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Dengue mata seis vezes mais no Brasil do que o tolerado pela OMS

Nos primeiros quatro meses do ano, 6% dos doentes morreram; padrão internacional adota o máximo de 1%

Por Ligia Formenti
Atualização:

A taxa de letalidade da dengue no País é seis vezes maior do que a considerada aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Até 30 de abril, 87 pacientes com dengue hemorrágica ou com complicações da doença morreram - 6% do total. Pelos padrões da OMS, o máximo seria 1%. "É um índice muito alto, que revela ainda falhas importantes na assistência aos doentes", diz o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho. Das 87 mortes confirmadas pela doença, a maioria foi registrada na Bahia (49) e em Mato Grosso (15). Fenômeno que se repete quando se analisa a distribuição de casos no País. Até agora, oito Estados respondem por 78% dos casos. Para Coelho, a epidemia em bloco registrada neste ano revela a diferença com que Estados e municípios lidaram com prevenção e capacitação da rede para o atendimento. Onde o trabalho foi bem feito, o número de casos foi menor. E nas áreas onde há assistência mais estruturada, mortes são evitadas. "Neste ano, houve o agravante das eleições municipais. Em áreas onde prefeitos não fizeram sucessor, a prevenção foi relaxada, funcionários foram dispensados", afirmou. Em números absolutos, a quantidade de casos caiu 49% comparada com o mesmo período de 2008 - passando de 440.360 para 226.513. "Há, portanto, locais onde o trabalho falhou e é preciso agora concentrar esforços", diz Coelho. O Ministério da Saúde liberou R$ 1,08 bilhão para trabalhos de prevenção da doença, como distribuição de nebulizador e pulverizador para combater os criadouros do mosquito. Mas o combate à doença na Bahia, um dos Estados com mais casos, tem um complicador: em três das quatro cidades campeãs de registros, a maior concentração de criadouros está nos depósitos de água. Um problema relacionado à deficiência de infraestrutura, não ao comportamento da população. Rio Branco (AC), Várzea Grande (MT) e Campo Grande (MS) apresentam a mesma vulnerabilidade. "Para esses locais, é preciso reforçar o trabalho com larvicida, providenciar a compra de capas para caixa d?água. Algo que o ministério está colaborando", contou. O coordenador garante que a concentração de mortes está diretamente associada à deficiência no atendimento, sobretudo na atenção básica. "Quando a hidratação é feita rapidamente, há redução significativa do risco de o paciente piorar", afirma Coelho. Na Bahia, tendas de reidratação e hospitais de campanha foram montados, a exemplo do que ocorreu na epidemia de dengue registrada no Rio no verão de 2008. Em Mato Grosso, no entanto, tal medida não foi adotada. De acordo com Coelho, o motivo foi a rede de atenção básica ter sido considerada, no primeiro momento, bem estruturada. "A concentração de casos traz outro recado: quando o serviço é bem feito, é perfeitamente possível evitar as mortes por dengue", contou o coordenador. Como exemplo, ele citou experiências registradas neste ano em Belo Horizonte, que, apesar do grande número de casos da doença, não tem óbitos confirmados. "Material para capacitação de profissionais brasileiros é considerado um dos melhores do mundo. O que é preciso é colocá-lo em prática." SÃO PAULO Os campeões de dengue no País também foram responsáveis por "exportar" 36,5% de todas as 345 contaminações registradas na capital paulista. Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, desde o início do ano, 165 paulistanos adoeceram fora da cidade, sendo que 126 deles foram picados pelo mosquito Aedes Aegypti nos locais que lideram as estatísticas nacionais. Outros 180 moradores de São Paulo contraíram a doença no próprio município, chamados de caso autóctones. A Bahia foi o Estado em que mais paulistanos foram infectados: 100 casos. Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 17 registros, seguido por Espírito Santo, com 5.

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