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Casos de dengue aumentam 45%

Até julho, foram 439 mil ocorrências; Estados mais críticos são Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio de Janeiro

Por Ligia Formenti e BRASÍLIA
Atualização:

O número de casos de dengue no Brasil aumentou 45% nos primeiros sete meses deste ano, quando comparados com o mesmo período de 2006. Até julho, foram confirmados 438.949 infecções pelo vírus - 442.757 até meados de agosto. Em 2002, pior ano da doença no País, foram registrados quase 794 mil casos ao longo de doze meses. Mais números da dengue O número de mortes provocadas por dengue não cresceu no mesmo ritmo. Até meados de agosto deste ano, foram contabilizadas 98. Em 2006, foram registrados 61 óbitos. "Mas todas essas mortes poderiam ter sido evitadas", admite Gerson Pena, titular da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. Três Estados contribuíram para o expressivo aumento neste ano. Mato Grosso do Sul apresentou 72.183 casos, ante 12.813 em 2006. Em seguida, vem o Rio de Janeiro, com 46.857 pacientes com infecção confirmada - um aumento considerável diante dos 28.676 apresentados ano passado. E Paraná, que até agora registrou 43.691 pacientes, número dez vezes maior que o do ano passado: 4.300 doentes. O Estado de São Paulo também registrou um número recorde de infecções. Do início do ano até o agosto, 62,2 mil ficaram doentes no Estado e 16 morreram. O recorde anterior foi em 2001, quando houve 51,7 mil casos de dengue. O aumento significativo não é surpresa. Em 2006, um levantamento rápido feito para identificar áreas onde há criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, já apontava um aumento das áreas de risco. Tal tendência se confirmou em muitos municípios. Apesar dessa constatação, Pena não quis atribuir o aumento do número de casos a uma prevenção inadequada de gestores. "O crescimento é fruto de uma conjunção de fatores", disse o diretor de gestão da SVS, Fabiano Pimenta. Entre eles, a dificuldade da população em mudar seus hábitos. Pena citou como exemplo outras doenças, como aids e câncer de pele, em que a população demorou para incorporar o uso de camisinhas nas relações sexuais e, no caso do câncer, o filtro solar antes da exposição ao sol. "Com a dengue não é diferente. A população sabe como evitar o mosquito, mas 55% reconhecem que seu vizinho não adota medidas necessárias", afirmou, citando uma pesquisa recém-concluída pelo ministério sobre o nível de informação da população sobre a doença. O secretário de Vigilância em Saúde observou ainda que em 25% das casas agentes comunitários não conseguiram entrar para fazer vistorias de criadouros. "Mas não é só por motivos de segurança. Em muitos casos, a cidade é dormitório, as pessoas só chegam em casa à noite", completou. Pimenta admite que, em locais onde o gestor fez uma mudança de abordagem - passou a fazer visitas aos domingos ou em horários onde as pessoas já tivessem chegado do trabalho, a eficácia das visitas foi mais significativa. O auge dos surtos ocorreu em fevereiro. Integrantes do ministério afirmam, no entanto, que há risco de o problema recrudescer, logo que o período de chuvas volte. Por isso, em setembro uma ação de prevenção novamente será desencadeada. SUSPENSÃO DE REPASSE Embora a Secretaria de Vigilância em Saúde não tivesse os números disponíveis ontem, Pimenta informou que, nos três Estados onde houve uma explosão de casos - Rio, Paraná e Mato Grosso -, uma boa parte dos municípios teve a suspensão do repasse dos recursos para serem usados em ações de prevenção contra dengue. Isso ocorre quando os gestores não gastaram o dinheiro no combate à dengue nos seis meses anteriores à medida. "Antes do bloqueio, uma carta é enviada ao município para que se justifique o dinheiro parado", afirmou Pimenta. Desde que a dengue ressurgiu no País, em 1986, campanhas são realizadas todos os anos para tentar reduzir o número de casos. A diminuição das ocorrências, admitiu Pimenta, ainda está bastante atrelada ao clima. Nos anos em que chove mais, é maior o número de casos. "Exemplos como o do Rio, durante os Jogos Pan-Americanos, mostram que isso pode ser diferente", disse o diretor. Com a campanha de ação integrada de agentes de saúde, nenhum caso foi registrado. "Houve o empenho da população", emendou Pena. O secretário admite, ainda, ser necessário mudar a estratégia de ação para alertar a população sobre a doença. Para isso, o Ministério da Saúde estuda fazer campanhas regionalizadas - pois em alguns locais, a época da chuva difere das regiões do Sudeste. O período das peças também seria reduzido. Com isso, haveria recursos para aumentar o período de veiculação.

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