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Falta centro de cardiologia no País

Para ter menos pacientes de fora de SP, Incor vai propor criação de hospitais de referência em outras regiões

Por Carlos Marchi
Atualização:

O Instituto do Coração (Incor) vai propor que o Ministério da Saúde apresse a criação de hospitais de referência e excelência nas principais regiões brasileiras para desafogar a grande e permanente afluência de pacientes com doenças cardíacas de outros Estados. O imunologista Jorge Kalil, presidente do conselho curador da Fundação Zerbini, mostra números: 7,7% dos pacientes internados pelo Incor vêm de outros Estados e seus tratamentos são, em parte, custeados pela Secretaria da Saúde de São Paulo e pela Zerbini. "É preciso construir centros de excelência/referência em todas as regiões, com capacidade para atender todas as categorias sociais", repete o diretor-presidente do Incor, cardiologista Noedir Stolf. Nos próximos dias, a Fundação Zerbini deixará a gestão do Incor de Brasília, uma experiência que pretendia multiplicar o modelo paulista pelo Brasil, mas que deu errado. Em sua nova fase, focado em São Paulo, o Incor se coloca à disposição do governo federal e de governos estaduais para orientar a criação de centros de excelência nas principais capitais, afirma Kalil. Não se trata de mera generosidade. Por ser a instituição mais reconhecida do País na área de cardiologia, o Incor atrai muitos pacientes de outros Estados e boa parte da conta desses atendimentos é debitada nos orçamentos da Secretaria da Saúde de São Paulo e da fundação. Mesmo quando são custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os pagamentos - quase sempre insuficientes para cobrir os custos reais - são debitados na cota de São Paulo. Os que vêm para o Incor são sempre pacientes que demandam procedimentos de alta complexidade, que invariavelmente são muito caros. OUTRAS REFERÊNCIAS Kalil cobra a democratização dos serviços de alta complexidade em todo o País, o que demanda pesados investimentos para montar estruturas e treinar pessoas. "Os outros Estados têm de buscar níveis crescentes de complexidade", diz. O Incor já colabora formando especialistas em cardiologia que vão trabalhar em hospitais de outras capitais. "É essencial ter outras referências pelo Brasil", afirma o cardiologista Carlos Alberto Pastore, responsável pelo setor de telemedicina do hospital, que analisa mais de 5 mil exames por mês, enviados por meio digital, para médicos de todo o País. Na emergência do Incor os pacientes de outros Estados são apenas 2,3% do total; no ambulatório, são 3%, mas nas internações - a parte mais complexa e cara do atendimento - o número mais que dobra: 7,7%. O mais grave é que, na realidade, o atendimento de pacientes forasteiros é maior que isso, pois boa parte deles passa por paulista. Ao chegar, dá endereço de amigos ou parentes em São Paulo. Eles vêm, principalmente, de Minas Gerais, Rio e Bahia. É difícil um paciente paulista procurar um hospital de referência no Rio ou em Minas, mas o inverso acontece cotidianamente em grande quantidade. "São montes de pacientes de Minas e toneladas de pacientes do Rio", comenta, em tom de blague, Stolf. Os 7,7% de pacientes forasteiros não parecem um número tão alto, mas todos eles, ao chegar ao Incor, demandam soluções de alta complexidade - o que significa tratamentos caros. "Só em materiais especiais como marca-passos e válvulas artificiais, o Incor consome mais de R$ 2 milhões por mês", conta Stolf. A cobertura do SUS não paga os valores reais desses materiais sofisticados. Uma cirurgia infantil, relata, custa entre R$ 35 mil e R$ 40 mil. O SUS paga R$ 8 mil. Preto no branco, diz Stolf, os déficits de custos são complementados meio a meio: metade é paga pela Secretaria da Saúde de São Paulo e o restante pela Zerbini.

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