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Estudo coloca em xeque classificação como ''hotspot''

Por Herton Escobar
Atualização:

Ao mesmo tempo que ressaltam o estado vulnerável de conservação do cerrado, os novos dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) colocam em xeque a classificação do bioma como um "hotspot" de biodiversidade global.O conceito, amplamente usado na literatura científica, foi criado em 1988 pelo ecólogo Norman Myers para definir áreas com grande número de espécies e altamente ameaçadas pela destruição de hábitat. Os critérios para entrar na lista são: abrigar pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e ter mais de 70% da área do bioma alterada pelo homem.O cerrado passa fácil pelo primeiro critério: tem cerca de 4.400 espécies endêmicas de planta, segundo as estatísticas compiladas pela organização Conservação Internacional (CI). Já o segundo critério é colocado em dúvida pelos dados do MMA, segundo análise feita pelo Estado. O livro Hotspots Revisited, publicado pela CI em 2004, utiliza como base para classificação do cerrado um estudo de 1998 (baseado em imagens de satélite de 1993), segundo o qual 79% do bioma já estava alterado pelo homem. "Nossos dados não chegam a esse limiar (de 70%)", disse o diretor de Conservação da Biodiversidade do MMA, Braulio Dias. Segundo o levantamento do ministério, 50% do bioma ainda está conservado de alguma forma."Na minha experiência, 50% parece ser um dado muito otimista", diz o biólogo brasileiro Gustavo Fonseca, um dos principais responsáveis pela classificação internacional de hotspots. Segundo ele, o critério de hotspot só considera como preservadas as áreas totalmente livres de ocupação humana.A interpretação de imagens de satélite no cerrado é extremamente complicada. As paisagens variam muito naturalmente, tanto no espaço quanto no tempo. Um dos pontos mais polêmicos é a classificação das pastagens naturais - áreas de capim nativo que são usadas para alimentar o gado.No estudo do MMA, elas foram consideradas como conservadas, porque, apesar do uso como pasto, mantêm sua cobertura vegetal original. "Só marcamos como desmatadas as áreas que foram 100% convertidas", explicou Dias. "Onde ainda há vegetação nativa, classificamos como remanescente." Fonseca discorda. "É uma área que está sendo usada e que, portanto, já sofreu um certo grau de transformação. Não é mais um ecossistema original", avalia.

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