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Lençóis Paulista recebe prêmio ambiental

Por Felipe Peroni
Atualização:

Uma pequena cidade do interior de São Paulo, com pouco mais de 58 mil habitantes, e uma usina de reciclagem e compostagem que processa 95% do lixo. Em Lençóis Paulista, a 300 quilômetros de São Paulo, o sistema de reciclagem ganhou no ano passado o Prêmio Caixa Melhores Práticas de Gestão Local. A Usina de Reciclagem e Compostagem de Lixo, administrada pela Cooperativa de Reciclagem de Lençóis Paulista (Cooprelp), em conjunto com a prefeitura, emprega 58 trabalhadores e recicla cerca de 150 toneladas de material por mês. Desse total, apenas 30 toneladas já chegam separadas pela população: a maior parte tem de ser dividida nas esteiras pelos trabalhadores cooperados. Algumas vezes, porém, não é possível aproveitar o material. Isso ocorre porque papelão e plástico, por exemplo, perdem valor quando misturados a detritos, por causa da contaminação. "Mesmo com as campanhas educativas, boa parte das pessoas ainda não recicla", diz Luiz Benedito Martins, diretor municipal de Meio Ambiente. Nos anos 90, a usina era administrada somente pela prefeitura e o serviço, feito por funcionários públicos. "Naquela época, o gestor tinha um funcionário e o mandava trabalhar no lixo, como castigo", conta o prefeito, José Antônio Marise. O resultado foi uma usina ineficiente e abandonada. "Tinha lixo por todo lado, moscas, poucas condições de higiene, funcionários desmotivados." Por mês, apenas 40 toneladas de lixo eram recicladas e mais de 800 toneladas de dejetos acabavam tendo o aterro como destino. Hoje, esse número baixou para 250 toneladas, o que aumenta a vida útil do aterro. A partir de 2005, a prefeitura uniu-se à Associação de Deficientes Físicos de Lençóis Paulista (Adefilp) para que a nova usina empregasse pessoas de baixa renda com alguma deficiência física. Essas pessoas têm dificuldade para conseguir emprego e muitas tinham experiência em coleta de lixo. Para administrar e cadastrar os trabalhadores, foi utilizada a Cooprelp, já existente. Também havia interesse em integrar ao projeto os catadores de lixo, que vendiam material para companhias privadas. "A empresa paga contas atrasadas do catador e o cara fica em débito com o empresário", diz Martins. As empresas tinham maior poder de formação de preço e era comum que tentassem enganar o catador na hora da pesagem. Mesmo assim, alguns catadores gostam de trabalhar dessa forma. "Infelizmente, alguns preferem, mesmo ganhando menos, criar o próprio horário, e não se acostumam com o horário da cooperativa", conta Martins. Os cooperados recebem dividindo a receita da usina, o que dá, em média, R$ 520 para cada um. Para empregar a cooperativa e a Adefilp no lugar dos funcionários públicos, houve resistência da Câmara Municipal. "Diziam que a gente ia demitir todos", conta o prefeito. No dia da votação, um grupo de pessoas com deficiência ligadas a Adefilp foi à Câmara participar da sessão e o projeto recebeu aprovação por unanimidade. Na implantação do programa, os funcionários públicos foram transferidos, sem demissões. Segundo o diretor Martins, mesmo com os avanços, é difícil conseguir que a população reconheça o trabalho. "A pessoa coloca o lixo na lixeira e acabou o problema para ela. Mas aquele lixo continua tendo vida, e é preciso dar uma destinação adequada a ele." *Felipe Augusto B. Peroni é aluno da Escola de Comunicações e Artes da USP

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