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Dúvida cruel

Diante da diversidade de caminhos profissionais para seguir, alguns colégios investem na orientação vocacional

Por Bia Fugulin
Atualização:

.Pergunte a qualquer jovem que profissão ele quer seguir e, provavelmente, vai ouvir como resposta uma relação de dúvidas. Isso é absolutamente natural, diante das mais de cem possibilidades de profissões que se tornaram uma realidade nos últimos anos: dos tradicionais e consagrados cursos de Medicina, Administração, Direito e Engenharia, aos mais recentes, como Cinema, Moda, Gastronomia e Tecnologia em Jogos Digitais.

 

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Se, por um lado, essa variedade é positiva, por outro, dificulta a escolha. Marisa Urban, diretora executiva da Human Capital Consultores Associados, empresa voltada para soluções estratégicas de Recursos Humanos, diz que a ampla oferta de cursos de nível superior aumenta o risco de uma escolha equivocada, levada por modismo, desconhecimento do mercado e falta de adequação das próprias características a tais profissões. Como consequência, é crescente o número de jovens que iniciam e interrompem os cursos, gerando perda financeira, desperdício de tempo e comprometimento da autoestima. Algumas escolas perceberam o dilema enfrentado pelos alunos e incluíram na programação uma matéria que visa a orientá-los sobre as profissões existentes.

 

 

Foi o que ocorreu no colégio Vértice, que instituiu a orientação vocacional desde a primeira turma do ensino médio, em 1988. Segundo a orientadora vocacional do colégio, Andréa Godinho de Carvalho Lauro, a matéria foi incluída na grade disciplinar porque o Vértice busca investir na formação integral do aluno, e é por meio do trabalho que ele entrará em contato com o mundo real e começará a construir sua própria história.

 

O Colégio Discere Laboratum tem a Oficina de Orientação Profissional. Rosa Maria Lopes Affonso, psicóloga do colégio e responsável pela criação e implantação do projeto, diz que a meta é acompanhar o jovem em questões vivenciadas na família.

 

A orientação vocacional nas escolas, normalmente, se inicia a partir da primeira série do ensino médio, quando o aluno tem entre 14 e 15 anos, e termina somente no final do terceiro ano. Há escolas que já desenvolvem atividades desde quando os alunos têm entre 12 e 13 anos, ou seja, quando ainda estão no oitavo ano do ensino fundamental.

 

A orientadora vocacional Andréa diz que, no Vértice, o primeiro passo é mostrar que a escolha é um processo complexo, que envolve abrir mão de muitas possibilidades em prol de outras. "Inicialmente, para uma escolha mais segura, é preciso refletir a respeito de si mesmo." Isso é feito por meio de técnicas que ajudam o aluno a conhecer melhor sua personalidade, interesses, habilidades e valores.

 

 

AUTOCONHECIMENTO

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Fernando Pires Gonçalves de Campos, 17 anos, aluno do último ano do ensino médio do Colégio Discere Laboratum, sempre foi apaixonado por carros, o que o fez optar por engenharia mecânica. No entanto, percebeu que essa paixão se restringia a um gosto, não sendo suficiente para nortear sua vida. "Após diversas aulas e testes feitos na Oficina de Orientação Profissional, cheguei à conclusão de que o curso de Direito se encaixa em meu perfil. Adoro argumentar, e tenho capacidade de persuasão. Mas ainda temo estar fazendo a escolha errada", comenta. A dúvida a respeito da escolha certa sempre vai rondar o estudante, mas, quando se tem autoconhecimento e informações consistentes a respeito dos cursos e profissões, fica mais fácil enfrentá-la.

 

Antes de participar das atividades de orientação, Bruna Ribeiro Maniscalco, também do colégio Discere Laboratum, queria ser veterinária. Agora, prestes a fazer vestibular, desistiu do curso porque percebeu que não conseguiria ser tão racional ao cuidar dos animais. Escolheu, então, Jornalismo.

 

Para Maíra Andrade de Carvalho, 17 anos, cursando o último ano do ensino médio do colégio Vértice, a orientação tem sido de extrema importância. "Ainda estou na dúvida, mas tudo indica que devo seguir a área de ciências biológicas. Sempre quis fazer Medicina, mas o tempo de formação é longo demais. Hoje penso na possibilidade de prestar vestibular também para Farmácia e até para Nutrição."

 

Na segunda fase da orientação profissional, o foco é o mundo do trabalho, ou seja, o conhecimento das profissões com dados atuais. "É importante que essas informações não sejam direcionadas somente para o reconhecimento de interferências e visões idealizadas ou românticas de determinadas profissões. Devem também ampliar o leque de possibilidades", comenta a orientadora vocacional Andrea, do Vértice.

 

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Gabriela Centenaro Floreano, 17 anos, ex-aluna do Discere Laboratum, comenta que saiu do ensino médio com uma noção sobre valores dos salários, duração e grade curricular dos cursos, mercado de trabalho e as diversas áreas de atuação. "Quando me decidi por Pedagogia, a professora apresentou as áreas de trabalho e percebi que existem outros campos de atuação, além da sala de aula", diz ela, que está no primeiro ano de Pedagogia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

A última etapa da orientação vocacional é, normalmente, o atendimento individualizado. Isso ocorre no terceiro ano. Na ocasião, é discutido com os alunos os cursos e as universidades que são mais propícias aos seus interesses e habilidades. Eles são convidados a visitar instituições de ensino superior, feiras de profissões ou encontros com ex-alunos, iniciativas que visam a aproximá-los o máximo possível da realidade e rotina profissionais.

 

Renato Coelho de Menezes, 18 anos, ex-aluno do Vértice e, atualmente, no primeiro ano de Administração de Empresas na Universidade de São Paulo (USP), comenta que a orientação confirmou o que ele já pretendia fazer. No entanto, no início do ano, já na faculdade, chegou a ter dúvidas se, de fato, havia feito a escolha certa. Por isso, aconselha a todos que participem das visitas às faculdades, empresas, escritórios, para que vivenciem um pouco a rotina desses lugares.

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É comum o jovem, nessa fase, se interessar por diversas ocupações. Por isso, a consultora Marisa Urban salienta que não basta gostar de uma dada profissão. "É fundamental que o jovem conheça suas habilidades, aptidões e traços de personalidade, para avaliar se reúne as características demandadas para o exercício da futura profissão."

 

A orientação vocacional não é garantia de que o jovem vá se dar bem na carreira ou, simplesmente, se identificar com o curso que escolheu. No entanto, é uma maneira de ajudá-lo a fazer essa escolha de acordo com seus traços de personalidade. "Ninguém escolhe uma carreira, mas sim uma área, um curso. Carreira é algo que se constrói, e muitas outras escolhas serão necessárias para isso. Escolher o curso é só o primeiro passo e, se for dado na direção certa, a chance de ser bem sucedido e feliz aumenta consideravelmente", afirma a orientadora vocacional Andrea.

 

Esse parece ser o caso de Beatriz Oliveira Amorim, 20 anos, ex-aluna do colégio Vértice. No terceiro ano de Fisioterapia na Unifesp, está feliz da vida com a escolha. "Nunca havia pensado em fazer Fisioterapia, mas, a partir do conhecimento do que era a profissão, percebi que estava de acordo com o que queria."

 

Por fim, a consultora Marisa Urban destaca que o importante é não perder de vista que a profissão escolhida deve dar prazer ao jovem, para que exista motivação contínua, fazendo com que ele se torne cada vez melhor no que faz. Isso é de extrema importância no mercado de trabalho, onde há uma verdadeira guerra corporativa pela busca de talentos.

 

"Vários dos nossos clientes mantêm programas de trainees e, anualmente, vão ao mercado para identificar os jovens talentosos e sem experiência, que serão contratados e formados para serem seus futuros executivos", revela. "Nesses processos de seleção, a experiência profissional não é o grande diferencial. As empresas avaliam a qualidade da formação, as aptidões e habilidades dos candidatos, as características de personalidade e as motivações e valores individuais."

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