Experiência consegue fazer crescer dente em camundongo

Sucesso da técnica poderá auxiliar na reconstrução de órgãos danificados, afirmam pesquisadores

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Por Alexandre Gonçalves
Atualização:

Pesquisadores japoneses conseguiram fazer crescer dentes em camundongos adultos implantando germes de molares na mandíbula dos animais. O germe contém toda a informação genética necessária para o crescimento da estrutura, funcionando assim como uma semente. Os cientistas consideram que a técnica também poderá funcionar para outros órgãos, permitindo, por exemplo, a reconstrução de fígados e rins. Até agora, os pesquisadores controlam tecnologias que permitem cultivar em laboratório certos tecidos e, depois, transplantá-los. Também há um grande investimento em pesquisas com células-tronco para regenerar estruturas danificadas do organismo. "Mas é a primeira vez que trabalhamos com a substituição de um órgão completamente funcional produzido por bioengenharia", afirma o coautor do trabalho, Takashi Tsuji, da Universidade de Ciência de Tóquio. O estudo, publicado ontem na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), revela a técnica usada pelos pesquisadores. Em primeiro lugar, o germe é produzido in vitro reunindo células epiteliais e mesenquimais, imitando as estruturas encontradas em embriões. Depois, o molar de um animal adulto é arrancado. No espaço aberto - chamado alvéolo -, os pesquisadores inserem o germe. Cerca de 37 dias depois, o dente emerge. Os pesquisadores realizaram a operação várias vezes com êxito. A estrutura e a solidez dos novos dentes foram comparáveis a dos dentes naturais. Também se desenvolveram nervos capazes de responder a estímulos dolorosos. Mesmo assim, a técnica precisa ser aprimorada: as dimensões do novo dente são menores do que as do molar substituído. FUTURO "Atualmente, muitos pesquisadores ao redor do mundo ignoram o método para cultura de órgãos tridimensionais in vitro", aponta Tsuji. "Este projeto é essencial para que todos percebam o potencial das terapias regenerativas que utilizam substituição de órgãos." Segundo o pesquisador, os esforços agora estão voltados para descobrir quais células são melhores para produzir os germes dos órgãos. "Ainda estamos muito longe de produzir órgãos como fígado e rim", pondera Dimas Tadeu Covas, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). "Eles são muito mais complexos do que dente. Ainda assim, o artigo é interessante."

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