Estilos de chefia

Muitas vezes, mulheres e homens adotam estilos diferentes quando estão à frente de cargos de comando

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Por Ciça Vallerio
Atualização:

Quem é melhor na chefia, o homem ou a mulher? A pergunta tem sido recorrente nos bastidores das empresas, provavelmente por conta da ascensão feminina a postos de comando. Embora as mulheres continuem bem atrás dos homens no que se refere à ocupação de altos cargos, tem havido uma maior projeção delas. Veja também: Valdete Flor, 37 anos, publicitária Flávia de Assis, 26 anos, da área de Contabilidade Gerencial De acordo com o levantamento Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas, realizado pelo Ibope em parceria com o Instituto Ethos, o porcentual de vagas de gerentes preenchidas por mulheres em 2003 era de apenas 18%. Em 2007, saltou para 24,3%. Nos postos de supervisão, aumentou de 28% para 37%. No entanto, em cargos de presidência, a participação feminina é ínfima, correspondendo a apenas 11,5% das vagas. Outro estudo, realizado pela Universidade de Brasília (UnB), mostra que 85% das entrevistadas acreditam que os homens são melhores líderes do que as mulheres. E 95% dos homens entrevistados concordam com isso. A pesquisadora Amanda Zauli-Fellows, do departamento de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, do Instituto de Psicologia da UnB, entrevistou 1.320 funcionários concursados da Câmara dos Deputados. Na seqüência, comparou com dados de outro estudo, realizado com 604 funcionários de empresas privadas, públicas e de economia mista. Os resultados foram semelhantes. "Os números podem ser atribuídos à cultura patriarcal, que permanece enraizada no Brasil, tanto em homens como em mulheres", observa Amanda. "Na nossa sociedade, o poder está sempre em mãos masculinas." Segundo a pesquisadora, uma das principais queixas dos entrevistados refere-se à mudança de comportamento das mulheres quando assumem a liderança. Muitos citaram o excesso de autoridade delas, que chega a ser superior ao dos homens quando ocupam a mesma posição. Muitas vezes, para não serem vistas como fracas, nem se sentirem ameaçadas, as chefes copiam o padrão masculino e tornam-se verdadeiras sargentonas. Ou seja, vão contra às qualidades que se espera de líderes femininas - vistas como agregadoras e mais atentas aos funcionários. Essas vantagens são enaltecidas em vários livros, como Mulheres Lideram Melhor que Homens (Editora Gente), escrito pela executiva Lois P. Frankel, e Todo Poder às Mulheres - Esperança de Equilíbrio para o Mundo (Editora Best Seller), de Marco Aurélio Dias da Silva. Por outro lado, números revelam que as mulheres enfrentam muitas resistências para ocuparem cargos de chefia, até mesmo nos Estados Unidos, onde é grande o número de executivas. Menos implacáveis do que as brasileiras, 40% das norte-americanas afirmaram que preferem um chefe homem no caso de um novo emprego; 26% optariam por uma nova chefe mulher, e 32% disseram que o gênero não faria diferença. Um porcentual maior de homens respondeu que o sexo do seu superior não tem importância (56%); 34% disseram que preferem um chefe homem e apenas 10%, uma mulher. Esse estudo anual da Gallup Organization, sobre Educação e Trabalho nos Estados Unidos, envolveu 1007 entrevistados. A primeira vez que a Gallup realizou essa pesquisa foi em 1953. Na época, a proporção daqueles que preferiam líderes homens era de dois americanos para cada três, e só 5% gostariam de ser chefiados por mulheres. A partir de 1982, essa diferença começou a diminuir, perdendo força. No entanto, a preferência por chefes do sexo masculino sempre foi superior - e continua sendo. O índice daqueles que apostam nas mulheres nunca ultrapassou 22%. HORMÔNIOS A psicóloga e especialista em Recursos Humanos, Elaine Saad, acredita que a rejeição, principalmente feminina, pode estar relacionada a vários fatores, além do cultural. Como o homem é um líder mais pragmático e racional, fala Elaine, separa sua vida profissional da pessoal e, com isso, afasta interferências emocionais. As mulheres se expõem mais e ainda sofrem com as alterações hormonais, causando as terríveis oscilações de humor. "O homem tende a tratar mais cuidadosamente uma subordinada, por causa da sua natureza ?cuidadora? com relação à mulher, razão pela qual ela acaba se sentindo mais acolhida", diz Elaine, que é também gerente geral da Right Management no Brasil, da área de consultoria empresarial. "Já a relação de uma funcionária com uma chefe é permeada por alterações emocionais de ambas as partes. Conforme o momento de uma ou de outra, uma atitude pode se tornar mais agressiva e também adquirir proporções muito maiores." A instabilidade emocional da mulher é inegável, confirma Silvana Case, vice-presidente executiva do Grupo Catho, empresa de recolocação profissional. "É só mais uma das várias questões femininas a serem administradas, entre tantas que vivemos", avisa. "Além das obrigações e responsabilidades profissionais, não podemos nos esquecer da família e das tarefas domésticas, que ainda estão divididas de forma desequilibrada." Silvana acredita que o preconceito que está por trás da polêmica sobre os gêneros na chefia vem se dissipando com o acesso feminino a altos postos. A Catho vem acompanhando essa evolução há quase 20 anos. Durante esse período, o número de mulheres em cargos de comando dobrou em quase todos os níveis hierárquicos, até mesmo na presidência: em 1996, de 100 vagas, 10 eram ocupadas por elas; em 2007, esse número saltou para 20. "As empresas precisam hoje de gente competente, que consiga atingir metas", resume a executiva. Quando o headhunter Robert Wong, autor do best seller O Sucesso Está no Equilíbrio (Editora Campus), busca um executivo, não considera o gênero do candidato, mas sim suas qualidades profissionais, morais e pessoais. "Líder não é aquele que manda, mas sim quem inspira e prepara outros líderes", avisa o presidente de recrutamento de executivos da empresa que leva o seu nome. "Por isso, sempre digo que o melhor é ser você mesmo, e não se tornar um clone de uma imagem que se acredita ser o ideal para assumir um alto posto", acrescenta Wong. O headhunter ressalta que o padrão de chefia ainda segue os moldes masculinos, uma vez que são eles que escolhem as mulheres para comandar uma equipe. Conforme explica, é comum a candidata ao cargo passar pelo crivo de um conselho composto predominantemente por homens. "É a perpetuação do modelo", observa. "Esse paradigma só será quebrado por alguém de coragem, que realmente aposte nas características femininas."

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