De igual para igual

Meninos e meninas: diferenças sem desigualdade

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Por Redação
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Na mochila dela, apito e maquiagem. A bandeirinha Ana Paula Oliveira faz parte de uma estatística impressionante: nos últimos 20 anos, o crescimento das mulheres no mercado de trabalho foi de 111%. Hoje, o feminino aparece em profissões que já foram exclusivamente deles: elas dirigem ônibus, entregam pizza, assumem cargos políticos e ditam as regras nos campos de futebol. O atual quadro de árbitros da Fifa, por exemplo, tem duas árbitras e quatro assistentes. A guerra dos sexos teria enfim terminado? Ana Paula garante que ser cor-de-rosa dentro de campo ainda é motivo de piadinhas. "O preconceito existe, sim. Os homens dizem: ‘você não agüenta’, ‘não vai conseguir fazer´, ‘não é capaz’. Lamentavelmente, ainda vivemos em um país machista", desabafou a garota em entrevista ao Fantástico, no último domingo. Também ali, fez valer seu lado diva: anunciou que vai, sim, posar nua para a Playboy. O ensaio da bandeirinha, que chega às bancas em julho, levantou nova polêmica em torno dela. Ana Paula - que está afastada dos jogos oficiais por causa de erros cometidos durante a semifinal da Copa do Brasil - agora teme ser penalizada por mostrar as curvas. O diretor do São Paulo, Marco Aurélio Cunha, declarou que ela "deve seguir outro caminho, começar a trabalhar na mídia". Para a professora Marília Carvalho, doutora em sociologia pela USP e pesquisadora da relação entre os gêneros há 18 anos, a pressão sofrida por Ana Paula é reflexo de um processo que envolve a sociedade inteira. "A mulher precisa ser duas vezes melhor que o homem para ser bem aceita em determinadas profissões. Isso gera um preconceito ao contrário: homens têm receio de ingressar em atividades consideradas femininas, como enfermagem e magistério", diz. Para Marília, as diferenças entre homens e mulheres começam no berço. "Até antes de nascer, meninos e meninas recebem tratamentos diferentes. Por que rosa e azul? Isso é arbitrário. Por que só a menina tem de ajudar nos serviços de casa e o menino pode ter mais liberdade? Os dois devem ser responsabilizados pela vida coletiva, os dois devem ser estimulados a tudo: eles têm direito à poesia; elas, ao futebol." A pesquisadora defende que a harmonia entre gêneros depende não só da família, mas também da mídia e da escola. "O Faustão, ao mostrar moços requebrando na Dança dos Famosos, enfraquece o estereótipo do machão. A escola, contudo, ainda é um lugar dos mais conservadores. Já acompanhei meninas que tinham de implorar para jogar futebol nos cinco minutos finais da aula." No Pueri Domus, as meninas já puseram o pezinho no campo. Desde 2006, os jogos são mistos. "Juntos, meninos e meninas aprendem a respeitar limites. No ensino médio há mais resistência porque eles já chegam com valores enraizados. Isso deve começar no ensino fundamental", diz o professor de educação física Dantival Jacyobá Filho. Ele manda um recado para os colegas: "A sociedade já não suporta essa separação. É hora de misturar para somar".

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