por cerca de dois anos, ela o acusa de ter tentado agarrá-la. "Para nós, o depoimento de Cristiane tem o mesmo peso das demais vítimas, ainda que quisesse fazer um acerto financeiro com o médico - o que, aliás, poderia ter sido feito perante um juiz", diz o promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro. "O médico é quem tem de se explicar: estava doente para vir aqui, mas não para fazer fogo cruzado contra uma vítima." Vanni explica porque levou seu cliente ao Deic, não ao Gaeco: "Não tínhamos acesso integral aos depoimentos e ele não sabia do que era acusado. No Deic, ele apenas ratificou as acusações contra a ex-funcionária, ficamos lá dez minutos. No Gaeco ele iria se estressar."

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