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Cerca de 7 mil bebês foram gerados na clínica

Técnicas utilizadas na reprodução assistida geram polêmica e discussão ética entre médicos

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Por Redação
Atualização:

Conhecido por ter gerado filhos de celebridades como Pelé, Gugu Liberato, Tom Cavalcante e Luiza Tomé, e de políticos, como Luiz Estevão e Renan Calheiros, além de cerca de 7 mil bebês, Roger Abdelmassih apresenta sua clínica de reprodução assistida como a que tem os melhores resultados do Brasil. Enfatiza que ninguém tem o mesmo sucesso que ele nessa área e frequentemente fala de si mesmo na terceira pessoa: "O Roger, quando compra um equipamento, pensa se isso vai melhorar o resultado." A fama e os resultados acima da média que Abdelmassih divulga que obtém dividem a classe médica. Por corporativismo ou ética, alguns de seus pares se recusaram a comentar publicamente a carreira do colega. Aqueles que aceitaram falam do amigo Roger, obstinado e competente, ou do médico Roger, que, em nome dos bons índices de bebês nascidos, passa por cima de alguns princípios éticos e usa métodos contestáveis. No início da década de 1990, Abdelmassih mandou sua filha mais velha, a embriologista Soraya, para a Bélgica, para estudar uma técnica nova, chamada ICSI (injeção intracitoplasmática). A novidade era injetar o espermatozoide mais fraco direto no citoplasma do óvulo, aumentando as chances de gravidez quando a dificuldade do casal estava no homem. O ICSI causou muita polêmica no Brasil. "Meia dúzia de homens ricos, com espermatozoides fracos, podiam tentar a técnica. Isso é fragilizar a espécie humana, bagunçar a evolução", diz Volnei Garrafa, professor de bioética da Universidade de Brasília (UnB), que critica duramente a falta de uma legislação mais clara para esse setor no Brasil. Abdelmassih começou a adotar o ICSI inclusive quando o problema era na mulher, causando ainda mais controvérsia. "Qual é o mal? Assim formamos mais e melhores embriões e hoje todo mundo faz. Isso só mostra que eu era mais avançado", defende-se. A polêmica com o uso ostensivo do ICSI foi apenas uma das causadas por seus métodos. Quando Abdelmassih passou a adotar a biópsia dos embriões para determinar o sexo do bebê e se aquela criança teria alguma doença, as críticas ficaram mais pesadas, chegando a insinuações de que o médico praticaria eugenia (seleção genética para modificar as características de uma população). Questionado, ele responde com perguntas: "Você não evitaria um filho com Síndrome de Down?" ou "Como eu posso dizer não a um paciente árabe ou judeu que tem quatro filhas e não aguenta mais tentar ter um filho homem?". A sexagem (técnica para determinar o sexo do feto) é condenada pelo Conselho Federal de Medicina e Abdelmassih diz que hoje age segundo a norma, mas gostaria que o assunto fosse discutido. Mas as insinuações mais graves que circulam no meio médico e entre ex-pacientes são as de que Roger Abdelmassih faria em sua clínica "manipulação genética", traduzindo, usaria óvulos de mulheres mais jovens em pacientes com idade mais avançada ou espermatozoides de doadores sem o conhecimento do casal. "O que eu faço, e é permitido, é pegar um pouco do citoplasma de um óvulo jovem e jogar em um mais velho para tentar melhorar as chances da mulher de mais idade. Não há transferência do núcleo do óvulo. O FDA (agência americana) mandou parar com essa história, mas vários outros centros do mundo continuaram e eu também continuei, porque não existe uma proibição aqui", explica-se o médico. Abdelmassih garante que o casal sempre sabe quando esse procedimento é adotado e tanto marido quanto mulher são obrigados a assinar documentos de autorização. Conforme fala das acusações que sofre, Abdelmassih vai ficando ofegante, eleva o tom da voz, ri das críticas. No ponto mais delicado desse tema - insinuações de que ele já teria usado o próprio espermatozoide em algumas fertilizações -, o médico faz uma revelação e banca uma promessa. "O Roger tem uma deficiência espermática. Acontece que eu casei com uma mulher superfértil, por isso tive filhos com ela. Tem gente que fala que eu usei o meu espermatozoide em fertilizações. Manda fazer o DNA. Eu pago." E completa: "Se houver um caso que tenha sêmen ou óvulo que não seja do marido ou da mulher e que não tenha a concordância do casal, eu pago o que quiser. E se houver um caso com o meu espermatozoide, dou minha vida. Eu mesmo me condeno. Me entrego e vou preso na hora."

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