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Gripe vira alvo de informação falsa

Mensagens na internet divulgam desde nº errado de mortos até chá que poderia prevenir a doença, mas não tem efeito

Por Simone Iwasso
Atualização:

Primeira pandemia declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) após o uso disseminado da internet, a gripe suína tem sido alvo de falsas informações divulgadas por e-mail, sites, blogs e comunidades virtuais. Textos apócrifos que estão circulando na rede apontam, por exemplo, que, de cada 3 infectados, 2 morrem - e que hospitais e operadoras de saúde recebem ofícios do governo para não divulgar os números verdadeiros. Mais informações sobre a pandemia no Brasil e no mundo Além de mortes de médicos relatadas por meio de conversas virtuais - com base em informações falsas -, há os que dizem que ingerir chá de erva-doce, duas vezes por dia, previne a contaminação. Ninguém sabe de onde esses textos vêm nem quem os escreveu. Mesmo assim, há quem acredite nos boatos. E, com a velocidade da internet, o que é boato em um dia vira pânico no dia seguinte. "Recebi um e-mail que reproduzia um diálogo entre duas pessoas, que diziam que os médicos não sabiam o que fazer a partir do quinto dia da doença e que colocavam as pessoas em coma induzido para amenizar o sofrimento. Parecia tão real que acreditei", conta o advogado Alex Paes de Lima, de 32 anos. "Você não sabe em quem acreditar nessas horas." O e-mail em questão traçava um quadro de filme de ficção científica e vinha assinado por uma suposta médica que colocava, até mesmo, um número de celular e um telefone fixo - todos eles falsos. O nome em questão não consta do cadastro do Conselho Federal de Medicina e os telefones não existem. "A internet reproduz o mundo da rua, só que sem as distâncias do território e em tempo real", analisa o sociólogo especializado em mídias digitais Sérgio Amadeu da Silveira, professor da Faculdade Cásper Líbero. Ou seja, boatos, mitos e informações desencontradas não nascem na internet, apenas se reproduzem nela de maneira veloz. Além disso, essas correntes dão um termômetro do nível de informação que a população tem sobre determinado assunto - no caso, a gripe suína. "A internet permite que as pessoas tenham acesso a informações de todo tipo, verdadeiras ou falsas. Por isso, autoridades precisam ser mais claras e didáticas na hora de divulgar informações, coisa que não estão acostumadas", completa. Nessa linha, de tanto receber e-mails que falavam em mortes não divulgadas, o governo do Estado do Paraná criou um site só sobre gripe suína, para informar mais sobre a doença. Lá, em uma das sessões, estão os mitos e verdades. "Qualquer nova informação desestabiliza a forma de pensar da sociedade. Um alerta do governo sobre gripe, uma coisa que as pessoas estão acostumadas a conviver, cria uma paranoia dirigida", explica o psicanalista Jorge Forbes, presidente do Instituto de Psicanálise Lacaniana. "O que você achava normal, passa a ser ameaça." O problema, segundo Forbes, está na maneira como dados são apresentados. "Você fica contando mortos, todos os dias se divulga isso sem muito contexto. Os governos dão mensagens contraditórias, um mandando fechar escola, outro dizendo que ela pode funcionar. Isso dá margem para os apavorados de plantão." Desse modo, as pessoas seguem reproduzindo informações como a que diz que o vírus A(H1N1) teria sido produzido em laboratório para as indústrias ganharem mais dinheiro ou que todos os leitos de UTI de todos os hospitais estariam ocupados apenas por doentes da gripe suína. Além disso, em parte das mensagens de pânico que circulam na internet há, por trás, um medo de uma engenharia genética perigosa, como o que diz que a vacina contra a doença seria letal ao ser humano. "Isso gera muita ansiedade e faz com que as pessoas pensem que estão diante de uma coisa que nunca existiu. É o caso do medo da biotecnologia, do que é feito em laboratório", resume Luiz Fernando Lima Reis, diretor de pesquisa do Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa. "É preciso mostrar dados epidemiológicos, contextualizá-los e explicar que mutação de vírus sempre acontece. O segredo para combater a desinformação é insistir na informação." MITOS E VERDADES Mortes: Mensagens na internet afirmam que houve 115 médicos mortos pela gripe suína no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e que funcionários, médicos e residentes do Hospital das Clínicas de Curitiba (PR) também teriam morrido. As duas informações são falsas e levaram a Universidade Federal do Paraná (UFPR) a divulgar uma nota Unimed: Outra mensagem diz que médicos do plano de saúde que atenderam pacientes teriam morrido, e que a operadora estaria escondendo as informações. A mensagem é supostamente escrita por um médico da Unimed. A operadora divulgou nota na qual afirma que "que e-mails, spams ou chats sobre a gripe A(H1N1) envolvendo seu nome não são verdadeiros" Vacina: Outra mensagem diz para "não tomar essa vacina assassina que estão querendo que seja compulsória". O texto é uma tradução de mensagens de grupos americanos que são contra qualquer tipo de vacina Anis: Mensagem diz que "o anis estrelado é o extrato-base da produção do comprimido Tamiflu" e que "podemos usar a erva-doce,pois a erva possui as mesmas substâncias". O Tamiflu tem como princípio ativo uma substância extraída de um tipo de anis encontrado em quatro províncias da China. No entanto, ele passa por complexo e refinado processo químico, além de ser misturado a outras substâncias, para produzir o remédio Números: E-mails assinados por pessoas que se dizem médicas dizem que, a cada 3 pessoas contaminadas com o A(H1N1), 2 morrem após alguns dias. Segundo o Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade dos casos confirmados é de 0,09 por 100 mil habitantes

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