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Lixo deixa de ser lixo: teste em Praia Grande

Por Matheus Costa
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Ao todo, serão 58 casas que não vão produzir lixo. Essa é a proposta do Resort Residencial, em Praia Grande, o primeiro condomínio da Baixada Santista construído tendo como base o conceito lixo zero - em que todos os detritos domésticos são reaproveitados de alguma forma. A inauguração do empreendimento está prevista para ocorrer já no início de 2009. Na frente das garagens, no subsolo, haverá coletores para lixo orgânico e reciclável. "O sistema facilita o descarte, mas cada condômino precisa colaborar para evitar desperdícios", explica o empresário Eliude Rodrigues Souza. Ou seja, a participação dos moradores é fundamental para que o projeto tenha sucesso. Para tornar a separação do lixo mais simples, será instalado, por exemplo, um triturador no bocal da pia da cozinha. "Assim, a pessoa simplesmente despeja os restos de alimento enquanto lava os pratos", diz Souza. Embaixo da pia fica o cesto de lixo orgânico, que deve ser trocado diariamente. Funcionários vão conduzir o lixo dos coletores para uma central de tratamento. Materiais inorgânicos - alumínio, papel, plásticos, embalagens longa-vida e vidro - serão separados e compactados para a venda. A maior parte da matéria orgânica será transformada em adubo para os jardins do resort. Os detritos orgânicos que não forem encaminhados para a compostagem, caso das fraldas, serão transformados em energia térmica com a obtenção do gás metano, incinerando os resíduos. O calor, por sua vez, servirá para fazer sabão a partir do óleo de cozinha usado. As casas do condomínio terão de dois a quatro dormitórios. Se em cada unidade morar uma família de quatro pessoas, o reaproveitamento previsto de lixo será de 75 toneladas, 45 delas só de lixo orgânico. E, segundo o diretor da ONG Recicla Brasil, Jaime Caettano, a venda dos recicláveis renderia aproximadamente R$ 180 mil, com base no preço de mercado. Há, ainda, a racionalização de recursos, como água e energia elétrica. Desde que a cisterna de 3 mil litros foi instalada, a economia é de 50% nos gastos com água. Para evitar desperdício com energia elétrica, vários cata-ventos puxam a água da cisterna até as caixas, eliminando gasto excessivo de energia elétrica. Desde a instalação dos cata-ventos, 25% da eletricidade foi poupada. O chuveiro elétrico também não será necessário: a energia solar vai aquecer a água do banho. Em cima de cada casa haverá placas de captação e um boiler, onde a água quente será armazenada para uso posterior. A maioria das idéias foi inspirada no conceito das Ecovilas, um modelo aprovado pela ONU que busca a auto-sustentabilidade e o baixo impacto ambiental. Nem tudo no empreendimento, porém, segue o sistema à risca. O consultor de ecoprodutos Paulo Nelson Araújo explica que a obra tem recursos sustentáveis, mas não pode ser considerada ecológica. "Não foi usada madeira certificada, muitas coisas foram feitas com tubos de PVC, com granito. Durante a construção, se percebe o descarte indevido de resíduos", explica Araújo. "Os construtores estão no caminho certo, mas ainda falta muito para avançar." * Matheus Costa é aluno da Universidade Católica de Santos

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