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Médico é investigado sob acusação de crime sexual contra pacientes

Mulheres prestaram depoimento na polícia e no MP contra dono da maior clínica de reprodução assistida do País

Por Bruno Tavares , Fabiane Leite e EMILIO SANT?ANNA E H
Atualização:

O médico Roger Abdelmassih, dono da maior clínica de reprodução assistida do País, está sendo investigado por suposto assédio sexual a pacientes. Oito mulheres já prestaram depoimento no Ministério Público do Estado de São Paulo e na Delegacia de Defesa da Mulher nos últimos meses. Outras cinco denúncias ainda não confirmadas foram recebidas ontem por telefone pelos promotores que cuidam do caso, após a publicação de uma reportagem no jornal Folha de S. Paulo. Segundo apurou o Estado, as denúncias incluem desde casos em que Abdelmassih teria agarrado pacientes e tentado beijá-las à força até insinuações de abusos sexuais enquanto as pacientes estavam sedadas. Os nomes das supostas vítimas não foram revelados pela polícia. Abdelmassih nega as acusações (mais informações nesta página). Nos depoimentos, as pacientes relataram que o médico se dizia um "enviado de Deus" durante o tratamento de reprodução assistida, que chega a custar mais de R$ 30 mil. O médico já atendeu pacientes ilustres, como a mulher de Pelé e a do apresentador Gugu Liberato, além de Luiza Tomé. "Sem provas cabais, fazem depoimentos criminosos com o intuito de denegrir minha imagem profissional, construída ao longo de uma carreira de mais de 40 anos", disse Abdelmassih, por meio de nota. Segundo o promotor Luiz Henrique Dal Poz, do Gaeco, uma unidade especial do Ministério Público, os depoimentos chamam a atenção por serem de mulheres que não se conhecem e moram em Estados diferentes - mas contam histórias semelhantes. O assédio teria ocorrido quando estavam desacordadas ou desacompanhadas dos maridos. "Vejo um contexto bastante contundente, com uma grande verossimilhança entre os depoimentos", disse Dal Poz. A investigação do Gaeco começou em 12 de maio de 2008. A denúncia foi oferecida ao Judiciário, que negou o caso por entender que o MP não tinha atribuição para fazer a investigação. A juíza responsável, no entanto, remeteu o caso para a Delegacia da Mulher, onde as oito testemunhas foram ouvidas novamente. Intimado a depor no Gaeco no início de 2008, o médico pediu adiamento. Novamente chamado em agosto, alegou motivos médicos para não comparecer. "Não o levei para depor porque até agora não tive vista dos autos", disse o advogado Adriano Vanni. "Como vou exercer a defesa sem uma cópia das acusações? Não sabemos nem se essas pessoas foram pacientes da clínica." Em caso de condenação, a pena para esse tipo de crime - atentado violento ao pudor - é de seis a dez anos de prisão. A ex-paciente Taís (nome fictício) foi uma das primeiras a denunciar o médico em 2008 - ao Ministério Público e à Delegacia da Mulher. Em entrevista ao Estado, ontem, Taís contou que foi agarrada à força por Abdelmassih dez anos atrás, quando fazia tratamento na clínica para engravidar. O assédio teria ocorrido na sala do médico, durante uma consulta noturna, quando a clínica já estava vazia. "Ele me agarrou e começou a segurar o meu rosto, tentando me beijar, esfregando aquela barba em mim", conta. Nessa hora, segundo ela, o filho de Abdelmassih, Vicente (que trabalha no local), teria batido na porta, levando o médico a soltá-la. "Peguei minha bolsa e sai correndo." Antes disso, outro problema: quando a primeira tentativa de tratamento falhou, Abdelmassih teria sugerido a Taís que usasse óvulos de uma doadora para fazer a fertilização in vitro - apesar de seus óvulos serem saudáveis (a dificuldade para engravidar devia-se à baixa qualidade do esperma do marido). "Ele (Abdelmassih) disse que era uma bobagem começar o tratamento de novo e que o filho seria meu de qualquer maneira. Disse que eu não precisava contar para o meu marido", afirma Taís. "Falei que aquilo era um absurdo." O médico, então, pediu que ela voltasse à noite para rediscutir o tratamento, quando o assédio teria ocorrido. Outra ex-paciente ouvida pelo Gaeco, Mônica (nome fictício), relatou um caso ocorrido em 2003. Ela acordava da anestesia após terceira tentativa para engravidar quando teria sido molestada. "Estava colocando minhas roupas quando ele entrou. Disse que era uma pena meu marido não estar lá e me deu um selinho", contou ao Estado. "Achei esquisito e o afastei. Então ele me pressionou contra a parede e forçou um beijo. Apertei os dentes para não abrir a boca e o empurrei contra a parede. Ele saiu do quarto." Mônica teria fugido, dirigindo seu carro, ainda sob o efeito da anestesia. "Nunca vou saber o que ele fez comigo enquanto eu estava sedada." No início de 2008, um e-mail de um suposto marido de uma paciente, que fazia ameaças a Abdelmassih por ter abusado de sua mulher, foi divulgado. Em março, surgiu um blog chamado "Grupo de Vítimas do Roger Abdelmassih", no qual foram postadas dezenas de denúncias de assédio sexual e conduta antiética contra ele. Todas as acusações eram anônimas. Segundo Vanni, a polícia está investigando a autoria dos e-mails. Na ocasião, o Estado procurou o Cremesp e o Ministério Público, que informaram que não poderiam atuar sem que houvesse denúncia formal.

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