Crianças: fumo passivo afeta 24%

Pesquisa testou níveis de nicotina em pacientes de até 5 anos de idade

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Por Fernanda Aranda
Atualização:

Um menino, de apenas 3 anos de idade, com nível de nicotina no organismo 200 vezes maior do que o recomendado para um adulto. Assim como ele, 24% das crianças entre 0 e 5 anos avaliadas no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP) apresentavam sinais no organismo típicos de um fumante. Nenhuma delas precisou ser usuária direta do tabagismo. A pesquisa, realizada com 78 garotos, mapeou os efeitos do fumo passivo na infância. "As análises foram feitas por meio da dosagem de cotinina (reação da nicotina) na urina das crianças", explica Jorge Lotufo, pneumologista pediátrico do Hospital Sírio-Libanês e autor do estudo. "O ideal seria ter concentração zero, mas em um quarto delas o índice foi maior. Em um dos meninos, que morava em uma casa com três fumantes, a marca chegou a 272,6 mg/ml", diz Lotufo, ao ressaltar que a concentração amplia em até 5 vezes a chance de ocorrência de morte súbita nas crianças. Os exames de urina foram a segunda etapa do estudo. Na primeira, Lotufo avaliou mil crianças de uma escola particular da capital e atestou que 51% eram fumantes passivos. Além das conseqüências físicas, a psicóloga Valéria di Jorge, responsável pelo Programa Antitabagismo do Sírio, ressalta os efeitos no comportamento das crianças. "Até os 6 anos, eles não entendem os malefícios do cigarro, mas sabem que é errado e isso pode culminar em um distanciamento dos pais", avalia. Na adolescência, o risco é a "mensagem subliminar". "O garoto observa que o pai procura o cigarro para aliviar a tensão. A mãe fuma quando nervosa. Ele acaba achando que fumar é bom." Segundo os especialistas, o primeiro contato direto com o cigarro no País acontece aos 10 anos de idade. Levantamento do Hospital do Coração, feito com 100 fumantes adultos, identificou que 75% deles adquiram o vício antes dos 15 anos de idade. Os números do HCor complementam outra pesquisa, feita pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Em 4.107 entrevistas com estudantes de escolas públicas de São Paulo, 10,4% deles afirmaram ser dependentes do tabaco. Para Luizemir Lago, diretora do Centro Estadual de Referência e Tratamento de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), as estatísticas só reforçam que as campanhas de combate ao fumo precisam ser focadas nas crianças e adolescentes.

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