Calçada é ponto de peregrinação

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Por Redação
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Velas, urso de pelúcia cor de rosa, flores, balões com a estampa da bandeira americana, uma sapatilha de balé. Desde a tarde de quinta-feira, quando foi anunciada a morte de Michael Jackson, despejam-se oferendas sobre a pequena estrela no chão onde está escrito o nome do cantor, na Calçada da Fama de Hollywood. A homenagem com o nome do Rei do Pop está localizada na frente da entrada principal do Pavilhão Chinês. Dezenas de policiais de preto organizam a fila de milhares de fãs, exibicionistas e curiosos que se forma noite e dia para prestar tributo ao ídolo. Todas as emissoras de TV e equipes de reportagem americanas estão no local. A pequena estrela da Calçada acabou se tornando o principal local para onde convergem os fãs do cantor. O pequeno gênio angustiado, que passou 39 de seus 50 anos de vida sendo observado pelo mundo todo, não teria como reclamar dessa animada peregrinação. Todo tipo de gente está na fila: garotas que choram solitárias, grupos que chegam cantando seus sucessos, exibicionistas que entram diversas vezes na fila para se mostrar para as TVs, turistas com câmeras, entre outros. "Eu já o ouvia quando tinha 13, 14 anos. Fez com que o mundo valorizasse o amor para além do sexo, da religião", diz o colombiano Alfredo Garcia, que segura um cartaz na fila em nome de "milhões de colombianos" fãs de Michael. Os excêntricos se sucedem. Gumdroplou parece um figurante do filme A Guerra do Fogo, com uma peruca medonha e maquiagem negra nos olhos. Ele não diz o nome real. "Estou aqui para dizer ao mundo que Michael Jackson é o Messias da música", discursa. Logo em seguida, como se imitasse também o comportamento ambíguo do ídolo, começou a fazer um reclame comercial. "Se você encontrar Howard Stern e Whitney Houston, pode dizer que estou à procura deles?". Talia Leonore, de 23 anos, chorava convulsivamente enquanto se aproximava do ponto onde as flores eram depositadas. Um repórter lhe perguntou se chorava porque levava Michael no coração. "Não só no coração, levo no corpo também". Como assim? "Tenho uma tattoo". Pode mostrar? "É na nádega", ela diz, e levanta o vestido sem cerimônia, para delírio dos fotógrafos de serviço. Talia agora virou uma estrela e conta que gastou US$ 300 para fazer a tatuagem. Quase no fim da fila, três pastores da organização religiosa Calvary Church se revezavam na pregação contra o ideário de pecador de Michael. Um deles, com um alto falante na mão, desatava o berreiro. "Não há outro Deus. Michael foi um pecador e vai ser julgado." O pregador é vaiado. Um fã quase esfrega na cara dele uma camiseta preta com dizeres homenageando Michael. A polícia intervém: os pregadores perdem o alto falante e o fã radical leva um sabão e descobre que tem de respeitar o direito de livre expressão. "Lendas não morrem. Você jamais nos deixará. Nesse belo dia, celebramos a vida, o amor, a música, celebramos esse Planeta Terra. Sim, nós somos o mundo", diz o cartaz que o garoto de cabelo moicano deixa em cima do ursinho cor de rosa.

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