Intoxicações são subnotificadas

Levantamento da Fiocruz aponta 90 mil casos registrados no País ao longo de 2005

PUBLICIDADE

Por Emilio Sant'Anna
Atualização:

O Brasil bateu seu recorde de intoxicações em 2005. É consenso que os casos são subnotificados, mas mesmo assim só os confirmados quase chegam a 90 mil, ante pouco mais de 81 mil no ano anterior. No topo da lista dos agentes causadores de intoxicações e envenenamentos estão os animais peçonhentos - escorpiões, serpentes e aranhas -, com 23.647casos (leia texto ao lado). Mas os acidentes relacionados com medicamentos preocupam. Em 2005, foram 21.926 ocorrências notificadas, 5.842 apenas com crianças menores de 5 anos. Os dados são do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fiocruz. Segundo o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Raposo de Mello, muitos casos atendidos nos prontos-socorros brasileiros nem chegam a fazer parte dessa estatística. "Esses são apenas os casos que chegam na ponta do sistema. E o que não chega?", questiona. A coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, explica que, mesmo com o alto número de intoxicações, os dados de fato não refletem a realidade. "Eles estão subestimados em no mínimo dez mil casos", estima. O motivo: os números dos serviços de toxicologia, como o Centro de Controle de Intoxicações (CCI) do Jabaquara, em São Paulo, não foram computados pelo Sinitox. O levantamento foi fechado antes que o centro conseguisse finalizar seus dados de 2005. Por telefone, o CCI - localizado no Hospital Municipal Dr. Arthur Ribeiro de Saboya - auxilia profissionais de serviços de saúde que recebem vítimas de intoxicação. A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde informou que os dados não foram enviados porque não estavam revisados na época em que foram recolhidos pelo Sinitox. No próximo ano, um novo sistema informatizado deve estar operando em todos os centros de intoxicação do País. De acordo com o presidente da Anvisa, o sistema possibilitará a comunicação dos casos em tempo real para o Sinitox. "Fizemos um trabalho de organização da rede", diz Mello. "Agora estamos trabalhando para tornar o acesso aos dados mais rápido." CUIDADOS Para Mello, os medicamentos fracionados favoreceriam o consumo racional. "Mesmo nos medicamentos de venda livre (como os analgésicos) o ideal é que a venda seja feita por unidade", diz. "Muita gente ainda tem em casa aquelas farmacinhas que acabam causando intoxicações." Rosany afirma que medidas simples como a implantação obrigatória de embalagens de segurança contribuiriam para reduzir os acidentes com crianças. "Existem medicamentos que são vendidos no exterior com essas embalagens e aqui não", afirma. Outra medida de segurança é comprar apenas a quantidade de medicamentos necessária para o consumo ocasional, e não armazenar em casa. Caso seja necessário ter em casa, o ideal é mantê-los em locais que possam ser fechados, longe do alcance de crianças. "Existem xaropes, por exemplo, que são doces e têm cheiro forte", diz Rosany. "Facilitam a aceitação das crianças e podem acabar sendo tóxicos."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.