Governo amplia uso de remédio

Ministério terá protocolo flexível, e o médico decide o tratamento de gripe suína; Temporão alerta para ''desperdício''

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Por Ligia Formenti
Atualização:

O Ministério da Saúde vai mudar a política de tratamento para gripe suína. Em vez de um protocolo rígido, único para todo o País, a forma do uso do antiviral oseltamivir (comercializado com o nome de Tamiflu) ficará a critério do médico, desde que respeitadas determinações da vigilância local. Acompanhe as últimas notícias sobre a nova gripe e tire suas dúvidas Isso significa que o profissional poderá iniciar o tratamento com o remédio quando quiser, com a dose que achar necessária e pelo tempo que julgar mais indicado. Em alguns casos - pacientes em estado muito grave, internados, com vômito ou entubados - será possível até mesmo duplicar a dose do remédio. Até agora, o uso do remédio está restrito para pacientes com sintomas de agravamento e pessoas com gripe que apresentem fatores de risco. Atualmente, o Instituto de Infectologia Emílio Ribas já prescreve doses acima do que é preconizado para um grupo limitado. As mudanças fazem parte de um manual, que está sendo preparado pelo Ministério da Saúde e que deverá ser lançado ainda esta semana. "Tudo deverá ser feito de acordo com argumentações científicas. É dada liberdade ao profissional, mas que deve ser usada de forma criteriosa", afirmou ao Estado o diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, David Uip. O infectologista participou, ao lado de mais de uma dezena de especialistas, de uma discussão ontem com integrantes do Ministério da Saúde para tratar de alterações na forma da condução do tratamento. As mudanças foram feitas para dar maior agilidade e flexibilidade ao tratamento.Uma das preocupações é aumentar os cuidados com pacientes considerados de alto risco, principalmente mulheres grávidas. Levantamento feito pelo ministério na semana passada mostra que integrantes desses grupos têm 3,46 vezes mais risco de morrer pela doença do que os demais pacientes. Dos óbitos registrados até agora, 26,3% foram entre gestantes. Ontem, durante a reunião convocada pelo ministério, infectologistas brasileiros debateram sobre quais devem ser os maiores cuidados a serem adotados por profissionais de saúde. "Nosso desafio é impedir o óbito. O ministério fará as alterações necessárias, desde que obedecendo a critérios bem fundamentados", reafirmou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. As alterações excluem uma alternativa: a recomendação do uso do antiviral oseltamivir para todos os pacientes que apresentam sintomas de gripe, como deseja a Sociedade Brasileira de Infectologia. "É obrigação do Estado prover o tratamento. Mas é responsabilidade usar os insumos com cuidado, evitar desperdício de recursos", alertou o ministro. A justificativa sempre usada pelo ministério é a de que o uso indiscriminado do medicamento pode facilitar a resistência do vírus ao remédio. O gerente de Vigilância em Saúde, Prevenção e Controle de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde, Jarbas Barbosa, afirma que, no mundo, há condutas de vários tipos: alguns têm política semelhante à que o Brasil vinha adotando, restringindo o uso para casos graves e grupos de risco. Em outros locais, a oferta é feita para todos com sintomas de gripe. A decisão geralmente é tomada de acordo com a disponibilidade de acesso ao medicamento. "Não há como dizer se uma estratégia é mais acertada que outra", diz Barbosa. SAIBA MAIS Quais as formas de transmissão da gripe suína? O vírus A(H1N1) é transmitido como o da gripe comum (chamada sazonal), ou seja, por meio de partículas de saliva ou de secreção nasal. O contágio também pode acontecer pelo contato com superfícies ou objetos que estejam contaminados Como prevenir a doença? Evite locais fechados e aglomerações. Também evite o contato com pessoas doentes. Lave as mãos com frequência ou use álcool gel. Alimente-se bem para fortalecer as defesas naturais do organismo. Use lenço ao tossir ou espirrar Quem está no grupo de risco? Esse grupo é composto por idosos, crianças menores de 2 anos, gestantes, pessoas com diabete, com doença cardíaca e pulmonar ou renal crônica, deficiência imunológica (como pacientes com câncer ou em tratamento de aids), pessoas com obesidade mórbida e também com doenças provocadas por alterações da hemoglobina, como anemia falciforme Qual a diferença entre a gripe comum e a suína? O subtipo de vírus que provoca a doença. Os sintomas são parecidos: febre repentina, tosse, dor de cabeça, dores musculares, nas articulações e coriza. A orientação é, ao ter alguns desses sintomas, procurar o médico ou um posto de saúde Por que houve a recomendação para adiar a volta às aulas em alguns Estados? Segundo as secretarias da Saúde, a expectativa é de que o número de casos da gripe suína comece a diminuir em meados de agosto. Lugares fechados e com aglomeração, como salas de aula, podem contribuir para a transmissão do vírus A(H1N1) Se a escola não adiou o retorno às aulas, o que fazer? O Ministério da Saúde recomenda que as crianças com sintomas da gripe não devem ir para a escola porque podem disseminar o vírus ao ter contato com as outras crianças e com professores

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