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Eles fogem dos médicos

Políticas de saúde tentam levá-los aos consultórios. Do que eles têm tanto medo?

Por Agencia Estado
Atualização:

O homem jovem, por mais franzino que seja, tem fama de super-herói. Se a casa pega fogo e o barco afunda, ele é o último a sair - crianças, mulheres e idosos têm prioridade. Assim também acontece na saúde pública, área que não dedica muitos programas de atenção à saúde do homem. Quando assumiu o cargo, em março, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, sugeriu a instituição de uma Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem, que teria a proposta de combater o câncer de próstata, o alcoolismo, o tabagismo e a obesidade. Médico, para os homens, só quando são empurrados pelas companheiras ou quando estão - para usar uma expressão bem popular - no bico do corvo. Por isso, chegam a viver, em média, sete anos a menos do que as mulheres. O psicólogo Romeu Gomes, do Instituto Fernandes Figueira (IFF), uma das unidades de pesquisa da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), publicou, no começo do mês, nos Cadernos de Saúde Pública, um estudo apontando os principais motivos que afastam os homens dos serviços de saúde. Gomes entrevistou 28 homens, dez deles com baixa escolaridade, oito com ensino superior completo e dez médicos urologistas, que ajudam na pesquisa. Para os de baixa escolaridade, o principal motivo para a não atenção com a saúde são os horários de funcionamento dos serviços públicos de saúde, que coincidem com o horário de trabalho. Os homens com ensino superior, apesar do acesso aos planos de saúde, alegam ser descuidados. Todos os entrevistados, entretanto, disseram que sentem dificuldades de expor seus problemas de saúde. ´O sujeito que está doente resiste à dor e coloca outra coisa (por exemplo, o trabalho) como prioridade´, diz o urologista João Luiz Schiavini, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). ´Já o homem que não está doente se recusa a procurar o médico, pois acha que, uma vez que as mulheres se cuidam mais, prevenção não combina com virilidade´, afirma o especialista. Para Schiavini, as campanhas de conscientização sobre doenças que atingem esse público funcionam. ´Quando a Sociedade Brasileira de Urologia fez uma campanha esclarecendo sobre o câncer de próstata, o número de homens nos consultórios médicos aumentou em 10 vezes´, diz ele. A visão do homem como um ser imortal é um equívoco, mas parte deles mesmos. A mulher, que tem ´permissão´ para ficar doente, quer mais é cuidar da integridade do parceiro. ´O papel dela é muito importante. Muitos homens só vão ao médico porque as mulheres empurram. No final das contas, elas podem ser as super-heroínas´, elogia Schiavini.

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