EUA rejeitam meta obrigatória para clima

Condoleezza Rice, do Departamento de Estado, diz que migração de combustíveis fósseis para fontes limpas não pode prejudicar economia

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Por Washington
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A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, disse ontem que os maiores emissores de gases-estufa do mundo precisam cortar sua dependência de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, e investir em fontes de energia limpas - porém, de forma voluntária e sem que a migração prejudique suas economias. "Estamos preparados para expandir nossa liderança para lidar com o desafio", afirmou. "Todas as nações deveriam lidar com as mudanças climáticas das maneiras que julgarem melhor." Ela falou na abertura de uma reunião em Washington, convocada pelo presidente americano George W. Bush, para discutir o efeito estufa. O evento reúne representantes dos países que mais emitem gases-estufa - desenvolvidos, como Reino Unido e Alemanha, e emergentes, como China e Brasil. Os Estados Unidos são o maior emissor de gases que causam o problema, especialmente o dióxido de carbono (ainda que a China deva ultrapassá-los neste ou no próximo ano). Ainda assim, Bush abandonou o Protocolo de Kyoto, o único acordo global que visa a controlar as emissões. Representantes de outros países e ativistas acusam os americanos de tentar deslocar o debate para fora das Nações Unidas ao promover um evento em seu país, uma vez que os Estados Unidos não aceitam cortes das emissões. Um comunicado da Casa Branca reforçou essa mensagem ao enfatizar que a solução para o aquecimento global é criar mais processos democráticos, em vez de estabelecer objetivos de redução do dióxido de carbono. "Apreciamos os sentimentos expressos pela secretária Rice, mas o diabo está sempre nos detalhes", disse o ministro do Meio Ambiente da África do Sul, Marthinus van Schalkwyk. "Para nós, esse encontro serve claramente para determinar se os Estados Unidos querem mudar sua estratégia nesse tema." Para o representante britânico, John Ashton, "não podemos fazer isso (lidar com o aquecimento global) na base do falar por falar ou criar metas para criar metas". "Sabemos que uma estratégia voluntária para lidar com o aquecimento global é tão eficaz como um sinal voluntário de limite de velocidade na estrada. Não precisamos apenas de uma estratégia que funcione; precisamos de uma estratégia que funcione muito rápido." O Brasil, apesar de não aceitar metas de redução das emissões de gases-estufa como os Estados Unidos, apóia a ONU como foro adequado. Na terça-feira, em discurso na Assembléia-Geral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os debates sobre o problema devem ocorrer dentro do organismo internacional. "É salutar que essa reflexão ocorra no âmbito das Nações Unidas." Fora do prédio do Departamento de Estado, onde acontece a reunião, em Washington, cerca de 70 ativistas do Greenpeace e de outros grupos ambientalistas fizeram uma manifestação contra a posição americana. Cerca de 50 foram presos. "Estamos aqui para registrar nosso protesto contra essa charada", disse o diretor do Greenpeace nos Estados Unidos, John Passacantando. "O presidente Bush está tentando levar o mundo para a direção errada e esse encontro é nada mais do que um esforço publicitário para evitar as críticas internacionais." Passacantando foi um dos detidos pela polícia. Há a expectativa de que, com a saída de Bush do cargo, em janeiro de 2009, os americanos voltem a se aproximar da ONU para tratar da crise climática, especialmente se um democrata assumir a posição. "Todos nós sabemos que eles estarão fora em alguns meses", disse ontem o ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, em entrevista à rádio NDR Info. AP E REUTERS GLOSSÁRIO Protocolo de Kyoto: acordo global que prevê o corte, em média, de 5,2% da emissão de gases-estufa pelos países desenvolvidos, em relação aos índices de 1990, entre 2008 e 2012. Os Estados Unidos não participam Gases-estufa: substâncias emitidas na atmosfera que têm a capacidade de reter o calor no planeta, o que desencadeia um processo chamado de aquecimento global. Os principais gases são o dióxido de carbono, que vem da queima de combustíveis fósseis, por exemplo, e o metano, liberado por atividades agropecuárias Principais emissores: os países desenvolvidos emitem a mais tempo os gases-estufa, o que lhes permitiu crescer e enriquecer; os países em desenvolvimento, industrializados tardiamente, começaram o processo há menos tempo; contudo, sua emissão anual é comparável à dos desenvolvidos Convenção do Clima da ONU: acordo que reúne 192 países (entre eles, os Estados Unidos) e visa a combater as mudanças climáticas perigosas - a ele, é atrelado o Protocolo de Kyoto; a próxima conferência anual acontece em Bali, em dezembro

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