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Cientistas revelam como HIV se esconde

Vírus latente é imune a antirretroviral; estudo dá pista para ''tirá-lo da toca''

Por Alexandre Gonçalves
Atualização:

Pesquisadores da Universidade de Sevilha, na Espanha, desvendaram o mecanismo que faz com que o HIV permaneça adormecido em algumas células. "Estudos anteriores mostraram que a maior parte das informações genéticas do vírus fica armazenada em regiões ativas dos cromossomos humanos", explica Sebastián Chávez, coautor do trabalho. "Este era o paradoxo difícil de explicar: como o vírus permanece inativo se está escondido em uma região ativa do DNA humano?" O DNA funciona como uma biblioteca com receitas para a produção dos componentes essenciais à manutenção da vida. Quando a célula deseja produzir uma determinada substância, recorre à estante e abre os livros - na realidade, os genes - que contêm as informações necessárias. Algumas vezes, a célula consulta livros por engano, mas há proteínas - conhecidas pelos cientistas como remodeladores de cromatina - que os fecham e devolvem à estante antes de a célula sintetizar a substância que descrevem. Os cientistas inseriram trechos das informações genéticas virais em células de levedura de cerveja. Logo depois, inibiram alguns remodeladores de cromatina. A célula começou a produzir substâncias próprias da estrutura dos vírus, pois os trechos do DNA com informação viral permaneciam abertos depois de consultados uma vez. Repetiram, então, a experiência com células de defesa humanas infectadas pelo HIV adormecido. Sem os remodeladores de cromatina Spt6 e Chd1, o vírus despertou e começou a se reproduzir. Enquanto o HIV está inativo, permanece imune aos antirretrovirais. Uma pesquisa publicada em outubro na revista científica PNAS já havia mostrado que basta um único vírus sobreviver e despertar para a infecção ressurgir. Por isso, pessoas que vivem com o HIV não podem abandonar a medicação. "Ainda estamos muito longe de uma terapia", afirma Sánchez. Ele explica que não bastaria usar a mesma técnica para tornar todos os vírus ativos e, portanto, vulneráveis aos antirretrovirais. "Uma terapia desse tipo seria tóxica, pois outros processos celulares precisam dos remodeladores de cromatina." Mesmo assim, ele considera a descoberta importante para a compreensão do metabolismo do HIV. O trabalho foi publicado na PloS Genetics.

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